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O impacto da diferença entre salário digno e salário justo na sociedade

Diante de um contexto onde o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, é importante ter um plano para aliar lucro com um desenvolvimento sustentável

Salário (We Are/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 25 de maio de 2022 às 18h21.

As empresas têm um papel fundamental no desenvolvimento econômico e social de um país, mas passou o tempo em que apenas oferecer emprego é suficiente como impacto social. Diante de um contexto onde o Brasil figura entre os 10 países com mais desigualdade do mundo, é importante ter um plano de ações concretas para aliar o lucro - essencial às atividades empresariais - aos esforços mundiais para atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável.

Com a reforma trabalhista em 2017, os direitos da população assalariada ficaram limitados. E, ainda assim, nos últimos anos vimos o desemprego atingir recordes lamentáveis. De acordo com o IBGE, no primeiro trimestre de 2022 o cenário foi de 11,1% da população desempregada e 116,8 milhões convivendo em algum nível com a insegurança alimentar - segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Pessan).

Com um cenário econômico desfavorável e com inflação alta, além da ausência de reajustes que refletem esses índices, é a primeira vez desde o Plano Real que o salário mínimo sofre perda de poder de compra. Calcula-se que o salário mínimo no Brasil vai perder 1,7% no poder de compra, saindo de R$ 1.213,84 para R$ 1.193,37 entre dezembro de 2018 e dezembro de 2022, descontada a inflação.

Vale a reflexão se você que está lendo conseguiria ter o mínimo de qualidade de vida vivendo com essa renda mensal. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) apresenta, na Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, a comparação entre o valor do Salário Mínimo Nominal e o Salário Mínimo Necessário para cada mês, desde 1994. Em abril de 2022, o salário mínimo necessário está avaliado em R$ 6.754,33, tendo em vista o sustento de uma família com 4 pessoas.

Infelizmente, essa renda está longe da realidade da população brasileira. Ainda assim, precisamos falar sobre salário digno. Embora não definido por lei, o salário digno é uma referência para quem emprega, e para quem trabalha poder avaliar se o valor de determinada vaga é suficiente para cobrir adequadamente suas necessidades básicas. Assim, a remuneração suficiente deveria prever custos com alimentação caseira, cuidado de crianças, saúde (seguro e medicamentos), habitação, transporte, outras necessidades (ex: telefone, internet, roupas etc), engajamento civil (ex: estudos, livros, hobbies, pets etc) e impostos.

Para uma empresa garantir um salário digno não deve apenas seguir a faixa salarial do mercado, é preciso se comprometer com um estudo de valores referência para cobrir cada uma dessas necessidades, levando em conta também a localidade, que influencia bastante no custo de vida. Além disso, para considerar cargo, experiência e afins, a empresa pode se apoiar em um conjunto de instrumentos, políticas e procedimentos chamados de Sistema de Remuneração. Outro ponto importante é prezar pela igualdade salarial entre homens e mulheres, garantida pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 8 é “promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos”. Ainda estamos longe dessa meta, mas o Movimento Salário Digno foi lançado pelo Rede Brasil do Pacto Global da ONU com o objetivo de, até 2030, promover o engajamento de toda a cadeia de suprimentos para desenvolver metas de salário digno e garantir 100% de salário digno para funcionários e funcionárias, incluindo operações, pessoas contratadas e terceirizadas.

Esse movimento tem uma coalizão para fazer estudos regionais e chegar a um valor que corresponda à renda justa. Esse é um aspecto, atualmente, voluntário para as empresas. No entanto, no processo de Certificação B, por exemplo, olhamos para esse fator  também.

É comum que o quadro de funcionários e especialistas seja bem remunerado dentro de grandes empresas, mas, quando olhamos para o salário de seus prestadores de serviço, notamos que a desigualdade salarial não está permitindo a qualidade de vida que seres humanos merecem num contexto de tanta abundância de bens e serviços.

Dentro das organizações alinhadas aos pilares do Capitalismo Consciente, os gaps salariais merecem atenção redobrada, afinal um negócio é bom porque cria valor e nobre pois tira as pessoas da pobreza gerando prosperidade em suas vidas.

As empresas precisam cada vez mais liderar essa pauta de garantia do direito ao salário digno não só dentro do seu quadro, mas também influenciando sua cadeira de fornecedores. Esperar determinações por legislação para agir não vai nos ajudar a reduzir as desigualdades sociais e cumprir uma agenda sustentável de crescimento econômico com a rapidez necessária. Nesse contexto, a reflexão que o Sistema B e o Capitalismo Consciente querem propor é sobre o real cuidado com as pessoas, afinal, saúde financeira e empoderamento econômico são essenciais para qualidade de vida das pessoas no mundo atual.

Para deslanchar essa agenda, é preciso debater sobre o tema, engajar a alta liderança e stakeholders, capacitar as equipes e garantir o monitoramento e compartilhamento de boas práticas. Empresas B são incentivadas a garantirem para 100% de funcionários e funcionárias esse direito, a Natura & Co, por exemplo, compartilha da ambição de englobar também fornecedores e fornecedoras.

Além de oferecer reconhecimento de maneira justa para as pessoas, o salário digno melhora a retenção, o engajamento e o desenvolvimento. O salário mínimo está longe de ser justo, as faixas salariais arbitrárias e as contratações informais também. A redução de direitos trabalhistas agrava o cenário brasileiro de instabilidade econômica, onde a maioria das pessoas vive preocupada com a refeição seguinte. Que tipo de futuro essa sociedade conseguirá criar? A desigualdade social é um reflexo do desequilíbrio econômico que vivemos até aqui.Para um mundo mais justo, quem acumula riquezas precisa repensar o que oferece em troca da dedicação de quem possibilita isso no dia a dia. Refletir sobre salário digno é essencial para a humanização das empresas.

