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Blockchain e o ‘novo normal’ da indústria de óleo e gás

A indústria de O&G precisa acelerar projetos com tecnologia blockchain para acompanhar a mudança de comportamento do consumidor e outros fatores do mercado

(MAURO PIMENTEL/AFP/Getty Images)
LJ

Lucas Josa

Publicado em 28 de agosto de 2021 às 11h55.

Apesar de algumas pessoas o considerarem polêmico, sou um grande fã do empresário e entusiasta de criptoativos Elon Musk.

Como arquiteto de soluções, o Musk me inspira com as mudanças que ele lidera nos mercados de pagamentos (PayPal), eletrificação de veículos (Tesla) e exploração espacial (SpaceX). No entanto, você não precisa admirá-lo para perceber que os veículos elétricos (VEs) estão se tornando parte de nossas vidas diárias.

De acordo com uma pesquisa recente da Consumer Reports, 71% dos motoristas dos Estados Unidos pretendem comprar um VE no futuro, com quase um terço interessado em um VE para sua próxima compra de veículo. Além da Tesla, a Volkswagen, General Motors (Chevrolet) e Ford investem bilhões de dólares anualmente no desenvolvimento desses novos produtos.

Mas essa mudança no comportamento do consumidor em relação aos VEs não é a única tendência atual que impulsiona a transformação digital da indústria de óleo e gás (O&G). Nos últimos anos, a volatilidade dos preços e os níveis recordes de produção levaram a cortes de custos expressivos, exploração de recursos reduzida e demissões em massa.

Para enfrentar esse enorme desafio, alguns early adopters de novas tecnologias, como a Shell, BHP e BP, ampliaram seus investimentos em tecnologias emergentes como blockchain, IA (inteligência artificial) e IoT (Internet of Things ou Internet das Coisas).

A Shell, por exemplo, criou um centro de excelência de blockchain na sede da empresa na Holanda em 2017. O conglomerado anglo-holandês, que faturou US$ 352 bilhões em 2019, também fez investimentos estratégicos em startups de blockchain, como a VAKT (Inglaterra), Komgo (Suíça) e LO3 Energy (Estados Unidos).

Esses pioneiros querem cada vez mais eliminar intermediários, aumentar a transparência e reduzir a carga administrativa das transações de O&G, que só em 2019 movimentaram mais de US$ 388 bilhões.

Confiança de ponta a ponta

As transações de O&G são um cenário ideal para a utilização de blockchains, como a Ethereum. Essas transações costumam ter valores muito altos – comparáveis a operações interbancárias – e envolvem muitas partes, como fornecedores, carregadores e terceiros, em diferentes países.

De acordo com um relatório recente da Deloitte, a adoção de contratos inteligentes na indústria de O&G economiza tempo e custos na termos legais e registros de rastreamento. Além disso, as autoridades governamentais podem acessar com mais facilidade as partes relevantes desses contratos para auditar ou pré-aprovar o tratamento fiscal.

O setor pode ainda utilizar contratos inteligentes para evitar mal-entendidos, disputas e fraudes que elevam significativamente os custos de pagamentos internacionais (cross-border) ou transferências de propriedade. Atualmente, quase 10% das transações de óleo cru são disputadas, o que equivale a cerca de US$ 150 bilhões a cada ano.

Projetos que geram projetos

Para agilizar a adoção da tecnologia blockchain na indústria de O&G, alguns líderes do setor formaram consórcios globais, como o Energy Web (Shell) e Blockchain for Energy (Chevron, ExxonMobil e Repsol).

O Energy Web, por exemplo, lançou em 2017 software de middleware e kits de desenvolvimento de software (ou SDKs, na sigla em inglês) para promover o desenvolvimento de dApps (descentralized apps ou aplicações descentralizadas) para uma blockchain própria.

No Brasil, a Petrobras testou a AssinadorBR, uma ferramenta de assinatura digital de documentos baseada na Ethereum, entre 2018 e 2019. A maior petroleira brasileira também avaliou o Sistema Brasileiro de Poderes (SBP), uma ferramenta de pagamentos baseada no Hyperledger Fabric, em 2019. Nem mesmo os concorrentes mais importantes da Petrobras realizaram iniciativas como estas.

Seja como for, a indústria de O&G fatura trilhões de dólares anualmente. Então não só pode, como deve liderar o desenvolvimento do mercado – incluindo a formação de profissionais especializados – por meio de grandes projetos ou pelo menos provas de conceito, com parceiros de confiança como a Oracle.

Outra contribuição vital que o setor pode dar é acelerar o desenvolvimento de regulamentações para blockchain, inclusive para serviços financeiros, telecomunicações e varejo. Afinal, só os investimentos da Petrobras representaram 4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020.

A união faz a força

Existem muitas oportunidades na indústria de O&G para a tecnologia blockchain. Neste setor, como em muitos outros, as empresas devem escolher entre ser pioneiras e, eventualmente, transformarem seus próprios modelos de negócios e setores; ou então manter o foco em seus negócios principais e esperar que seus mercados sejam disrompidos por outros.

O ritmo em que as blockchains serão adotadas ainda não está claro e pode ser decidido, até certo ponto, por empresas maiores, que precisarão trabalhar juntas para impulsionar a inovação.

