Como escolher uma startup para trabalhar
"Entrevistar" um founder pode ser a melhor maneira de entender a essência do negócio para o qual você pode começar a trabalhar
marianamartucci
Publicado em 25 de setembro de 2020 às 17h37.
Última atualização em 25 de setembro de 2020 às 18h00.
Para todo mundo que já passou por uma entrevista de emprego conhece um momento especial que traz a oportunidade de “virar a mesa”. É aquela fatídica hora em que o entrevistador olha para o candidato e questiona: “você tem alguma pergunta?”. Enquanto em grandes empresas esse processo é, geralmente, tocado pelo RH ou pelo gestor de uma área específica, em startups, não é difícil ver o próprio fundador do negócio, ali, do outro lado, indagando: “e aí? Tem alguma pergunta?”.
Eu mesmo já fiz essa pergunta para candidatos muitas vezes. Quando começamos a Loft, os 100 primeiros funcionários foram entrevistados pessoalmente por mim. Do meu lado, digo que essa experiência foi importante para avaliar o fit cultural e entender se nosso funil de contratações estava funcionando bem. Mas esse texto aqui, na verdade, não é sobre o meu lado da mesa e, sim, o do candidato.
Numa entrevista com o founder, a hora de fazer perguntas tem uma importância muito grande — e não é todo mundo que se prepara para isso. Trata-se do momento em que você deixa de ser avaliado e passa a ser o avaliador da empresa. Em outras palavras: é a hora em que você junta evidências de que aquela posição, naquela startup, cumpre requisitos o suficiente para te motivar a ir até lá todos os dias e fazer seu melhor trabalho.
Eu aprendi que seguir o processo de contratação de maneira bilateral (avaliando e sendo avaliado) é uma forma genuína de criar um alinhamento de expectativas, evitar frustrações futuras. Além disso, gera valor, tanto para o candidato, quanto para a startup. E, mais do que abrir a possibilidade ao candidato para fazer perguntas, é tentar sempre avaliar se aquela contratação será verdadeiramente um bom match entre o que a empresa e o que o candidato estão buscando.
Esse tipo de mentalidade tem que estar presente em todas as entrevistas de uma startup. Por conta disso, já aconteceram algumas situações inusitadas: me recordo de uma candidata que queríamos muito contratar. Porém, na conversa comigo ficou claro que ela buscava uma oportunidade em uma empresa menor, com um escopo menos bem definido. Acabei recomendando ela para uma empresa com este perfil e ela foi contratada.
Mas, talvez mais importante do que isso tudo, seja o fato de que "entrevistar" um founder é a melhor maneira de entender a essência do negócio para o qual você pode começar a trabalhar. Mas o que é a essência do founder? É a personalidade dele, que se reflete no negócio que ele está construindo. É o motivo que fez ele abrir a empresa e ao mesmo tempo faz ele acordar todos os dias para enfrentar todas as dificuldades que é empreender.
O guia abaixo junta algumas das melhores perguntas que me fizeram ao longo dos anos e visa ajudar você com sua próxima entrevista com um founder. Eu separei as perguntas em três categorias diferentes, cada uma com o seu objetivo específico.
Eu diria que a maior parte dos founders que eu conheço são bastante honestos nas respostas, mas mais do que certo/errado, procure se conectar com o que você está ouvindo. Seja inquisitivo, não tenha vergonha e não se intimide de fazer perguntas difíceis. Caso o founder lidar mal com a pergunta, o que isso te diz sobre trabalhar com ele?
Business
Objetivo: entender a historia do negocio, a visão e os desafios:
- Como foi a decisão de abrir esse negócio? De onde veio a idéia?
- Por que você acredita no negócio?
- Qual seu objetivo com a empresa a médio/longo prazo?
- O que você traz de aprendizados do seu primeiro empreendimento e o que você quer fazer diferente? (assumindo que se trate de um empreendedor num 2o projeto)
- Quais são os projetos mais importantes dos próximos 6, 12, 24 meses?
