Exame.com
Continua após a publicidade

Como surgem as boas ideias de negócio?

"Ter boas ideias de negócio não é tarefa fácil. Como empreendedor e investidor, sei que esse processo é um dos mais importantes de qualquer jornada"

 (Malte Mueller/Getty Images)
(Malte Mueller/Getty Images)
F
Florian Hagenbuch

Publicado em 1 de dezembro de 2022 às, 14h40.

Ter boas ideias de negócio não é tarefa fácil. Como empreendedor e investidor, sei que esse processo é um dos mais importantes de qualquer jornada. E que nem sempre ele acontece da maneira romântica apresentada em filmes e séries de TV.

Quando decidi empreender pela primeira vez, por exemplo, eu não tinha uma ideia concreta ou um projeto que há muito tempo eu queria tirar do papel. Eu não tinha certeza sequer sobre o mercado em que queria atuar. Meu pai, executivo de uma multinacional alemã da indústria gráfica, conhecia de perto esse mercado e seu potencial aqui no Brasil – “imenso e pulverizado”, ele dizia. Sem grandes players utilizando tecnologia. Foi o norte para eu e meu sócio Mate criarmos a Printi, uma gráfica online, nossa primeira jornada juntos.

Os processos para a criação dos nossos próximos negócios, no entanto, foram muito diferentes. O fundo de investimento Canary surgiu da nossa vontade de fomentar o ecossistema de startups no Brasil. Nós já investíamos como anjo, mas sabíamos que existia uma lacuna muito grande para empresas em estágio de Seed. Foi tudo muito intencional.

A história da criação da Loft é mais conhecida. Após a nossa saída da Printi, fiquei cerca de seis meses buscando ideias e analisando modelos de negócio. Acabei ficando na dúvida entre dois mercados: o imobiliário e o de seguros. E a primeira opção venceu.

Dois fatores pesaram muito nessa escolha. O primeiro foi o chamado “founder-market fit”. Eu não tinha nenhuma habilidade no segmento de seguros e, por mais que isso possa ser desenvolvido com experiência, eu não tinha um real interesse pela área.

Claro que eu também não era um expert em real estate, mas a minha experiência na Printi tinha me preparado para os desafios de transformar uma indústria offline em online. E o mercado imobiliário me interessava muito mais.

O segundo motivo foi uma experiência pessoal. Muitos de vocês já devem ter ouvido ou lido essa história, mas eu comprei um apartamento em São Paulo e, tempo depois, descobri que ele tinha uma metragem menor do que a anunciada.

A falta de transparência e de informações seguras no mercado imobiliário era real. E o mercado era pouco tocado pela tecnologia. Enxergamos essa oportunidade e agimos.

Gosto de dividir essas experiências para mostrar que são muitos os caminhos que levam às boas ideias. A primeira ou a próxima “dor” que você irá solucionar pode ser uma que você enfrenta no seu próprio dia a dia ou que você descobriu conversando com outras pessoas.

Em 2013, li um artigo muito interessante que contava a história de Nat Turner, co-fundador da Invite Media, vendida para o Google por 80 milhões de dólares em 2010, e da Flatiron Health, adquirida pela Roche por 1,9 bilhão de dólares em 2018.

No artigo, Turner fala sobre seu método para encontrar “the next great thing” sem que seja necessário ser um fundador visionário, mas acho que a lição mais valiosa que tirei da sua fala foi a importância do networking e dos feedbacks nesse processo.

Conversar com pessoas que partem de pontos diferentes, e que, portanto, têm visões que se complementam, é extremamente valioso. Turner apresenta suas ideias de negócios para possíveis clientes, fornecedores, investidores. Uma rede capaz de entregar um volume grande de insights. Todos serão úteis? Não. Mas é trabalho do empreendedor saber diferenciar feedbacks úteis de barulho, e usar isso para lapidar seu pitch.

Hoje em dia, até pela minha atuação no fundo de venture capital do qual sou co-fundador, estou sempre avaliando novas ideias de negócios. Também tenho muitos amigos que me procuram para trocar impressões e discutir cenários. É algo que gosto de fazer.

Alguns empreendedores não compartilham suas ideias com medo de que alguém possa roubá-las, mas eu vejo uma série de benefícios em falar abertamente sobre novas oportunidades e pegar inputs do máximo de pessoas possível. No fim do dia, é a sua execução, e não a sua ideia, que fará a diferença.

Dito isso, faça sempre um primeiro filtro em suas ideias. Alguns critérios simples de avaliação são: qual é a sacada que irá ajudar o negócio a se destacar e ser vitorioso? Você tem experiência no mercado que pretende atuar ou habilidades importantes para o que pretende alcançar? Você gosta ou tem real interesse pelo segmento? Qual o potencial?

E se você está na dúvida se vale a pena investir em um novo negócio agora, eu digo que sim. No cenário atual, você irá criar um negócio com mais cuidado, mais atenção às unit economics, e se beneficiar disso no longo prazo.

Ainda existem grandes oportunidades e problemas a serem resolvidos na América Latina. E os empreendedores brasileiros têm uma cultura muito resiliente e criativa. É o casamento perfeito.

*Florian Hagenbuch é presidente do Grupo Loft.