Recomendo que as empresas criem ou participem de grupos de trabalho, ou trabalhem com um parceiro confiável existente para entender essa nova tecnologia e o valor que ela pode gerar.

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Apesar de algumas pessoas o considerarem polêmico, sou um grande fã do empresário e entusiasta de criptoativos Elon Musk.

Como arquiteto de soluções, o Musk me inspira com as mudanças que ele lidera nos mercados de pagamentos (PayPal), eletrificação de veículos (Tesla) e exploração espacial (SpaceX). No entanto, você não precisa admirá-lo para perceber que os veículos elétricos (VEs) estão se tornando parte de nossas vidas diárias.

De acordo com uma pesquisa recente da Consumer Reports, 71% dos motoristas dos Estados Unidos pretendem comprar um VE no futuro, com quase um terço interessado em um VE para sua próxima compra de veículo. Além da Tesla, a Volkswagen, General Motors (Chevrolet) e Ford investem bilhões de dólares anualmente no desenvolvimento desses novos produtos.

Mas essa mudança no comportamento do consumidor em relação aos VEs não é a única tendência atual que impulsiona a transformação digital da indústria de óleo e gás (O&G). Nos últimos anos, a volatilidade dos preços e os níveis recordes de produção levaram a cortes de custos expressivos, exploração de recursos reduzida e demissões em massa.

Para enfrentar esse enorme desafio, alguns early adopters de novas tecnologias, como a Shell, BHP e BP, ampliaram seus investimentos em tecnologias emergentes como blockchain, IA (inteligência artificial) e IoT (Internet of Things ou Internet das Coisas).

A Shell, por exemplo, criou um centro de excelência de blockchain na sede da empresa na Holanda em 2017. O conglomerado anglo-holandês, que faturou US$ 352 bilhões em 2019, também fez investimentos estratégicos em startups de blockchain, como a VAKT (Inglaterra), Komgo (Suíça) e LO3 Energy (Estados Unidos).

Esses pioneiros querem cada vez mais eliminar intermediários, aumentar a transparência e reduzir a carga administrativa das transações de O&G, que só em 2019 movimentaram mais de US$ 388 bilhões.

Confiança de ponta a ponta

As transações de O&G são um cenário ideal para a utilização de blockchains, como a Ethereum. Essas transações costumam ter valores muito altos – comparáveis a operações interbancárias – e envolvem muitas partes, como fornecedores, carregadores e terceiros, em diferentes países.

De acordo com um relatório recente da Deloitte, a adoção de contratos inteligentes na indústria de O&G economiza tempo e custos na termos legais e registros de rastreamento. Além disso, as autoridades governamentais podem acessar com mais facilidade as partes relevantes desses contratos para auditar ou pré-aprovar o tratamento fiscal.

O setor pode ainda utilizar contratos inteligentes para evitar mal-entendidos, disputas e fraudes que elevam significativamente os custos de pagamentos internacionais (cross-border) ou transferências de propriedade. Atualmente, quase 10% das transações de óleo cru são disputadas, o que equivale a cerca de US$ 150 bilhões a cada ano.

Projetos que geram projetos

Para agilizar a adoção da tecnologia blockchain na indústria de O&G, alguns líderes do setor formaram consórcios globais, como o Energy Web (Shell) e Blockchain for Energy (Chevron, ExxonMobil e Repsol).

O Energy Web, por exemplo, lançou em 2017 software de middleware e kits de desenvolvimento de software (ou SDKs, na sigla em inglês) para promover o desenvolvimento de dApps (descentralized apps ou aplicações descentralizadas) para uma blockchain própria.

No Brasil, a Petrobras testou a AssinadorBR, uma ferramenta de assinatura digital de documentos baseada na Ethereum, entre 2018 e 2019. A maior petroleira brasileira também avaliou o Sistema Brasileiro de Poderes (SBP), uma ferramenta de pagamentos baseada no Hyperledger Fabric, em 2019. Nem mesmo os concorrentes mais importantes da Petrobras realizaram iniciativas como estas.

Seja como for, a indústria de O&G fatura trilhões de dólares anualmente. Então não só pode, como deve liderar o desenvolvimento do mercado – incluindo a formação de profissionais especializados – por meio de grandes projetos ou pelo menos provas de conceito, com parceiros de confiança como a Oracle.

Outra contribuição vital que o setor pode dar é acelerar o desenvolvimento de regulamentações para blockchain, inclusive para serviços financeiros, telecomunicações e varejo. Afinal, só os investimentos da Petrobras representaram 4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020.

A união faz a força

Existem muitas oportunidades na indústria de O&G para a tecnologia blockchain. Neste setor, como em muitos outros, as empresas devem escolher entre ser pioneiras e, eventualmente, transformarem seus próprios modelos de negócios e setores; ou então manter o foco em seus negócios principais e esperar que seus mercados sejam disrompidos por outros.

O ritmo em que as blockchains serão adotadas ainda não está claro e pode ser decidido, até certo ponto, por empresas maiores, que precisarão trabalhar juntas para impulsionar a inovação.

Recomendo que as empresas criem ou participem de grupos de trabalho, ou trabalhem com um parceiro confiável existente para entender essa nova tecnologia e o valor que ela pode gerar.

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