Obras de arte são um bom investimento? Fundadora da SP-Arte responde
O investimento em obras de arte com potencial de valorização pode representar uma boa oportunidade de diversificação das carteiras, sobretudo no Brasil
Daniel Salles
Publicado em 12 de abril de 2021 às 06h00.
Peço licença para contar uma pequena história no começo desta coluna: em 2002, uma amiga comprou um apartamento na Rua Piauí, no bairro de Higienópolis, em São Paulo. Para fazer valer o investimento, contratou um bom arquiteto que sugeriu transformar o espaço em um loft – com cômodos amplos, todos integrados. Uma vez decidido o desenho da planta, era importante pensar também na decoração. Foi então que o arquiteto propôs a compra de obras de arte de grande porte, em especial, pinturas grandes e coloridas, que pudessem ocupar o espaço e imprimir personalidade ao apartamento recém-reformado. Na época, essa amiga foi a uma galeria de arte por sugestão do arquiteto e comprou várias obras, entre elas duas telas de quase dois metros de uma jovem artista carioca chamada Beatriz Milhazes. Corta para 2018: Milhazes tornou-se uma das principais expoentes da arte contemporânea brasileira e as duas obras compradas para decoração passaram a valer três vezes mais que o valor do próprio apartamento.
Seu dinheiro está seguro? Aprenda a proteger seu patrimônio
É óbvio que obras de arte têm um indiscutível valor cultural, e são representações do espírito de um tempo, mas precisamos estar atentos a uma dimensão importantíssima desses bens: arte é uma forma de investimento e construção de patrimônio. E, claro, isso não começou com minha amiga na Rua Piauí. Desde a época do Egito Antigo, obras de arte vêm sendo utilizadas como ativo patrimonial, simbolizando riqueza e status. Guerras já foram travadas em torno delas e Napoleão, que não era bobo nem nada, ao invadir a Itália no século 18, trouxe para casa uma série de obras dos grandes mestres da Renascença.
Sei também que, se compararmos com o século 18, o cenário é bem mais complexo hoje em dia. Temos uma ampla gama de galerias de arte, feiras e leilões, em um mercado altamente profissional e múltiplo. Para se ter uma ideia, o relatório The Art Market Report Basel & UBS estima que, em 2019, o valor das negociações em obras de arte chegou a 64,1 bilhões de dólares. E apesar de não haver dados certeiros a respeito do valor total de obras de arte existentes no mundo, essa cifra certamente supera a marca dos trilhões de dólares. Tendo isso em vista, nada mais natural que, ao longo do tempo, e especialmente nos últimos vinte anos, a arte tenha se tornado um importante elemento no patrimônio de colecionadores e investidores. Mas será que arte é, de fato, um bom investimento?
Referência no assunto, os professores da New York University Jianping Mei e Michael Moses nos ajudam a responder a essa pergunta com o Mei Moses Art Index. Lançado em 2002, o índice é formado a partir de um banco de dados de vendas repetidas de determinadas obras de arte, registradas desde o século 19, o que nos ajuda a entender o nível de valorização que os trabalhos rastreados tiveram ao longo do tempo. Em 2015 (um dos últimos anos ao qual tivemos acesso ao índice devido à aquisição da metodologia pela casa de leilão Sotheby’s), o retorno médio anual do investimento em obras de arte em relação aos últimos cinquenta anos chegava a quase 8% ao ano em dólaresdolares – uma porcentagem que não pode ser ignorada pelos melhores Portfolio Managers.
Além disso, o investimento em obras de arte com real potencial de valorização pode representar uma boa oportunidade de diversificação das carteiras, sobretudo em um cenário como o brasileiro, de baixo desempenho econômico de alguns ativos. O lendário colecionador Raul Forbes, ex-proprietário do "Abaporu", de Tarsila do Amaral, tem uma máxima que cabe muito aqui: “Eu nunca comprei arte como investimento, mas foi o melhor investimento que eu fiz.”
