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Volta da Licença Maternidade, um lado bom da crise

Atualmente, cerca de 50% das mulheres não permanecem no mercado de trabalho num período de 12 meses após a licença

Maternidade: o afastamento máximo para lincença maternidade é de 180 dias. (Jill Lehmann Photography/Getty Images)
Maternidade: o afastamento máximo para lincença maternidade é de 180 dias. (Jill Lehmann Photography/Getty Images)
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Fernanda Consorte

Publicado em 17 de abril de 2020 às, 19h10.

Última atualização em 17 de abril de 2020 às, 19h11.

Um dos grandes desafios (entre vários) das mulheres no mercado de trabalho, é a volta da licença maternidade. Apesar desse assunto ter evoluído muito nos últimos anos, empresas passaram a ao menos terem discussões sobre o tema; a grande maioria das mulheres ainda se sente insegura, ou pelo ou menos perdida, após meses de imersão em hormônios e noites mal dormidas.

Essa sensação não é à toa. Segundo dados de uma pesquisa mais ou menos recente da FGV, cerca de 50% das mulheres não permanecem no mercado de trabalho num período de 12 meses após a volta da licença. A maioria destas demissões ocorre por parte do empregador, que entende que a mulher será menos produtiva, colocando o filho em primeiro lugar. E não preciso nem falar, que isso não acontece em absoluto com homens que tem filhos.

Eu volto plenamente as minhas funções nesta semana (sem realmente ter parado) da minha segunda licença maternidade. E, se por um lado, volto mais segura na minha posição e local de trabalho, por outro lado, volto no meio da maior crise da história moderna, que certamente terá como consequência um aumento galopante da taxa de desemprego. Digo isto porque embora o nível de incerteza seja assustador – e cabe a nós, sobretudo os que tem como função dar opinião, reconhecer que nada sabemos do que está por vir –, vivemos em um país em que a desigualdade social grita, e que numa crise como essa ela poderá esgoelar.

Por outro lado, voltar da licença e seguir trabalhando em casa, seguir com a amamentação e contato intenso com meus filhos gera sim alento. E nesse sentido, pode haver saídas positivas.

O Brasil ainda padece de uma lei trabalhista rígida, o que impede o ritmo mais acelerado de avanços na flexibilidade de trabalho comparado ao que vemos em outros países. Segundo o IBGE, somente cerca de 5% dos trabalhadores brasileiros aderem ao home office. Desta forma, passada essa pandemia, talvez as empresas repensem custos e conceitos, e percebam que há mais produtividade num ambiente mais flexível. E, nesse cenário, talvez a volta da licença maternidade possa ser mais branda.

Em linhas gerais, acredito mesmo que o momento atual servirá de ensinamentos e talvez maior cooperação mundial, seja na escala governamental como na escala corporativa. Sensatos sobressairão.

Fernanda Consorte - Economista-chefe e estrategista de câmbio do banco Ourinvest