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O ano em que as pautas ambientais vão ditar as regras do jogo

Mesmo com a quarentena e o isolamento social, ainda estamos no caminho para um mundo que será quente demais para sustentar a vida como a conhecemos

Mais do que apenas pressionar o governo por ações responsáveis, as empresas devem buscar soluções e meios de comprovar a efetividade de suas preocupações e iniciativas visando diminuição do seu impacto social e ambiental (RoadLight/Pixabay/Divulgação)
KS

Karina Souza

Publicado em 27 de janeiro de 2021 às 14h23.

Se tem uma coisa que aprendemos em 2020 é que nem tudo pode ser previsto. O ano que passou foi prova de que nem sempre é possível seguir os planejamentos e tudo pode mudar a qualquer momento. Por isso, precisamos estar prontos para revisitar nossas premissas e alterar, mesmo que brusca e repentinamente, a rota. Outro ponto que ficou claro no ano que passou é que a galopante desigualdade e a crise climática são reflexos de um modelo econômico que ruiu e, portanto, o impacto dos negócios não poderá ser menosprezado.

Atenta às vozes cada vez mais altas do planeta e da sociedade, prevejo que 2021 será o ano em que o tema mudanças climáticas estará na pauta de políticas internacionais, economia e tomada de decisões de empresas. Dois anos após o Acordo de Paris, quando mais de 530 empresas B assumiram o compromisso de se tornarem carbono neutro até 2030, me parece que esse prazo corre e, se queremos uma mudança real, é preciso agir agora.

Olhando para esse cenário, não é por acaso que o termo ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) vem ganhando cada vez mais espaço. Tivemos avanços consideráveis no ano passado e é possível que o tema se consolide ainda mais nesse ano que se inicia, principalmente em relação à sua face ambiental. Mesmo com a quarentena e o isolamento social que nos possibilitou ver cenas como um céu chinês azul, diferente do tradicional cinza-poluição, ainda estamos no caminho para um mundo que será quente demais para sustentar a vida como a conhecemos, de acordo com a ciência do clima.

Joe Biden, que assume a presidência dos EUA a partir de 20 janeiro apesar de todo o barulho dos últimos dias, já deu fortes indícios de que essa é uma pauta muito cara a seu governo. Ter o presidente de uma das maiores potências econômicas do mundo jogando luz no assunto após anos de negacionismo é mais um indicativo importante de que esse tema vai dominar conversas.

No Brasil, o setor corporativo precisa assumir o papel de protagonista e ter proatividade nas relações comerciais com os EUA, uma vez que as políticas públicas ambientais do País vêm sendo colocadas em dúvida pelo resto do mundo. Como fazer isso? Mais do que apenas pressionar o governo por ações responsáveis, as empresas devem buscar soluções e meios de comprovar a efetividade de suas preocupações e iniciativas visando diminuição do seu impacto social e ambiental.

Cada vez mais será importante medir e apresentar o seu impacto, conhecer suas deficiências e traçar estratégias para mostrar que os valores gerados pela empresa vão além do financeiro. Os investidores estão em buscas de números e fatos reais para além do Relatório de Sustentabilidade.

Para o Sistema B Brasil, estamos finalmente chegando a uma época em que, enfim, as empresas vão medir e gerenciar seu impacto com o mesmo rigor que fazem com seus retornos financeiros. Há tempos contribuímos para esse cenário com ferramentas como a Avaliação de Impacto B, que pode ser usada por qualquer empresa (B ou não), de maneira gratuita e confidencial, fornecendo não só números de acordo com padrões críveis, abrangentes, transparentes e independentes do desempenho socioambiental para avaliar seu impacto global, como também traçar estratégias para melhorar sua atuação.

Além de atrair investimentos e acessar mercados bilionários que estão atentos a essa questão, trabalhar critérios ambientais (e também sociais) significa apostar na construção de um futuro melhor e possível, além de contribuir para atrair e reter novos talentos que estão chegando ao mercado com propósitos muito fortes em seu DNA.

O Brasil é um continente, com diversos biomas riquíssimos que, além de serem laboratórios naturais, podem gerar uma série de riquezas e oportunidades para negócios que estejam dispostos a conservá-los. 2021 veio para mostrar que em meio à crise que vivemos nas instituições e, particularmente, na América Latina, cabe a nós e às empresas presentes em nosso território tomarmos ações concretas e objetivas para uma nova economia de impacto positivo para as pessoas e para o Planeta.

