Sobre medidas econômicas e coisas que não sei
Ficamos opinando sobre como agir, mas não temos certeza sobre o que está acontecendo e onde isso vai dar
Janaína Ribeiro
Publicado em 1 de abril de 2020 às 16h21.
Nas últimas 3 semanas, todos nós, sobretudo os que na profissão têm a prática de dar opinião, viramos médicos, infectologistas e virologistas. Eu mesma me peguei passando parte de minha apresentação para clientes falando sobre “possível ciclo do COVID-19” (oi????). Mas a grande verdade é que eu e praticamente ninguém sabe de nada. Ficamos opinando sobre como agir, mas não temos certeza sobre o que está acontecendo e onde isso vai dar.
Sabemos que há um vírus pandêmico, que tem feito países ao redor do mundo pararem. Quero acreditar que há um propósito maior para tudo isso, que o mundo vai melhorar após (quando?) essa pandemia, que haverá uma união governamental global e a percepção de que são necessários investimentos em causas válidas e humanitárias. Ou seja, coisas que eu não sei.
Dito isso, a segunda percepção é que enfrentaremos problemas econômicos devido ao confinamento a que estamos necessariamente submetidos. Quão intenso, obviamente, eu e mais ninguém consegue responder, mas há de se notar que será intenso; pois estamos falando de quase toda a força trabalhadora brasileira parada, esperando a resolução dessa terrível situação (salvo, claro, os nobres profissionais de saúde e toda cadeia de suprimentos).
Mas governos do mundo todo têm se antecipado e anunciado diversas medidas para atenuar essa avalanche que estamos vivendo. O governo brasileiro não está diferente. Na semana passada, o ministro da Economia veio a público anunciar um pacote de medidas - várias já anunciadas, que alcançam um valor total de cerca de R$ 750 bilhões ou 12% do PIB.
O número, embora robusto, tem suas artimanhas. E dessa parte, eu acredito que sei. E, me apropriarei desse período de incertezas e contradições, para dizer que “vou esmiuçar essas medidas, mas em linhas gerais”, é claro.
Cerca de R$ 500 bilhões do montante acima mencionado vêm de dinheiro que já estava na economia e será “recirculado” ou “redirecionado”. As medidas monetárias com foco em liberação de compulsório somam belos R$ 350 bilhões; assim como a antecipação de benefícios (FGTS, 13º, abono salarial, etc.) somam ~R$ 150 bilhões e foram trazidas do quarto trimestre deste ano para o presente.
Mas há sim algo novo por aí, cerca de R$ 150 bilhões de dinheiro novo, a partir do decreto de calamidade pública, que permite ao governo gastar sem pensar na meta fiscal.
Nesse montante, destaco R$ 3 bilhões do “bolsa família sem burocracia”, ou seja, quem pediu ganhou!; R$50 bilhões de auxílio emergencial para informais (AEI), beneficiando cerca de 40 milhões de trabalhadores informais que receberão R$600 reais por mês, por um período de até 3 meses; e R$ 50 bilhões para complementação salarial para quem sofrer redução do pagamento mensal, ou seja, pessoas que recebem até três salários mínimos e tiverem esse valor reduzido por conta da crise, poderão receber um complemento do governo. Assim, os empregados não terão a renda afetada enquanto os empregadores conseguirão aliviar seus fluxos de caixa.
Finalmente, o governo está escrevendo uma Medida Provisória (MP) para que trabalhadores tenham acesso à crédito, majoritariamente do BNDES, desde que o valor da parcela seja debitado da folha de pagamento, como um crédito consignado. Essa medida custaria cerca de R$ 40 bilhões aos cofres públicos. Segundo o ministro Paulo Guedes, essa medida responde ao possível “empossamento de liquidez” do sistema bancário, ou seja, os bancos privados pagam menos compulsórios, mas não emprestam por medo de inadimplência.
O restante está em estados e municípios: desde dinheiro novo para o sistema de saúde, como – dinheiro velho de suspensão e renegociação de dívida, para que eles direcionem para reestabelecimento da economia pós-pandemia.
Tudo isso, meus amigos leitores, me parece bastante importante, mesmo que boa parte não seja dinheiro novo. Contudo se será suficiente? ah... daí entramos na seara de coisas que não sei...
