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Eu preciso ser apaixonado pela minha ideia de negócio?

Ser 'obcecado' pelo problema que você quer resolver, por si só, no entanto, não garante o sucesso da sua empreitada

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Publicado em 26 de abril de 2025 às 08h00.

Indo direto ao ponto: ser apaixonado pela sua ideia de negócio é uma tremenda vantagem. Ter um interesse genuíno por um mercado, muitas vezes, é o que dá aquela energia extra para o empreendedor, resiliência nos momentos difíceis e vontade de mergulhar de cabeça nos desafios.

Se você pretende fundar uma empresa e resolver um "dor", é razoável supor que vai passar os próximos cinco ou dez anos (se tudo der certo, até mais) imerso em um setor. Estudar tendências, participar de eventos, lidar com crises e comemorar vitórias farão parte do seu dia a dia. Ter afinidade com o tema torna a jornada empreendedora menos pesada e muito mais fluida.

Em vez de ficar entendiado com mais um evento de networking ou desanimado com a leitura de mais um artigo sobre o tema, você irá desfrutar de cada momento e absorver novos conhecimentos sem esforço.

Falo por experiência própria. Quando comecei a me afastar do dia a dia da Printi, a primeira startup que fundei com meu sócio Mate (Pencz), comecei a explorar novas ideias de negócio. Entre elas, estavam uma no mercado de seguros e outra no mercado imobiliário. Apesar de reconhecer o potencial das duas, percebi que não tinha real interesse pelo universo de seguros. Já o setor imobiliário, mesmo sendo um terreno relativamente novo para mim, despertava minha curiosidade e vontade de aprender. Essa afinidade teve peso na decisão. E Mate e eu fundamos a Loft em 2018.

De fato, não é preciso pesquisar muito para encontrar exemplos de empreendedores que transformaram paixões em startups bem-sucedidas. No Brasil, para citar apenas dois nomes, temos o Fernando Gadotti, um dos fundadores da Dog Hero, e o Marcelo Abritta, cofundador da Buser.

Fernando ama cachorros e viveu na pele o que é ser dono de um animal de estimação e viajar. Já o Marcelo Abritta, cofundador da Buser, me disse antes que o Canary investisse na empresa que estaria disposto a morrer pela sua startup se fosse necessário. Não é preciso ir tão longe, óbvio.

E é importante deixar claro que também é possível encontrar muitos exemplos de empresários bem-sucedidos que não eram apaixonados pela ideia de negócio ou mercado. Pessoas que simplesmente enxergaram uma boa oportunidade e decidiram investir. Mas isso é mais verdadeiro para investidores em série, e menos verdadeiro para quem vai empreender pela primeira vez e tem o desejo de disruptar um setor. Para quem está começando, a paixão pode ser o combustível necessário para atravessar os altos e baixos dos primeiros anos.

Ser 'obcecado' pelo problema que você quer resolver, por si só, no entanto, não garante o sucesso da sua empreitada.

Além de timing, product-market-fit, funding e tantas outras palavras que inglês que ajudam o empreendedor a validar e colocar em prática a sua ideia de negócio, há um outro ponto em comum em muitas histórias de sucesso: a liderança ativa do(s) fundador(es).

Como empreendedor e investidor, acredito que a “alma” de uma empresa nasce dos fundadores. São eles que imprimem os valores, o propósito e a visão de longo prazo. Especialmente nos estágios iniciais, mas também quando se decide escalar o negócio, a intuição e a liderança ativa dos criadores são insubstituíveis.

Fundadores que estão mergulhados no negócio, tomando decisões rápidas, corrigindo rotas e mantendo o time energizado, geralmente são os que conseguem tracionar e escalar (com exceções, claro). Pode parecer um caos para um gestor mais tradicional, mas é nesse “modo founder” que muitas empresas encontram seu diferencial competitivo.

Abandonar esse envolvimento cedo demais, terceirizando a visão para um CEO profissional, é um risco. Não existe uma regra, claro, mas é preciso cautela. Quando o fundador sai de cena, a empresa pode se distanciar da visão original e virar mais uma corporação genérica, perdendo aquilo que a tornava especial.

Paul Graham, da Y Combinator, abordou esse tema em seu artigo “Founder Mode”. No texto, ele contrasta os dois estilos de liderança: o “modo fundador”, com envolvimento direto, decisões rápidas e conexão profunda com o produto; e o “modo gestor”, que traz eficiência, processos e estrutura, mas pode gerar desconexão com a essência do negócio.

Como Graham, acredito que o que separa empresas visionárias daquelas que apenas seguem o fluxo é justamente a liderança de quem teve a ideia original. Do apaixonado pelo negócio/mercado.

É difícil acreditar que seja mera coincidência o fato de algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo terem surgido de paixões de seus fundadores. E que seja coincidência também que muitas delas tenham sido lideradas, por muitos anos, com seus altos e baixos, por seus criadores.

Será que essas ideias de negócio teriam prosperado sem a paixão de seus fundadores?

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