IPOs: melhor para o vendedor ou melhor para o comprador? (Parte 1)
Sempre há casos de empresas que não estão prontas para vir ao mercado, mas, no fim do dia, cabe ao investidor estudar e avaliar cada oferta
Bibiana Guaraldi
Publicado em 13 de novembro de 2020 às 10h27.
Última atualização em 16 de novembro de 2020 às 09h27.
A economia se move em ciclos que em geral influenciam os lucros das empresas e, por consequência, os preços das ações na bolsa. Em momentos de ciclo de mercado positivo se inicia um período de muitas ofertas de ações, que podem ser aberturas de capital – os IPOs – ou ofertas de empresas já listadas. Nos dois casos, podem ser ofertas primárias (os recursos entram no caixa da empresa) ou secundárias (algum acionista vende um bloco de ações).
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Há uma desconfiança em relação aos IPOs, pois muitas vezes eles são precificados a valores elevados e uma boa parte não “dá certo”. Sempre há casos de empresas que não estão prontas para vir ao mercado, mas, no final do dia, cabe ao investidor estudar e avaliar cada oferta que ache interessante. A responsabilidade do investimento é sempre nossa.
Para investidores em ações, novas ofertas são positivas. Elas aumentam as alternativas de investimento e a liquidez do mercado. As novas empresas geralmente estão em setores mais interessantes e de crescimento, como as recentes Stone, XP, Petz e Rede D’or, por exemplo. Quando eu comecei no mercado há mais de 30 anos, as principais alternativas na bolsa eram bancos, siderúrgicas, telecomunicações, energia e petróleo, setores mais áridos e “distantes” do consumidor. O investidor tem alternativas bem mais interessantes hoje em dia, empresas que conhece de perto e das quais muitas vezes é cliente. Tudo isso graças à onda de IPOs na última década.
Sem dúvida vivemos uma novo ciclo de IPOs e ofertas aqui e no mundo. Neste ano já foram 46 ofertas no Brasil, um dos maiores volumes já registrados por aqui. Aparentemente há mais 50 potenciais ofertas na fila nos próximos meses. Muitos investidores me perguntam se vale a pena entrar em ofertas; e muitos empresários, se vale a pena abrir capital. Certamente não há uma resposta única, depende de cada caso. Do ponto de vista do investidor, o que aprendi foi:
1. Avaliar uma oferta nova é semelhante a avaliar uma empresa já listada. Os critérios devem ser os mesmos. Um modelo de negócios superior com vias claras de crescimento, um time vencedor e alinhado, barreiras a entrada sustentáveis, elevado padrão ESG (sigla para meio-ambiente, social e governança) e um valuation atraente.
2. Um desafio inerente às aberturas de capital é a falta de informações de longo prazo. Em empresas listadas há muito tempo, o investidor tem acesso a um histórico de rentabilidade e execução longo. Muitos IPOs têm histórico curto ou são praticamente projetos. Cabe ao investidor optar por esperar ver a capacidade de execução do management e comprar as ações quando tiver maior conforto; ou confiar na gestão da companhia tendo menos informações hoje. Muitas vezes o management é novo na empresa em questão, mas tem um histórico de sucesso em outros projetos ou companhias. A Stone é um excelente exemplo de empreendedores com histórico longo de boa execução e construção de negócios vencedores.
3. É importante notar que o número de novas ofertas é maior quando os mercados estão subindo. Há poucos IPOs na baixa do mercado, quando as ações já listadas estão baratas. Portanto tome cuidado com o preço das ofertas. Mas não se prenda ao curto prazo ou se incomode em quanto o controlador está “ganhando” com a venda de um pedaço da empresa. Já deixei de fazer bons negócios por ver que a outra parte estava ganhando muito dinheiro. Isto é irrelevante, o importante é quanto você pode ganhar no futuro. Os IPOs de Natura, Localiza e Lojas Renner, por exemplo, não foram baratos, mas quem pensou no curto prazo perdeu ganhos de mais de dez vezes o capital inicial.
4. Vale a pena entender também como está sendo coordenada a oferta no que se refere a que tipos de investidores a empresa está atraindo. Uma oferta que atrai investidores mais especulativos tem menos chance de ter sucesso no curtoprazo.
5. O ciclo de IPOs geralmente segue um padrão. No início da onda, quando os mercados estão começando a performar melhor, as primeiras empresas a abrir capital são de boa qualidade, afinal o mercado está ressabiado e não quer arriscar muito. No meio do ciclo, empresas de maior risco ou desconhecidas se juntam ao processo. No final da onda, geralmente perto do pico do mercado, há tanta euforia que até fraudes ou projetos arriscadíssimos conseguem levantar capital. Não entre na euforia ou reduza seu padrão de exigência para participar da euforia. Como sempre, quanto mais elevado o mercado em geral, mais cuidadoso o investidor deve ser.
