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OpenAI: a demissão de Altman e a importância das estruturas de governança

Em uma semana, como em um filme cheio de plot twists, a empresa demitiu e recontratou Sam Altman

Em uma semana, como em um filme cheio de plot twists, a empresa demitiu e recontratou Sam Altman (PATRICK T. FALLON/Getty Images)

Publicado em 28 de novembro de 2023 às 12h18.

A menos que você tenha se desconectado completamente nos últimos dias, é certo que você ouviu ou leu algo sobre o caos que tomou conta da OpenAI – e caso você não esteja reconhecendo o nome, a OpenAI é a startup de inteligência artificial que criou o ChatGPT.

Como em um filme com diferentes plot twists, a empresa viu seu cofundador e CEO Sam Altman ser demitido e "contratado" pela Microsoft, um outro cofundador deixar a companhia, seus funcionários ameaçarem fazer um pedido de demissão em massa, seu conselho ser modificado e, por fim, a recondução de Altman ao cargo de CEO. Tudo isso em uma semana. Menos, até.

Já deu para entender que quando a pauta é inteligência artificial tudo acontece a uma velocidade impressionante. Mas isso foi algo completamente diferente. A cada hora, novos fatos iam (e continuam) surgindo. Não faria sentido eu tentar compilar as últimas notícias sobre o caso aqui.

Decidi concentrar meus esforços, então, em entender o que permitiu a destituição tão rápida de Altman. Nessa busca, me deparei com um texto do investidor Chamath Palihapitiya, que fez um excelente trabalho ao dissecar a estrutura corporativa da startup.

Como bem observou Palihapitiya, para entender o cenário completo, é preciso olhar para a história da OpenAI e seu modelo de governança.

Quando foi fundada, em 2014, por Sam Altman, Elon Musk e cia., a empresa era uma organização sem fins lucrativos. De acordo com seu manifesto, ela foi criada com a missão de evoluir a inteligência artificial de maneira a beneficiar a humanidade.

Em 2019, no entanto, a OpenAI se transformou em uma companhia com "lucro limitado", financiada por investidores externos.

No blog da OpenAI, o movimento foi anunciado como uma maneira de "aumentar a capacidade da startup de levantar capital" sem perder de vista sua missão - desenvolver uma inteligência artificial segura.

Na prática, a companhia assumiu publicamente que precisava de mais investimento para seguir com suas pesquisas e atrair talentos. Para tentar se diferenciar de outras empresas de inteligência artificial, assumiu o compromisso de reinvestir os lucros que ultrapassassem o "teto" de retorno acordado com os investidores – no caso 100x o valor investido.

Ao anunciar a mudança, a organização também apontou que "nenhuma estrutura legal pré-existente atingia o equilíbrio que eles estavam buscando". Ou seja, para combinar dois conceitos conflitantes, a OpenAI criou uma estrutura "híbrida" que permitiu que uma entidade sem fins lucrativos controlasse uma entidade com fins lucrativos.

Foi o bastante para permitir que a Microsoft aportasse um bilhão de dólares na startup. E para complicar a estrutura organizacional da empresa.

Na estrutura indicada no site da startup, é possível ver a Microsoft como acionista minoritária da empresa de lucro limitado OpenAI Global, que por sua vez responde para a organização sem fins lucrativos OpenAI e seu conselho.

Ao ser "criativa" em sua estrutura, a OpenAI fomentou motivações e incentivos contraditórios dentro da organização. Se é verdade que Altman era a favor da rápida comercialização da companhia e da busca por retorno financeiro, fica claro o conflito com os objetivos de seu controlador sem fins lucrativos.

Outra análise, essa escrita pelo analista norte-americano Ben Thompson, é precisa ao ressaltar que o conselho da OpenAI não tem compromisso com o lucro. Se os conselheiros perderam a confiança no CEO, se avaliaram que Altman não estava dirigindo a startup em linha com sua missão, eles fizeram apenas o seu trabalho em demiti-lo. Tinham poder para isso.

Não à toa, a empresa agora avalia a criação de mecanismos de controle que limitem a capacidade do seu conselho de destituir altas lideranças de forma tão abrupta, e sem que os seus investidores possam dizer algo sobre. Há quem veja isso como mais um conflito de interesses, mais um afastamento da missão inicial da organização.

Para além das incertezas sobre esse drama, uma coisa é certa: caiu por terra o mito de que qualquer coisa fora do modelo corporativo com fins lucrativos é o jeito certo de organizar uma empresa. Não é.

Em uma indústria em que orçamentos robustos influenciam de maneira significativa no crescimento e no sucesso, como é o caso da indústria de tecnologia, é impossível negar a relevância da captação de recursos e da rentabilidade. Ser uma organização sem fins lucrativos pode até tirar o peso da busca por retorno financeiro, mas limita a atuação e o avanço da companhia. A OpenAI não é a primeira a constatar essa verdade.

Volto a citar o Palihapitiya para concluir que as estruturas empresariais existentes, testadas ao longo dos anos, não devem ser menosprezadas. Já é difícil alcançar um objetivo, seja ele qual for, utilizando uma delas. Ao criar um modelo de governança, a OpenAI acrescentou uma camada extra de complexidade e riscos à sua história.
Só nos resta acompanhar as próximas cenas.

