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O salão de relojoaria mais sofisticado do mundo vai ficar mais popular

Em busca de um público mais jovem e na era das redes sociais, o SIHH, em Genebra, passa a se chamar Watches & Wonders

SIHH, em Genebra: antigo evento virou agora Watches & Wonders (SIHH/Grégory Maillot/Divulgação)
SIHH, em Genebra: antigo evento virou agora Watches & Wonders (SIHH/Grégory Maillot/Divulgação)
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Publicado em 16 de outubro de 2019 às, 12h06.

Última atualização em 16 de outubro de 2019 às, 13h10.

O nome era para lá de pomposo: Salon International de la Haute Horlogerie Genève. Em português, Salão Internacional da Alta Relojoaria de Genebra, ou SIHH. Era controlado pelo grupo Richemont, segundo maior conglomerado de luxo do mundo, com faturamento de 11 bilhões de dólares em 2018 e que conta em seu portfólio com marcas como Montblanc, Cartier, Audemars Piguet e Panerai.

Desde 1991, essas marcas exibiam nos corredores do Palexpo, um enorme e luxuoso salão de eventos de Genebra, bem ao lado da sede da ONU, seus principais lançamentos. Os relógios de movimento mecânico apresentados podiam começar a um preço de 2 000 euros, mas atingiam a casa de sete cifras, no caso de complicações mais sofisticadas.

Em estandes luxuosos, durante quatro dias, os relógios eram exibidos apenas para revendedores, varejistas e jornalistas especializados. Conseguir uma credencial era missão restrita a esses grupos. Exclusividade dava o tom do evento.

Entre as apresentações das marcas, nos intervalos, os convidados podiam almoçar ou tomar um vinho de boa safra nos restaurantes de alto padrão espalhados pelo salão. Tudo all inclusive e com tratamento cinco estrelas. Os relógios apresentados ficavam sob embargo e eram lançados aos poucos durante o próximo ano. Em janeiro deste ano, Exame VIP cobriu as novidades da SIHH. 

SIHH, em Genebra: novo nome de olho no futuro

SIHH, em Genebra: novo nome de olho no futuro (SIHH/Grégory Maillot/Divulgação)

Mas eis que a era das redes sociais foi chegando aos poucos e tudo mudou. Celebridades contratadas pelas marcas começaram a aparecer cada vez mais, assim como blogueiros e influenciadores. Neste ano, a hashtag #SIHH2019 foi usada em 380 000 posts do Instagram, atingindo 260 milhões de pessoas. A aura de exclusividade foi se se esvaindo e os consumidores passaram a exigir informações em tempo real.

Nesse contexto, hoje o organizador do SIHH, a Fondation de la Haute Horlogerie (FHH), anunciou mudanças radicais no evento. A começar pelo nome. O salão passa a se chamar Watches & Wonders Geneva. Sai a requintada língua francesa, entra o globalizado idioma inglês.

A principal mudança, além do nome, é que agora o público poderá ver os lançamentos mais recentes das marcas ao mesmo tempo que a imprensa e os varejistas. Está certo que o preço não é tão amigável: o acesso ao salão custará 300 francos suíços, moeda com cotação bem próxima ao euro. Mas pensando que antes esse acesso era terminantemente proibido, trata-se de uma grande abertura.

“A ideia é oferecer aos visitantes os mesmos serviços que atualmente damos a varejistas, imprensa e convidados”, anunciou Fabienne Lupo, presidente e diretora administrativa da FHH. “Teremos serviços de catering gratuitos e itinerários personalizados para mostrar os destaques e potencializar a experiência do visitante. Será uma ótima oportunidade para as pessoas terem acesso a um dos shows mais bonitos do mundo.”

No último ano, a SIHH já havia liberado o último dia para o acesso ao público. Mas era quando imprensa e revendedores já haviam visto tudo e não precisavam mais estar lá.

Rolex Sea Dweller

Rolex Sea Dweller (Rolex/Divulgação)

Outra mudança importante foi a data. O salão surgiu como uma dissidência da Baselworld, o outro salão importante do setor, em que participavam outros grupos e marcas independentes como a Rolex. Com o crescimento e a incorporação de novas e badaladas grifes, o grupo Richemont decidiu fazer uma mostra própria. Assim, o SIHH acontecia em janeiro, em Genebra, e a Baselword em abril, na Basiléia.

Agora, a Watches & Wonders passa a acontecer também em abril, próximo ao evento da Baselworld. Os dois eventos continuarão a acontecer nas duas cidades. Mas estas estão separadas por apenas 250 quilômetros – trata-se da pequena Suíça, lembra? A proximidade das datas facilitará muito a logística de imprensa, convidados e revendedores, que muitas vezes se dividiam e optavam por visitar apenas um ou outro evento.

A proliferação de smartwatches, com destaque para o Apple Wach, fragilizou este mercado, que já era destinado a poucos. A proximidade das datas é uma maneira de as marcas juntarem forças.

A ideia é também fortalecer o conceito global da Watches & Wonders, que já inclui uma apresentação em Miami. O evento em Genebra será dividido em duas áreas principais: o Salon e o In the City.

Relógio da Panerai

Relógio da Panerai: revolucionário (Panerai/Divulgação)

O chamado Salon continuará a acontecer no Palexpo, com a apresentação das cerca de 30 maisons do grupo e poucas marcas convidadas, caso da Hermès. O Salon Lab, iniciativa lançada em 2018, continuará destacando as últimas inovações e produtos mais tecnológicos, enquanto o Salon Live será usado para apresentações ao vivo e palestras de designers e CEOs das marcas.

A parte In the City da mostra acontecerá em outros lugares de Genebra, como boutiques e espaços privados, com passeios e visitas a manufaturas que ficam próximas à cidade. Serão eventos gratuitos e projetados para experiências ao público tradicional dos relógios -, claro, a novos consumidores.

 “Queremos falar sobre relojoaria de outra forma”, diz Fabienne Lupo. “Salões de relógios não podem mais ser apenas produtos para serem vistos no smartphone. As marcas precisam de algo mais do que apresentações. O SIHH era um evento comercial. Com a Watches & Wonders, queremos levar um público que antes ficava apenas nos bastidores. ”

IWC Aquatimer

IWC Aquatimer (IWC/Reprodução)