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As empresas têm um papel fundamental no desenvolvimento econômico e social de um país, mas passou o tempo em que apenas oferecer emprego é suficiente como impacto social. Diante de um contexto onde o Brasil figura entre os 10 países com mais desigualdade do mundo, é importante ter um plano de ações concretas para aliar o lucro - essencial às atividades empresariais - aos esforços mundiais para atingir os objetivos de desenvolvimento sustentável.

Com a reforma trabalhista em 2017, os direitos da população assalariada ficaram limitados. E, ainda assim, nos últimos anos vimos o desemprego atingir recordes lamentáveis. De acordo com o IBGE, no primeiro trimestre de 2022 o cenário foi de 11,1% da população desempregada e 116,8 milhões convivendo em algum nível com a insegurança alimentar - segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Pessan).

Com um cenário econômico desfavorável e com inflação alta, além da ausência de reajustes que refletem esses índices, é a primeira vez desde o Plano Real que o salário mínimo sofre perda de poder de compra. Calcula-se que o salário mínimo no Brasil vai perder 1,7% no poder de compra, saindo de R$ 1.213,84 para R$ 1.193,37 entre dezembro de 2018 e dezembro de 2022, descontada a inflação.

Vale a reflexão se você que está lendo conseguiria ter o mínimo de qualidade de vida vivendo com essa renda mensal. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) apresenta, na Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, a comparação entre o valor do Salário Mínimo Nominal e o Salário Mínimo Necessário para cada mês, desde 1994. Em abril de 2022, o salário mínimo necessário está avaliado em R$ 6.754,33, tendo em vista o sustento de uma família com 4 pessoas.

Infelizmente, essa renda está longe da realidade da população brasileira. Ainda assim, precisamos falar sobre salário digno. Embora não definido por lei, o salário digno é uma referência para quem emprega, e para quem trabalha poder avaliar se o valor de determinada vaga é suficiente para cobrir adequadamente suas necessidades básicas. Assim, a remuneração suficiente deveria prever custos com alimentação caseira, cuidado de crianças, saúde (seguro e medicamentos), habitação, transporte, outras necessidades (ex: telefone, internet, roupas etc), engajamento civil (ex: estudos, livros, hobbies, pets etc) e impostos.

Para uma empresa garantir um salário digno não deve apenas seguir a faixa salarial do mercado, é preciso se comprometer com um estudo de valores referência para cobrir cada uma dessas necessidades, levando em conta também a localidade, que influencia bastante no custo de vida. Além disso, para considerar cargo, experiência e afins, a empresa pode se apoiar em um conjunto de instrumentos, políticas e procedimentos chamados de Sistema de Remuneração. Outro ponto importante é prezar pela igualdade salarial entre homens e mulheres, garantida pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 8 é “promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos”. Ainda estamos longe dessa meta, mas o Movimento Salário Digno foi lançado pelo Rede Brasil do Pacto Global da ONU com o objetivo de, até 2030, promover o engajamento de toda a cadeia de suprimentos para desenvolver metas de salário digno e garantir 100% de salário digno para funcionários e funcionárias, incluindo operações, pessoas contratadas e terceirizadas.

Esse movimento tem uma coalizão para fazer estudos regionais e chegar a um valor que corresponda à renda justa. Esse é um aspecto, atualmente, voluntário para as empresas. No entanto, no processo de Certificação B, por exemplo, olhamos para esse fator  também.

É comum que o quadro de funcionários e especialistas seja bem remunerado dentro de grandes empresas, mas, quando olhamos para o salário de seus prestadores de serviço, notamos que a desigualdade salarial não está permitindo a qualidade de vida que seres humanos merecem num contexto de tanta abundância de bens e serviços.

Dentro das organizações alinhadas aos pilares do Capitalismo Consciente, os gaps salariais merecem atenção redobrada, afinal um negócio é bom porque cria valor e nobre pois tira as pessoas da pobreza gerando prosperidade em suas vidas.

As empresas precisam cada vez mais liderar essa pauta de garantia do direito ao salário digno não só dentro do seu quadro, mas também influenciando sua cadeira de fornecedores. Esperar determinações por legislação para agir não vai nos ajudar a reduzir as desigualdades sociais e cumprir uma agenda sustentável de crescimento econômico com a rapidez necessária. Nesse contexto, a reflexão que o Sistema B e o Capitalismo Consciente querem propor é sobre o real cuidado com as pessoas, afinal, saúde financeira e empoderamento econômico são essenciais para qualidade de vida das pessoas no mundo atual.

Para deslanchar essa agenda, é preciso debater sobre o tema, engajar a alta liderança e stakeholders, capacitar as equipes e garantir o monitoramento e compartilhamento de boas práticas. Empresas B são incentivadas a garantirem para 100% de funcionários e funcionárias esse direito, a Natura & Co, por exemplo, compartilha da ambição de englobar também fornecedores e fornecedoras.

Além de oferecer reconhecimento de maneira justa para as pessoas, o salário digno melhora a retenção, o engajamento e o desenvolvimento. O salário mínimo está longe de ser justo, as faixas salariais arbitrárias e as contratações informais também. A redução de direitos trabalhistas agrava o cenário brasileiro de instabilidade econômica, onde a maioria das pessoas vive preocupada com a refeição seguinte. Que tipo de futuro essa sociedade conseguirá criar? A desigualdade social é um reflexo do desequilíbrio econômico que vivemos até aqui.Para um mundo mais justo, quem acumula riquezas precisa repensar o que oferece em troca da dedicação de quem possibilita isso no dia a dia. Refletir sobre salário digno é essencial para a humanização das empresas.

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