No final das contas, os IPOs serão um bom investimento se a empresa performar bem e fizer bom uso dos recursos captados. Não há atalho para o investidor a não ser estudar e conhecer bem a si mesmo e a empresa em que quer investir. Pessoalmente estou animado com as novas empresas vindo a mercado, mas sempre com a disciplina de estudar o negócio e buscar um preço atraente ajustado ao crescimento.
A economia se move em ciclos que em geral influenciam os lucros das empresas e, por consequência, os preços das ações na bolsa. Em momentos de ciclo de mercado positivo se inicia um período de muitas ofertas de ações, que podem ser aberturas de capital – os IPOs – ou ofertas de empresas já listadas. Nos dois casos, podem ser ofertas primárias (os recursos entram no caixa da empresa) ou secundárias (algum acionista vende um bloco de ações).
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Há uma desconfiança em relação aos IPOs, pois muitas vezes eles são precificados a valores elevados e uma boa parte não “dá certo”. Sempre há casos de empresas que não estão prontas para vir ao mercado, mas, no final do dia, cabe ao investidor estudar e avaliar cada oferta que ache interessante. A responsabilidade do investimento é sempre nossa.
Para investidores em ações, novas ofertas são positivas. Elas aumentam as alternativas de investimento e a liquidez do mercado. As novas empresas geralmente estão em setores mais interessantes e de crescimento, como as recentes Stone, XP, Petz e Rede D’or, por exemplo. Quando eu comecei no mercado há mais de 30 anos, as principais alternativas na bolsa eram bancos, siderúrgicas, telecomunicações, energia e petróleo, setores mais áridos e “distantes” do consumidor. O investidor tem alternativas bem mais interessantes hoje em dia, empresas que conhece de perto e das quais muitas vezes é cliente. Tudo isso graças à onda de IPOs na última década.
Sem dúvida vivemos uma novo ciclo de IPOs e ofertas aqui e no mundo. Neste ano já foram 46 ofertas no Brasil, um dos maiores volumes já registrados por aqui. Aparentemente há mais 50 potenciais ofertas na fila nos próximos meses. Muitos investidores me perguntam se vale a pena entrar em ofertas; e muitos empresários, se vale a pena abrir capital. Certamente não há uma resposta única, depende de cada caso. Do ponto de vista do investidor, o que aprendi foi:
1. Avaliar uma oferta nova é semelhante a avaliar uma empresa já listada. Os critérios devem ser os mesmos. Um modelo de negócios superior com vias claras de crescimento, um time vencedor e alinhado, barreiras a entrada sustentáveis, elevado padrão ESG (sigla para meio-ambiente, social e governança) e um valuation atraente.
2. Um desafio inerente às aberturas de capital é a falta de informações de longo prazo. Em empresas listadas há muito tempo, o investidor tem acesso a um histórico de rentabilidade e execução longo. Muitos IPOs têm histórico curto ou são praticamente projetos. Cabe ao investidor optar por esperar ver a capacidade de execução do management e comprar as ações quando tiver maior conforto; ou confiar na gestão da companhia tendo menos informações hoje. Muitas vezes o management é novo na empresa em questão, mas tem um histórico de sucesso em outros projetos ou companhias. A Stone é um excelente exemplo de empreendedores com histórico longo de boa execução e construção de negócios vencedores.
3. É importante notar que o número de novas ofertas é maior quando os mercados estão subindo. Há poucos IPOs na baixa do mercado, quando as ações já listadas estão baratas. Portanto tome cuidado com o preço das ofertas. Mas não se prenda ao curto prazo ou se incomode em quanto o controlador está “ganhando” com a venda de um pedaço da empresa. Já deixei de fazer bons negócios por ver que a outra parte estava ganhando muito dinheiro. Isto é irrelevante, o importante é quanto você pode ganhar no futuro. Os IPOs de Natura, Localiza e Lojas Renner, por exemplo, não foram baratos, mas quem pensou no curto prazo perdeu ganhos de mais de dez vezes o capital inicial.
4. Vale a pena entender também como está sendo coordenada a oferta no que se refere a que tipos de investidores a empresa está atraindo. Uma oferta que atrai investidores mais especulativos tem menos chance de ter sucesso no curtoprazo.
5. O ciclo de IPOs geralmente segue um padrão. No início da onda, quando os mercados estão começando a performar melhor, as primeiras empresas a abrir capital são de boa qualidade, afinal o mercado está ressabiado e não quer arriscar muito. No meio do ciclo, empresas de maior risco ou desconhecidas se juntam ao processo. No final da onda, geralmente perto do pico do mercado, há tanta euforia que até fraudes ou projetos arriscadíssimos conseguem levantar capital. Não entre na euforia ou reduza seu padrão de exigência para participar da euforia. Como sempre, quanto mais elevado o mercado em geral, mais cuidadoso o investidor deve ser.
No final das contas, os IPOs serão um bom investimento se a empresa performar bem e fizer bom uso dos recursos captados. Não há atalho para o investidor a não ser estudar e conhecer bem a si mesmo e a empresa em que quer investir. Pessoalmente estou animado com as novas empresas vindo a mercado, mas sempre com a disciplina de estudar o negócio e buscar um preço atraente ajustado ao crescimento.