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Inteligência Artificial: um contraste entre Brasil e Estados Unidos

No Brasil, o uso de IA está concentrado em assistentes de voz e chatbots; nos Estados Unidos, o uso de IA está muito focado na escassez de mão de obra

Inteligência artificial (Designer/Microsoft)
Inteligência artificial (Designer/Microsoft)

Nos últimos meses, tive a oportunidade de participar, como painelista, de dois eventos sobre o futuro do empreendedorismo e da tecnologia na América Latina: o The Future of LATAM Entrepreneurship e o Latin America's Technological Renaissance.

Como quase tudo o que envolve e fala sobre futuro atualmente, esses encontros tiveram a Inteligência Artificial (IA) como pano de fundo ou como parte da discussão.

Confesso que sigo fascinado pelo tema e pelas oportunidades que essa tecnologia traz – tenho consumido muito material sobre essa temática, desde artigos até threads e vídeos – e, por isso, decidi dedicar mais um texto ao assunto.

Quero compartilhar com vocês um ponto de vista que apresentei em um desses fóruns: para mim, a IA está sendo pensada e trabalhada de maneira diferente nos Estados Unidos e no Brasil, e isso fica evidente quando olhamos para onde os fundadores de startups de ambos os países estão direcionando seus esforços.

Antes, vale lembrar que a pilha de infraestrutura da Inteligência Artificial (AI Infraestructure Stack) é composta por diferentes camadas, incluindo a de hardware, de ferramentas de IA, programas que usam inteligência artificial para resolver uma determinada tarefa ou problema, e de aplicação, onde os usuário finais conseguem enxergar claramente os usos e benefícios da IA. É o caso dos assistentes de voz e chatbots.

No Brasil, até o momento, as maiores oportunidades em IA estão concentradas nessa última camada, a de aplicação. É onde o uso dessa tecnologia tem gerado mais valor.

Por que? Porque, nesse mercado, as discussões sobre o uso de IA têm focado na expansão de mercados e na redução do custo do serviço prestado.

Na última década, vimos muitas empresas falharem ao mapear o mercado endereçável (TAM, na sigla em inglês) na América Latina por estimarem para mais o número de potenciais consumidores. Esses negócios levaram em consideração o tamanho do mercado local, mas esqueceram que, em países emergentes, como é o caso do Brasil, nem todos as pessoas que você deseja atingir com o seu produto ou serviço podem pagar por ele. Os mercados não são massivo - exceto se você é uma fintech.

O fato é que a IA pode ajudar a baratear o custo da execução e fazer com que um produto ou serviço se torne mais acessível e possa ser oferecido para mais pessoas, aumentando o mercado em potencial.

Foi o que vimos na área da saúde com a startup Alice, e no mercado imobiliário com o lançamento do simulador de financiamento imobiliário com Inteligência Artificial da Loft. Nesse último, um processo que antes levava dias - consultar os valores de entrada e das parcelas de um financiamento imobiliário – agora é feito em menos de 15 segundos, de maneira automatizada.

Não à toa, hoje, um em cada três fundadores que eu conheço estão debruçados sobre essa tecnologia. Não para criar uma empresa nativa em IA necessariamente, mas para construir um negócio mais produtivo e facilmente escalável em termos de custos.

Já nos Estados Unidos, o uso de IA está muito focado na escassez de mão de obra. Faltam pessoas interessadas em realizar determinadas tarefas - algo que pode piorar nos próximos anos com o envelhecimento da população e a pouca atratividade que esses empregos têm para os mais jovens.

Por isso, os casos de uso que mais se destacam por lá focam em automatização de tarefas, ganhos de produtividade e na incorporação de soluções para o setor industrial.

Essa diferença significa que a IA está sendo melhor aproveitada em um mercado do que em outro? Não! Essa diferença só reforça a infinidade de possibilidades que essa tecnologia nos oferece. E que bom que é assim.

Quanto o assunto é Inteligência Artificial, ainda há muito o que ser experimentado, trocado e analisado.