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Contribuição das empresas brasileiras na conservação da Amazônia é urgente

Os recentes embargos devido à alta no desmatamento mostram que o crescimento de um país só acontece se estiver associado a uma agenda climática positiva

É preciso vontade para quebrar barreiras e o status quo da economia e dos modos de produção tão fortemente enraizados (Ibama/Divulgação)
É preciso vontade para quebrar barreiras e o status quo da economia e dos modos de produção tão fortemente enraizados (Ibama/Divulgação)
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Francine Lemos

Publicado em 13 de outubro de 2020 às, 12h09.

Última atualização em 13 de outubro de 2020 às, 12h11.

No mês de setembro comemoramos o Dia da Amazônia e, embora a data seja um lembrete para olharmos para a maior floresta tropical do mundo, também serve como alerta para que não esperemos uma efeméride para tomarmos atitudes em prol da conservação da Amazônia. Segundo dados do MapBiomas, o Brasil perdeu 71 milhões de hectares de florestas nativas entre 1985 e 2017, correspondente ao crescimento de 2,9 vezes da área de agricultura e 47% da área de pastagem do país. Desde 2012, o desmatamento só tem aumentado, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), afetando comunidades, destruindo vegetação nativa e trazendo consequências globais para o clima do planeta.

Os recentes embargos e suspensões de investimentos internacionais devido à alta no desmatamento da Amazônia só mostram o que, para uma parte do setor empresarial, já é evidente há muito tempo: o crescimento socioeconômico de um país só acontece se estiver associado a uma agenda climática positiva. É preciso vontade para quebrar barreiras e o status quo da economia e dos modos de produção tão fortemente enraizados, mas é viável.

Uma das provas é a iniciativa Amazônia Possível, movimento do setor empresarial brasileiro apoiada pela Coalizão Brasil, Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Rede Brasil do Pacto Global, Sistema B e Instituto Arapyaú, para a construção de propostas concretas voltadas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. O projeto defende que as empresas têm um papel fundamental - senão o principal - de estimular e liderar uma atuação mais consciente na região amazônica, para além de iniciativas do poder público.

Recentemente, o movimento elaborou um guia com os 10 Princípios Empresariais para uma Amazônia Sustentável. A ideia é mostrar para as empresas que é possível manter a escala de sua produção de maneira sustentável, incluir mão-de-obra local, fortalecendo comunidades que protegem a floresta, e manter as metas de lucratividade criando uma cadeia produtiva de comércio justo, além de promover o desenvolvimento da região.

Para construir o guia de forma que fosse efetivo para as empresas, foi feito um mapeamento com os principais desafios enfrentados em suas operações locais acompanhados de exemplos reais de boas práticas, por meio de uma chamada pública. O guia 10 Princípios Empresariais para uma Amazônia Sustentável pretende ser um norteador para empresas que desejam operar de forma mais sustentável na região amazônica, sendo idealmente utilizado para embasar o desenho do planejamento estratégico e o exercício de priorização de projetos, para que provoquem mais impactos positivos na ponta das cadeias produtivas.

O documento correlaciona os princípios à Agenda 2030 para reforçar a convergência do que está sendo proposto com uma visão global de sustentabilidade. Buscando aterrar e trazer para o dia a dia das empresas, mapeia iniciativas já existentes que podem ajudar gestores a aprimorar as suas atividades, aliadas a um desenvolvimento sustentável na região. Além disso, sugere indicadores para que a empresa possa fazer uma autoanálise e monitorar seu impacto e progresso a partir das mudanças propostas.

Empresas como Natura, Vivejar e 100% Amazônia já estão seguindo os 10 princípios e provam que produção e conservação do meio ambiente podem andar juntos. É preciso planejamento, priorização e conscientização e investimento com propósito. Por fim, deixo a lista de 10 Princípios Empresariais para uma Amazônia Sustentável falar por si:

  1. Eliminar o desmatamento ilegal na sua cadeia produtiva e trabalhar para reduzir o desmatamento legal, promovendo modelos de negócio que valorizem a floresta em pé.
  2. Adotar políticas corporativas e plano de gestão empresarial que promovam mitigação e adaptação às mudanças climáticas em suas operações diretas e na sua cadeia.
  3. Adotar políticas corporativas e plano de gestão empresarial que promovam uso sustentável dos recursos da natureza e preservação da biodiversidade.
  4. Respeitar os direitos humanos em suas atividades, cadeia produtiva e comunidades, dedicando especial atenção aos grupos vulneráveis. Quando necessário, oferecer mecanismos eficazes de remediação.
  5. Assegurar os direitos trabalhistas em todas as etapas da sua cadeia.
  6. Garantir o comércio justo de produtos e serviços em todas as transações de mercado.
  7. Fortalecer comunidades e fornecedores locais por meio da capacitação e da geração de emprego e renda, promovendo impacto social e econômico positivo na região.
  8. Investir em pesquisa e desenvolvimento para uso sustentável dos recursos naturais, fomentar a bioeconomia de floresta em pé e soluções baseadas na natureza, reconhecendo e valorizando o conhecimento de comunidades tradicionais e indígenas.
  9. Estabelecer diálogo multissetorial para compreender demandas regionais e fortalecer o desenvolvimento sustentável territorial.
  10. Garantir a rastreabilidade da cadeia produtiva e assegurar a transparência dos impactos da sua atuação para a sociedade.

Atualmente, mais de 90% do desmatamento na Amazônia é ilegal. Com ações de rastreabilidade e de fortalecimento da comunidade local, impulsionadas pelo setor empresarial, acreditamos que, sim, existe uma Amazônia Possível que alinhe produção e conservação, pautadas por práticas sustentáveis.