Por mais que o mercado de arte tenha suas peculiaridades, investir em arte tem procedimentos parecidos como, por exemplo, aplicar recursos em um fundo de investimento. Da mesma maneira que é importante buscar detalhes sobre o perfil do gestor, os ativos aos quais aquele fundo se dedica e os últimos resultados alcançados por ele, é importante pesquisar em profundidade sobre a obra em questão e a história por trás dela, sobre o artista, seu histórico de exposições e venda em leilões, bem como sobre a trajetória da galeria com a qual você fará negócio.
E assim como no mercado financeiro, quanto maior o risco, maior o potencial de retorno. Comprar uma obra de um artista bem estabelecido como Portinari, Volpi ou Picasso é sinônimo de um retorno mais seguro, mas também exige um investimento inicial maior e, por consequência, uma menor margem de ganho. Por outro lado, investir em jovens artistas, como minha amiga fez com as obras de Beatriz Milhazes, apesar de ser um risco maior –--, afinal não é possível saber ao certo como aquele trabalho irá valorizar –--, pode representar uma grata surpresa.
À medida que as obras de arte tornam-se também uma classe de ativo, começam a surgir serviços que permitem gerir e alavancar melhor esse patrimônio. Hoje já temos no mercado bancos e empresas financeiras especializadas em oferecer crédito tomando obras de arte como garantia, permitindo ao colecionador o acesso a recursos imediatos sem que ele tenha que se desfazer da obra. Esse é um mercado que já alcançou 60 bilhões de dólares ao redor do mundo e, cá no Brasil, existem já empresas pioneiras nesse segmento, como a Finarte que oferece gestão e ativação do patrimônio em arte.
Apesar de obras de arte possuírem desde sempre um alto valor econômico, além do cultural, muitos investidores ainda relutam em entrar nesse mercado, por falta de conhecimento ou confiança no que comprar. Para facilitar a jornada dos que se iniciam agora, pretendo abordar nas próximas colunas temas essenciais que giram em torno da aquisição e da proteção desse ativo patrimonial, como a contratação de seguros para coleções ou de serviços de art advisory, o compartilhamento de métodos de conservação e catalogação e quais instrumentos de financiamento e gestão podem estar associados a uma coleção de arte. Colecionadores, novos e estabelecidos, espero vocês por aqui!
Peço licença para contar uma pequena história no começo desta coluna: em 2002, uma amiga comprou um apartamento na Rua Piauí, no bairro de Higienópolis, em São Paulo. Para fazer valer o investimento, contratou um bom arquiteto que sugeriu transformar o espaço em um loft – com cômodos amplos, todos integrados. Uma vez decidido o desenho da planta, era importante pensar também na decoração. Foi então que o arquiteto propôs a compra de obras de arte de grande porte, em especial, pinturas grandes e coloridas, que pudessem ocupar o espaço e imprimir personalidade ao apartamento recém-reformado. Na época, essa amiga foi a uma galeria de arte por sugestão do arquiteto e comprou várias obras, entre elas duas telas de quase dois metros de uma jovem artista carioca chamada Beatriz Milhazes. Corta para 2018: Milhazes tornou-se uma das principais expoentes da arte contemporânea brasileira e as duas obras compradas para decoração passaram a valer três vezes mais que o valor do próprio apartamento.
Seu dinheiro está seguro? Aprenda a proteger seu patrimônio
É óbvio que obras de arte têm um indiscutível valor cultural, e são representações do espírito de um tempo, mas precisamos estar atentos a uma dimensão importantíssima desses bens: arte é uma forma de investimento e construção de patrimônio. E, claro, isso não começou com minha amiga na Rua Piauí. Desde a época do Egito Antigo, obras de arte vêm sendo utilizadas como ativo patrimonial, simbolizando riqueza e status. Guerras já foram travadas em torno delas e Napoleão, que não era bobo nem nada, ao invadir a Itália no século 18, trouxe para casa uma série de obras dos grandes mestres da Renascença.