- O que te deixa acordado à noite?
Motivações
Objetivo: entender o que motiva o empreendedor e para onde ele quer levar a startup — visa determinar se você tem bom fit com a empresa
- De quais valores pessoais você não abre mão e quer disseminar na cultura?
- Qual o perfil das pessoas e atitudes que você espera de alguém aqui?
- O que te faz acordar de manhã e vir trabalhar?
- Qual seu propósito/missão de vida e como você acredita que seu negócio pode impactar o mundo, as pessoas e/ou o meio ambiente?
- Qual legado você quer deixar com a empresa?
- Você pretende vender para os chineses no futuro?
- Quais são seus hobbies?
- Como você equilibra sua vida pessoal com a sua vida no trabalho?
Finance
Objetivo: perguntar sobre a saúde financeiro do negócio para não “cair numa fria”
Você recomenda ao empreendedor ter pelo menos 70% do negócio depois da primeira rodada e garantir pelo menos 50% depois da segunda. Como está o ownership da empresa nesse momento?
- Quem são os outros sócios e qual a porcentagem de participação no negócio?
- Mesmo conseguindo captar recursos com investidores, você investiu o seu próprio capital também?
- Como está a composição do seu board? Quantos assentos são controlados por investidores e quantos pelo(s) founder(s)?
- Como a empresa está de saúde financeira? Quanto capital foi levantado, qual o cash burn mensal e quantos meses de runway ainda sobram?
- Como você pensa em compensation?
Não há respostas certas ou erradas às perguntas acima, apenas respostas que te agradam como candidato (ou não). Alinhamento de visão, preferências pessoais e profissionais, modo de pensar, todos esses fatores se traduzem em fit cultural.
E entender o fit cultural entre você e a empresa à qual pensa em se juntar, muitas vezes concretizado na figura do fundador, é um dos critérios mais importantes que eu usaria para avaliar uma oportunidade de trabalhar numa startup.
É muito positivo ver que cada vez mais candidatos estão usando estes tipo de perguntas nas nossas entrevistas — isso mostra um real amadurecimento do nosso ecossistema. Sigamos em frente!
Para todo mundo que já passou por uma entrevista de emprego conhece um momento especial que traz a oportunidade de “virar a mesa”. É aquela fatídica hora em que o entrevistador olha para o candidato e questiona: “você tem alguma pergunta?”. Enquanto em grandes empresas esse processo é, geralmente, tocado pelo RH ou pelo gestor de uma área específica, em startups, não é difícil ver o próprio fundador do negócio, ali, do outro lado, indagando: “e aí? Tem alguma pergunta?”.
Eu mesmo já fiz essa pergunta para candidatos muitas vezes. Quando começamos a Loft, os 100 primeiros funcionários foram entrevistados pessoalmente por mim. Do meu lado, digo que essa experiência foi importante para avaliar o fit cultural e entender se nosso funil de contratações estava funcionando bem. Mas esse texto aqui, na verdade, não é sobre o meu lado da mesa e, sim, o do candidato.
Numa entrevista com o founder, a hora de fazer perguntas tem uma importância muito grande — e não é todo mundo que se prepara para isso. Trata-se do momento em que você deixa de ser avaliado e passa a ser o avaliador da empresa. Em outras palavras: é a hora em que você junta evidências de que aquela posição, naquela startup, cumpre requisitos o suficiente para te motivar a ir até lá todos os dias e fazer seu melhor trabalho.
Eu aprendi que seguir o processo de contratação de maneira bilateral (avaliando e sendo avaliado) é uma forma genuína de criar um alinhamento de expectativas, evitar frustrações futuras. Além disso, gera valor, tanto para o candidato, quanto para a startup. E, mais do que abrir a possibilidade ao candidato para fazer perguntas, é tentar sempre avaliar se aquela contratação será verdadeiramente um bom match entre o que a empresa e o que o candidato estão buscando.