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A menos que você tenha se desconectado completamente nos últimos dias, é certo que você ouviu ou leu algo sobre o caos que tomou conta da OpenAI – e caso você não esteja reconhecendo o nome, a OpenAI é a startup de inteligência artificial que criou o ChatGPT.

Como em um filme com diferentes plot twists, a empresa viu seu cofundador e CEO Sam Altman ser demitido e "contratado" pela Microsoft, um outro cofundador deixar a companhia, seus funcionários ameaçarem fazer um pedido de demissão em massa, seu conselho ser modificado e, por fim, a recondução de Altman ao cargo de CEO. Tudo isso em uma semana. Menos, até.

Já deu para entender que quando a pauta é inteligência artificial tudo acontece a uma velocidade impressionante. Mas isso foi algo completamente diferente. A cada hora, novos fatos iam (e continuam) surgindo. Não faria sentido eu tentar compilar as últimas notícias sobre o caso aqui.

Decidi concentrar meus esforços, então, em entender o que permitiu a destituição tão rápida de Altman. Nessa busca, me deparei com um texto do investidor Chamath Palihapitiya, que fez um excelente trabalho ao dissecar a estrutura corporativa da startup.

Como bem observou Palihapitiya, para entender o cenário completo, é preciso olhar para a história da OpenAI e seu modelo de governança.

Quando foi fundada, em 2014, por Sam Altman, Elon Musk e cia., a empresa era uma organização sem fins lucrativos. De acordo com seu manifesto, ela foi criada com a missão de evoluir a inteligência artificial de maneira a beneficiar a humanidade.

Em 2019, no entanto, a OpenAI se transformou em uma companhia com "lucro limitado", financiada por investidores externos.

No blog da OpenAI, o movimento foi anunciado como uma maneira de "aumentar a capacidade da startup de levantar capital" sem perder de vista sua missão - desenvolver uma inteligência artificial segura.

Na prática, a companhia assumiu publicamente que precisava de mais investimento para seguir com suas pesquisas e atrair talentos. Para tentar se diferenciar de outras empresas de inteligência artificial, assumiu o compromisso de reinvestir os lucros que ultrapassassem o "teto" de retorno acordado com os investidores – no caso 100x o valor investido.

Ao anunciar a mudança, a organização também apontou que "nenhuma estrutura legal pré-existente atingia o equilíbrio que eles estavam buscando". Ou seja, para combinar dois conceitos conflitantes, a OpenAI criou uma estrutura "híbrida" que permitiu que uma entidade sem fins lucrativos controlasse uma entidade com fins lucrativos.

Foi o bastante para permitir que a Microsoft aportasse um bilhão de dólares na startup. E para complicar a estrutura organizacional da empresa.

Na estrutura indicada no site da startup, é possível ver a Microsoft como acionista minoritária da empresa de lucro limitado OpenAI Global, que por sua vez responde para a organização sem fins lucrativos OpenAI e seu conselho.

Ao ser "criativa" em sua estrutura, a OpenAI fomentou motivações e incentivos contraditórios dentro da organização. Se é verdade que Altman era a favor da rápida comercialização da companhia e da busca por retorno financeiro, fica claro o conflito com os objetivos de seu controlador sem fins lucrativos.

Outra análise, essa escrita pelo analista norte-americano Ben Thompson, é precisa ao ressaltar que o conselho da OpenAI não tem compromisso com o lucro. Se os conselheiros perderam a confiança no CEO, se avaliaram que Altman não estava dirigindo a startup em linha com sua missão, eles fizeram apenas o seu trabalho em demiti-lo. Tinham poder para isso.

Não à toa, a empresa agora avalia a criação de mecanismos de controle que limitem a capacidade do seu conselho de destituir altas lideranças de forma tão abrupta, e sem que os seus investidores possam dizer algo sobre. Há quem veja isso como mais um conflito de interesses, mais um afastamento da missão inicial da organização.

Para além das incertezas sobre esse drama, uma coisa é certa: caiu por terra o mito de que qualquer coisa fora do modelo corporativo com fins lucrativos é o jeito certo de organizar uma empresa. Não é.

Em uma indústria em que orçamentos robustos influenciam de maneira significativa no crescimento e no sucesso, como é o caso da indústria de tecnologia, é impossível negar a relevância da captação de recursos e da rentabilidade. Ser uma organização sem fins lucrativos pode até tirar o peso da busca por retorno financeiro, mas limita a atuação e o avanço da companhia. A OpenAI não é a primeira a constatar essa verdade.

Volto a citar o Palihapitiya para concluir que as estruturas empresariais existentes, testadas ao longo dos anos, não devem ser menosprezadas. Já é difícil alcançar um objetivo, seja ele qual for, utilizando uma delas. Ao criar um modelo de governança, a OpenAI acrescentou uma camada extra de complexidade e riscos à sua história.
Só nos resta acompanhar as próximas cenas.

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