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A vaidade é, definitivamente, meu pecado favorito!

O que não podemos esquecer é que o que aparece nas redes não é a vida real da pessoa ou o ethos da marca, mas sim o que elas querem que você veja

Al Pacino no filme "Advogado do diabo" (Reprodução/Reprodução)
Al Pacino no filme "Advogado do diabo" (Reprodução/Reprodução)
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Frederico Pompeu

Publicado em 23 de novembro de 2020 às, 11h13.

Última atualização em 23 de novembro de 2020 às, 12h04.

"A vaidade é, definitivamente, meu pecado favorito!". Essas são as últimas palavras proferidas pelo magnífico Al Pacino, que interpreta o demônio em pessoa, na cena final de “Advogado do Diabo”. O filme é de 1997, mas é um daqueles longas-metragens marcantes, que te fazem sair pensativos depois de assisti-lo. Zapeando neste fim de semana, dei de cara novamente com esta obra de arte, e não pude deixar de revê-lo e de refletir sobre algumas de suas mensagens.

Mesmo depois de 20 anos do seu lançamento, o filme segue surpreendentemente atual. Mas, afinal, o que é vaidade? Segundo o dicionário, a vaidade pode ser definida como a “valorização que se atribui à própria aparência, ou quaisquer outras qualidades físicas ou intelectuais, fundamentada no desejo de que tais qualidades sejam reconhecidas ou admiradas pelos outros”. E se nós pudéssemos medir esse reconhecimento? Mais do que isso, e se todas as pessoas também pudessem visualizar o quanto aquela qualidade ou aquela conquista foi admirada pelos outros? Não sei o que vocês estão pensando, mas pra mim só me vem à cabeça todo o crescimento e o poder das redes sociais.

Nas redes sociais todo mundo é bonito, bem-sucedido e feliz. As pessoas e marcas têm a oportunidade de criar a imagem que quiserem, seja ela verdadeira ou não. O que não podemos esquecer é que o que aparece ali não é a vida real da pessoa ou o ethos da marca, mas sim o que elas querem que você veja. Quanto mais likes, seguidores e comentários, mais importantes e respeitadas elas se sentem. O resultado disso são marcas e pessoas mais compelidas a fazer novos posts. Tudo isso vai gerando uma quantidade incontável de dados. Falei um pouco disso em uma de minhas colunas aqui na EXAME.

Os dados de um perfil de uma rede social, incluindo o número de visualizações de página, de visitantes e de seguidores poderiam ser definidos como Indicadores de Vaidade. Algumas pessoas poderiam achar esses indicadores de supérfluos, dizendo que seu objetivo seria apenas inflar o nosso ego ou dar um boost numa marca. OK, pode até ser, mas junto dessa métrica, temos outros indicadores que tem muito valor: o número de pessoas que interagem com esse perfil, as taxas de conversão, e a de intenção dessas pessoas em comprar ou não aquele produto ou serviço. Na falta de um nome melhor, chamaremos aqui de Indicadores de Resposta.

Se compararmos esses dois indicadores, obviamente, o Indicador de Resposta é bem mais relevante. Ele nos traz inputs não só sobre os gostos, mas também sobre os gatilhos que levam as pessoas a tomarem uma determinada decisão. Seja ela uma decisão de compra ou, tão importante quanto, a decisão de abandonar uma página. Porém, não podemos menosprezar o Indicador de Vaidade. Ele também tem o seu próprio charme e, bem ou mal, ajuda na amplificação da resposta dos seguidores. Não adianta negar, o ser humano tem, em sua maioria, um comportamento de manada. Se muita gente segue um determinado perfil, outras pessoas acabam seguindo também, porque se “tanta gente segue é porque deve ser legal”. É inegável que hoje tudo é baseado em dados, especialmente quando falamos de redes sociais. E as redes sociais são desenvolvidas para alimentar o seu ego.

O Ego é seu Inimigo

Voltando ao tema da vaidade, o livro “O Ego é seu Inimigo”, escrito pelo Ryan Holiday, também tem uma abordagem bastante interessante. Ele afirma o que pessoalmente já vi acontecer várias vezes no mundo corporativo: que o ego pode arruinar carreiras e até empresas. Ele pode colocar a emoção, na frente da razão, de forma perigosa.

O sucesso pode ser inebriante. Pode dar a sensação de que você sabe tudo sobre aquele tema, fazendo esquecer que devemos ser eternos aprendizes. Como o filósofo grego Epicteto costumava dizer: “É impossível para um homem aprender aquilo que ele acha que já sabe”. A pretensão de achar que sabemos tudo nos impede de melhorar. Ryan sugere que você se mantenha humilde e o incentiva a aprender com os melhores em sua área. Ele nos estimula a nos vincularmos a pessoas e organizações que já são bem-sucedidas para, junto com eles, podermos avançar simultaneamente.

A melhor coisa que temos em nós mesmos é o bom senso. Temos que treiná-lo constantemente para nos mantermos humildes e capazes de avaliar concretamente quais são nossas fortalezas e nossas fraquezas. Certamente, seria mais prazeroso focarmos apenas em nossos pontos fortes, mas isso só nos levaria à arrogância, além de inibir o nosso crescimento. Essa capacidade de parar e se olhar a distância é uma espécie de antídoto natural ao ego. Não podemos ficar embevecidos com as vitórias, e muito menos deprimidos com as derrotas.

Por isso, foque nos seus objetivos e não nas opiniões dos outros. Dedique-se dia e noite para entregar suas metas. Não importa o que os outros pensam de você, mas sim o que você está construindo e como está avançando. E se for para ouvir a opinião de alguém, que seja a frase que deixou famoso um personagem que tem vários seguidores e likes no Instagram, apesar de parecer não se importar muito com isso. O popular @tioricco deixa explícito, em letras maiúsculas, já na descrição do seu perfil: “MUITO RISCO, POUCO EGO”!