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As dicas de ouro para investir com juros reais negativos

Como diz Warren Buffett novamente, a primeira regra para ganhar dinheiro é não perder, a segunda regra é não esquecer a primeira

 (Jesada Wongsa/Getty Images)
(Jesada Wongsa/Getty Images)
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Florian Bartunek

Publicado em 30 de setembro de 2020 às, 13h51.

Última atualização em 30 de setembro de 2020 às, 13h52.

No atual cenário de juros reais negativos investidores devem tomar mais risco, mas com cautela. Nesse caso, muitas pessoas me perguntam qual a carteira de investimentos ideal. Esta pergunta me lembra uma história divertida de uma veterinária amiga. Ela era dona de um petshop no térreo, com seu consultório no primeiro andar. Logo na entrada havia uma placa que dizia: Consulta 200 reais, Olhadinha 500 reais. Curioso, perguntei o que significava. Ela respondeu: “o que mais acontece aqui são pessoas passando na porta do petshop e pedindo para eu dar uma olhadinha rápida no cachorro que aparenta ter alguma dor ou desconforto. Eu sou veterinária, para dar uma opinião séria preciso avaliar o animal com calma. Entender bem o histórico e contexto em que vive. Dar uma olhadinha seria irresponsável. Mas é o que mais me pedem.”

Contei esta história para lembrar que em investimentos cada portfolio pode ser diferente, e o investidor tem de se conhecer bem para chegar no tal “portfolio ideal” para seu momento de vida. Investidores novatos entrem no mundo das finanças acreditando que o desafio é puramente matemático. Basta achar a fórmula, que deve se aplicar a todos. Na verdade, após muitos anos aprendemos que o desafio maior é psicológico/ emocional, e cada investidor tem seus objetivos, medos, necessidades e idiossincrasias.

Montar uma carteira adequada a seu perfil é importante pois ao longo da jornada de investimentos haverá diversas correções de mercado que testarão suas convicções. Um portfolio conservador demais pode não atender suas aspirações de aposentadoria, por exemplo. Imagine chegar à aposentadoria e descobrir que o retorno realizado não foi suficiente para manter um padrão de vida adequado.

Já uma carteira muito agressiva pode te tirar do jogo durante correções. Além de muitas vezes deixar feridas emocionais. Poucas pessoas entendem volatilidade e risco até o dia em que têm uma perda patrimonial grande e ao chegar em casa olham para os filhos e pensam que sua “irresponsabilidade como investidor” pode afetar o futuro da família. Warren Buffett tem um frase genial: Não entendo porque um investidor que tem 50 milhões de reais, se alavanca e arrisca perder tudo. O padrão de vida de quem tem 50 milhões de reais não muda muito em relação a quem tem 100 milhões de reais. Mas cair de 50 para 100 mil reais faz muita diferença. Não faz sentido arriscar o que você tem, por algo que você não precisa.

Como diz Warren Buffett novamente, a primeira regra para ganhar dinheiro é não perder, a segunda regra é não esquecer a primeira.
Por outro lado, não se esqueça que para construir e fazer crescer seu patrimônio você terá de correr riscos. O segredo é não ser tirado do jogo durante as baixas de mercado. Para isso você tem de se conhecer bem. Fatores como idade, aversão a risco, horizonte de investimento, e fluxo de caixa esperado estão entre os principais fatores a se considerar na montagem do seu portfolio.

Investidores mais jovens poderiam correr mais risco pois têm mais tempo para recuperar se ocorrerem perdas. Investidores mais perto da aposentadoria deveriam ser mais conservadores. Ter o prazo de investimento resolvido também é fundamental. Sempre ouvimos falar que ações são investimento de longo-prazo, e isso acabou virando quase um clichê. Eu conheço poucos investidores muito jovens que se tornaram bilionários apenas com seus investimentos. Não subestime a força do juro composto no longo-prazo. Warren Buffett é o investidor mais rico do mundo pois vem compondo seu capital a taxas elevadas por mais de 75 anos.

Para poder investir por 75 anos, com Warren Buffett, o mais importante é não ser tirado do jogo. Neste aspecto o investidor conservador tem uma enorme vantagem. A fábula do coelho e da tartaruga é perfeita neste aspecto. Como então começar a ser mais conservador? Primeiramente gastar menos do que ganha. Eu sei que as vezes é difícil resistir à tentação de ter um carro novo ou a joia/ relógio da moda. Não condeno a forma como as pessoas gastam seu dinheiro.

Como se diz por aí: cada um sabe onde aperta o calo. Porém, a melhor forma de ser um investidor de sucesso no longo-prazo é ter um fundo de reserva, para poder não só segurar as ações na baixa, como adicionar a seus investimentos. Se não temos disciplina para poupar um pouco todo mês, podemos fazer de forma automática, via programado na conta corrente. A mãe judia de um amigo meu sempre dizia: “filho, gaste um terço do que ganha, poupe um terço e doe o outro terço”. Provavelmente mais fácil falar do que fazer, mas a frase contém muita sabedoria.

Importante também fugir de dívidas e alavancagem. Buffett nunca se endividou. No mundo da aviação se diz que o dia-a-dia de um piloto são horas e horas tranquilas pontuadas por eventuais momentos de muita tensão. Investir é semelhante. Nos momentos de alta volatilidade a alavancagem te tira do jogo.

Por fim, aproveite o benefício da diversificação. Se for possível ter um percentual em ações brasileiras, ações internacionais (BDRs) com o benefício da exposição ao dólar, ativos reais e renda-fixa, vale a pena. A exposição a ações brasileiras será positiva em anos bons da economia e a exposição cambial via BDRs ajudará a amenizar as perdas em momentos ruins.

Em resumo, no atual cenário de juros você terá de correr riscos para manter e inclusive aumentar o valor real de seu portfolio. Pense bem antes de montar uma carteira e diversifique seus ativos.