Esse tipo de mentalidade tem que estar presente em todas as entrevistas de uma startup. Por conta disso, já aconteceram algumas situações inusitadas: me recordo de uma candidata que queríamos muito contratar. Porém, na conversa comigo ficou claro que ela buscava uma oportunidade em uma empresa menor, com um escopo menos bem definido. Acabei recomendando ela para uma empresa com este perfil e ela foi contratada.
Mas, talvez mais importante do que isso tudo, seja o fato de que "entrevistar" um founder é a melhor maneira de entender a essência do negócio para o qual você pode começar a trabalhar. Mas o que é a essência do founder? É a personalidade dele, que se reflete no negócio que ele está construindo. É o motivo que fez ele abrir a empresa e ao mesmo tempo faz ele acordar todos os dias para enfrentar todas as dificuldades que é empreender.
O guia abaixo junta algumas das melhores perguntas que me fizeram ao longo dos anos e visa ajudar você com sua próxima entrevista com um founder. Eu separei as perguntas em três categorias diferentes, cada uma com o seu objetivo específico.
Eu diria que a maior parte dos founders que eu conheço são bastante honestos nas respostas, mas mais do que certo/errado, procure se conectar com o que você está ouvindo. Seja inquisitivo, não tenha vergonha e não se intimide de fazer perguntas difíceis. Caso o founder lidar mal com a pergunta, o que isso te diz sobre trabalhar com ele?
Business
Objetivo: entender a historia do negocio, a visão e os desafios:
- Como foi a decisão de abrir esse negócio? De onde veio a idéia?
- Por que você acredita no negócio?
- Qual seu objetivo com a empresa a médio/longo prazo?
- O que você traz de aprendizados do seu primeiro empreendimento e o que você quer fazer diferente? (assumindo que se trate de um empreendedor num 2o projeto)
- Quais são os projetos mais importantes dos próximos 6, 12, 24 meses?
- O que te deixa acordado à noite?
Motivações
Objetivo: entender o que motiva o empreendedor e para onde ele quer levar a startup — visa determinar se você tem bom fit com a empresa
- De quais valores pessoais você não abre mão e quer disseminar na cultura?
- Qual o perfil das pessoas e atitudes que você espera de alguém aqui?
- O que te faz acordar de manhã e vir trabalhar?
- Qual seu propósito/missão de vida e como você acredita que seu negócio pode impactar o mundo, as pessoas e/ou o meio ambiente?
- Qual legado você quer deixar com a empresa?
- Você pretende vender para os chineses no futuro?
- Quais são seus hobbies?
- Como você equilibra sua vida pessoal com a sua vida no trabalho?
Finance
Objetivo: perguntar sobre a saúde financeiro do negócio para não “cair numa fria”
Você recomenda ao empreendedor ter pelo menos 70% do negócio depois da primeira rodada e garantir pelo menos 50% depois da segunda. Como está o ownership da empresa nesse momento?
- Quem são os outros sócios e qual a porcentagem de participação no negócio?
- Mesmo conseguindo captar recursos com investidores, você investiu o seu próprio capital também?
- Como está a composição do seu board? Quantos assentos são controlados por investidores e quantos pelo(s) founder(s)?
- Como a empresa está de saúde financeira? Quanto capital foi levantado, qual o cash burn mensal e quantos meses de runway ainda sobram?
- Como você pensa em compensation?
Não há respostas certas ou erradas às perguntas acima, apenas respostas que te agradam como candidato (ou não). Alinhamento de visão, preferências pessoais e profissionais, modo de pensar, todos esses fatores se traduzem em fit cultural.
E entender o fit cultural entre você e a empresa à qual pensa em se juntar, muitas vezes concretizado na figura do fundador, é um dos critérios mais importantes que eu usaria para avaliar uma oportunidade de trabalhar numa startup.
É muito positivo ver que cada vez mais candidatos estão usando estes tipo de perguntas nas nossas entrevistas — isso mostra um real amadurecimento do nosso ecossistema. Sigamos em frente!