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Tom & Jerry e a geração hiperconectada

Quem diria que ver uma criança lendo gibi chamaria a atenção das pessoas?

Uso de celular para redes sociais (Getty Images)

Uso de celular para redes sociais (Getty Images)

Publicado em 27 de abril de 2025 às 08h00.

Última atualização em 27 de abril de 2025 às 10h19.

Mais uma cena curiosa aconteceu ontem. Estávamos com nossos filhos em um restaurante, em plena Serra Gaúcha, quando, de repente, um estranho se aproximou da nossa mesa. Ele sorriu e saudou o fato de o nosso caçula, de 11 anos, o Henrique, estar entretido lendo seu gibi da Turma da Mônica. Aliás, ele não sai de casa sem os seus gibis na mochila. São inseparáveis.

Sim, ele tem um tablet, mas só pode usar por uma hora e meia por dia e, normalmente, para jogar com os colegas à noite. Além de, é claro, usá-lo para fazer pesquisas e trabalhos da escola.

Quem diria que ver uma criança lendo gibi chamaria a atenção das pessoas? O mundo mudou muito nas últimas décadas. Lembro que, no meu tempo, eu esperava ansiosamente o domingo à noite para assistir aos 30 minutos de episódios da Pantera Cor-de-Rosa na TV. Hoje, a palavra “esperar” não consta no vocabulário das crianças e adolescentes. Basta dar um clique e tudo está disponível na hora.

Como diz o autor Jonathan Haidt, no seu livro A Geração Ansiosa: “O que temos visto são jovens hiperconectados, dependentes de smartphones e de outros aparelhos com acesso à internet, e que sofrem de problemas como privação do sono, atenção fragmentada, vício, solidão, comparação social e perfeccionismo.”

Voltando ao passeio na Serra Gaúcha, naquele mesmo dia entramos em uma loja especializada em Funko Pop. Trata-se daqueles bonequinhos de vinil colecionáveis — com 10 cm de altura — que se tornaram ícones da cultura pop mundial. São mais de 20 mil modelos, representando todos os personagens que você puder imaginar (e muitos que nunca sequer ouviu falar): Pokémon, Naruto, E.T., Harry Potter, Fortnite, e por aí vai. Ou seja, tal qual a rolagem infinita das redes sociais, os Funko Pops também parecem não ter fim…

Os vendedores da loja dos Funko Pop, jovens e bem treinados, se comunicavam na linguagem dos adolescentes. Para minha surpresa, avistei um Funko Pop do Tom (sem o Jerry) perdido bem no alto de uma prateleira. O vendedor, ao me ver pegar o Tom, exclamou:

“O Tom & Jerry fizeram parte da minha infância. Fico triste em ver que a garotada hoje em dia não saiba quem são. Uma pena!”

Saí da loja pensativo. Tal qual a maioria das pessoas, tenho smartphone, tablet e notebook. Sou usuário do WhatsApp, Facebook, Instagram e LinkedIn. Sou assinante de mais de uma dezena de aplicativos. Mas, no fundo, tenho mesmo é saudades dos bons e velhos tempos do gibi, do Forte Apache, do autorama e, é claro, da persistência de Tom e da astúcia de Jerry.

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