*Francine Lemos é Diretora Executiva do Sistema B Brasil

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Se tem uma coisa que aprendemos em 2020 é que nem tudo pode ser previsto. O ano que passou foi prova de que nem sempre é possível seguir os planejamentos e tudo pode mudar a qualquer momento. Por isso, precisamos estar prontos para revisitar nossas premissas e alterar, mesmo que brusca e repentinamente, a rota. Outro ponto que ficou claro no ano que passou é que a galopante desigualdade e a crise climática são reflexos de um modelo econômico que ruiu e, portanto, o impacto dos negócios não poderá ser menosprezado.

Atenta às vozes cada vez mais altas do planeta e da sociedade, prevejo que 2021 será o ano em que o tema mudanças climáticas estará na pauta de políticas internacionais, economia e tomada de decisões de empresas. Dois anos após o Acordo de Paris, quando mais de 530 empresas B assumiram o compromisso de se tornarem carbono neutro até 2030, me parece que esse prazo corre e, se queremos uma mudança real, é preciso agir agora.

Olhando para esse cenário, não é por acaso que o termo ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) vem ganhando cada vez mais espaço. Tivemos avanços consideráveis no ano passado e é possível que o tema se consolide ainda mais nesse ano que se inicia, principalmente em relação à sua face ambiental. Mesmo com a quarentena e o isolamento social que nos possibilitou ver cenas como um céu chinês azul, diferente do tradicional cinza-poluição, ainda estamos no caminho para um mundo que será quente demais para sustentar a vida como a conhecemos, de acordo com a ciência do clima.

Joe Biden, que assume a presidência dos EUA a partir de 20 janeiro apesar de todo o barulho dos últimos dias, já deu fortes indícios de que essa é uma pauta muito cara a seu governo. Ter o presidente de uma das maiores potências econômicas do mundo jogando luz no assunto após anos de negacionismo é mais um indicativo importante de que esse tema vai dominar conversas.

No Brasil, o setor corporativo precisa assumir o papel de protagonista e ter proatividade nas relações comerciais com os EUA, uma vez que as políticas públicas ambientais do País vêm sendo colocadas em dúvida pelo resto do mundo. Como fazer isso? Mais do que apenas pressionar o governo por ações responsáveis, as empresas devem buscar soluções e meios de comprovar a efetividade de suas preocupações e iniciativas visando diminuição do seu impacto social e ambiental.

Cada vez mais será importante medir e apresentar o seu impacto, conhecer suas deficiências e traçar estratégias para mostrar que os valores gerados pela empresa vão além do financeiro. Os investidores estão em buscas de números e fatos reais para além do Relatório de Sustentabilidade.

Para o Sistema B Brasil, estamos finalmente chegando a uma época em que, enfim, as empresas vão medir e gerenciar seu impacto com o mesmo rigor que fazem com seus retornos financeiros. Há tempos contribuímos para esse cenário com ferramentas como a Avaliação de Impacto B, que pode ser usada por qualquer empresa (B ou não), de maneira gratuita e confidencial, fornecendo não só números de acordo com padrões críveis, abrangentes, transparentes e independentes do desempenho socioambiental para avaliar seu impacto global, como também traçar estratégias para melhorar sua atuação.

Além de atrair investimentos e acessar mercados bilionários que estão atentos a essa questão, trabalhar critérios ambientais (e também sociais) significa apostar na construção de um futuro melhor e possível, além de contribuir para atrair e reter novos talentos que estão chegando ao mercado com propósitos muito fortes em seu DNA.

O Brasil é um continente, com diversos biomas riquíssimos que, além de serem laboratórios naturais, podem gerar uma série de riquezas e oportunidades para negócios que estejam dispostos a conservá-los. 2021 veio para mostrar que em meio à crise que vivemos nas instituições e, particularmente, na América Latina, cabe a nós e às empresas presentes em nosso território tomarmos ações concretas e objetivas para uma nova economia de impacto positivo para as pessoas e para o Planeta.

*Francine Lemos é Diretora Executiva do Sistema B Brasil

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