Sei também que, se compararmos com o século 18, o cenário é bem mais complexo hoje em dia. Temos uma ampla gama de galerias de arte, feiras e leilões, em um mercado altamente profissional e múltiplo. Para se ter uma ideia, o relatório The Art Market Report Basel & UBS estima que, em 2019, o valor das negociações em obras de arte chegou a 64,1 bilhões de dólares. E apesar de não haver dados certeiros a respeito do valor total de obras de arte existentes no mundo, essa cifra certamente supera a marca dos trilhões de dólares. Tendo isso em vista, nada mais natural que, ao longo do tempo, e especialmente nos últimos vinte anos, a arte tenha se tornado um importante elemento no patrimônio de colecionadores e investidores. Mas será que arte é, de fato, um bom investimento?
Referência no assunto, os professores da New York University Jianping Mei e Michael Moses nos ajudam a responder a essa pergunta com o Mei Moses Art Index. Lançado em 2002, o índice é formado a partir de um banco de dados de vendas repetidas de determinadas obras de arte, registradas desde o século 19, o que nos ajuda a entender o nível de valorização que os trabalhos rastreados tiveram ao longo do tempo. Em 2015 (um dos últimos anos ao qual tivemos acesso ao índice devido à aquisição da metodologia pela casa de leilão Sotheby’s), o retorno médio anual do investimento em obras de arte em relação aos últimos cinquenta anos chegava a quase 8% ao ano em dólaresdolares – uma porcentagem que não pode ser ignorada pelos melhores Portfolio Managers.
Além disso, o investimento em obras de arte com real potencial de valorização pode representar uma boa oportunidade de diversificação das carteiras, sobretudo em um cenário como o brasileiro, de baixo desempenho econômico de alguns ativos. O lendário colecionador Raul Forbes, ex-proprietário do "Abaporu", de Tarsila do Amaral, tem uma máxima que cabe muito aqui: “Eu nunca comprei arte como investimento, mas foi o melhor investimento que eu fiz.”
Por mais que o mercado de arte tenha suas peculiaridades, investir em arte tem procedimentos parecidos como, por exemplo, aplicar recursos em um fundo de investimento. Da mesma maneira que é importante buscar detalhes sobre o perfil do gestor, os ativos aos quais aquele fundo se dedica e os últimos resultados alcançados por ele, é importante pesquisar em profundidade sobre a obra em questão e a história por trás dela, sobre o artista, seu histórico de exposições e venda em leilões, bem como sobre a trajetória da galeria com a qual você fará negócio.
E assim como no mercado financeiro, quanto maior o risco, maior o potencial de retorno. Comprar uma obra de um artista bem estabelecido como Portinari, Volpi ou Picasso é sinônimo de um retorno mais seguro, mas também exige um investimento inicial maior e, por consequência, uma menor margem de ganho. Por outro lado, investir em jovens artistas, como minha amiga fez com as obras de Beatriz Milhazes, apesar de ser um risco maior –--, afinal não é possível saber ao certo como aquele trabalho irá valorizar –--, pode representar uma grata surpresa.
À medida que as obras de arte tornam-se também uma classe de ativo, começam a surgir serviços que permitem gerir e alavancar melhor esse patrimônio. Hoje já temos no mercado bancos e empresas financeiras especializadas em oferecer crédito tomando obras de arte como garantia, permitindo ao colecionador o acesso a recursos imediatos sem que ele tenha que se desfazer da obra. Esse é um mercado que já alcançou 60 bilhões de dólares ao redor do mundo e, cá no Brasil, existem já empresas pioneiras nesse segmento, como a Finarte que oferece gestão e ativação do patrimônio em arte.
Apesar de obras de arte possuírem desde sempre um alto valor econômico, além do cultural, muitos investidores ainda relutam em entrar nesse mercado, por falta de conhecimento ou confiança no que comprar. Para facilitar a jornada dos que se iniciam agora, pretendo abordar nas próximas colunas temas essenciais que giram em torno da aquisição e da proteção desse ativo patrimonial, como a contratação de seguros para coleções ou de serviços de art advisory, o compartilhamento de métodos de conservação e catalogação e quais instrumentos de financiamento e gestão podem estar associados a uma coleção de arte. Colecionadores, novos e estabelecidos, espero vocês por aqui!