Fernanda Consorte – Economista-chefe e estrategista de Câmbio do Banco Ourinvest
Nas últimas 3 semanas, todos nós, sobretudo os que na profissão têm a prática de dar opinião, viramos médicos, infectologistas e virologistas. Eu mesma me peguei passando parte de minha apresentação para clientes falando sobre “possível ciclo do COVID-19” (oi????). Mas a grande verdade é que eu e praticamente ninguém sabe de nada. Ficamos opinando sobre como agir, mas não temos certeza sobre o que está acontecendo e onde isso vai dar.
Sabemos que há um vírus pandêmico, que tem feito países ao redor do mundo pararem. Quero acreditar que há um propósito maior para tudo isso, que o mundo vai melhorar após (quando?) essa pandemia, que haverá uma união governamental global e a percepção de que são necessários investimentos em causas válidas e humanitárias. Ou seja, coisas que eu não sei.
Dito isso, a segunda percepção é que enfrentaremos problemas econômicos devido ao confinamento a que estamos necessariamente submetidos. Quão intenso, obviamente, eu e mais ninguém consegue responder, mas há de se notar que será intenso; pois estamos falando de quase toda a força trabalhadora brasileira parada, esperando a resolução dessa terrível situação (salvo, claro, os nobres profissionais de saúde e toda cadeia de suprimentos).
Mas governos do mundo todo têm se antecipado e anunciado diversas medidas para atenuar essa avalanche que estamos vivendo. O governo brasileiro não está diferente. Na semana passada, o ministro da Economia veio a público anunciar um pacote de medidas - várias já anunciadas, que alcançam um valor total de cerca de R$ 750 bilhões ou 12% do PIB.
O número, embora robusto, tem suas artimanhas. E dessa parte, eu acredito que sei. E, me apropriarei desse período de incertezas e contradições, para dizer que “vou esmiuçar essas medidas, mas em linhas gerais”, é claro.
Cerca de R$ 500 bilhões do montante acima mencionado vêm de dinheiro que já estava na economia e será “recirculado” ou “redirecionado”. As medidas monetárias com foco em liberação de compulsório somam belos R$ 350 bilhões; assim como a antecipação de benefícios (FGTS, 13º, abono salarial, etc.) somam ~R$ 150 bilhões e foram trazidas do quarto trimestre deste ano para o presente.
Mas há sim algo novo por aí, cerca de R$ 150 bilhões de dinheiro novo, a partir do decreto de calamidade pública, que permite ao governo gastar sem pensar na meta fiscal.
Nesse montante, destaco R$ 3 bilhões do “bolsa família sem burocracia”, ou seja, quem pediu ganhou!; R$50 bilhões de auxílio emergencial para informais (AEI), beneficiando cerca de 40 milhões de trabalhadores informais que receberão R$600 reais por mês, por um período de até 3 meses; e R$ 50 bilhões para complementação salarial para quem sofrer redução do pagamento mensal, ou seja, pessoas que recebem até três salários mínimos e tiverem esse valor reduzido por conta da crise, poderão receber um complemento do governo. Assim, os empregados não terão a renda afetada enquanto os empregadores conseguirão aliviar seus fluxos de caixa.
Finalmente, o governo está escrevendo uma Medida Provisória (MP) para que trabalhadores tenham acesso à crédito, majoritariamente do BNDES, desde que o valor da parcela seja debitado da folha de pagamento, como um crédito consignado. Essa medida custaria cerca de R$ 40 bilhões aos cofres públicos. Segundo o ministro Paulo Guedes, essa medida responde ao possível “empossamento de liquidez” do sistema bancário, ou seja, os bancos privados pagam menos compulsórios, mas não emprestam por medo de inadimplência.
O restante está em estados e municípios: desde dinheiro novo para o sistema de saúde, como – dinheiro velho de suspensão e renegociação de dívida, para que eles direcionem para reestabelecimento da economia pós-pandemia.
Tudo isso, meus amigos leitores, me parece bastante importante, mesmo que boa parte não seja dinheiro novo. Contudo se será suficiente? ah... daí entramos na seara de coisas que não sei...
Fernanda Consorte – Economista-chefe e estrategista de Câmbio do Banco Ourinvest