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Resultado das Eleições EUA: Brasil deveria vestir “chinelos da humildade”

Não é falácia dizer que se os EUA têm uma perspectiva melhor de crescimento e condução política, o mundo todo sai ganhando

 (Twitter/Reprodução)
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Fernanda Consorte

Publicado em 17 de novembro de 2020 às, 11h40.

O final de semana foi de muito entusiasmo no mundo e, principalmente, nos EUA, é claro. Joe Biden ganhou as eleições nos Estados Unidos, gerando uma melhor percepção e uma guinada de 180 graus na condução econômica da principal economia no mundo. Diante do tamanho dessa economia, não é falácia dizer que se os EUA têm uma perspectiva melhor de crescimento e condução política, o mundo todo sai ganhando.

De fato, o resultado já tem sido bem repercutido nos mercados financeiros. A taxa de câmbio por aqui despencou de ~US$/R$ 5,70 para US$/R$ 5,22 em 7 dias, se estabilizando em cerca de US$/R$ 5,40!

Mas, efetivamente, o que vai mudar no Brasil? Muito pouco, sobretudo no curto prazo. Trago essa informação porque vejo muito blábláblá de como o Brasil eventualmente sairia perdendo num governo Biden, porque nosso governo é “próximo” ao governo Trump.

Mas, meus colegas, o que exatamente ganhamos nestes últimos 2 anos? Aliás, o comércio bilateral entre EUA e Brasil diminuiu muito. Os EUA ainda são importantes para a balança comercial brasileira e ocupam o 2º lugar, mas sua participação caiu de 13% para ~9% nos últimos 12 meses - o menor nível em mais de 10 anos. A explicação para essa queda é a pandemia da Covid-19 (é claro), mas também a queda dos preços internacionais de petróleo (item bastante importante nessa relação comercial) e justamente restrições colocadas pelos EUA a alguns setores estratégicos brasileiros, como o siderúrgico. Verdade que as restrições não foram colocadas sobre o Brasil e sim ao setor, mas afetaram profundamente empresas brasileiras. E daí, me pergunto – cadê a amizade?

Fora isso, houve ameaça em relação ao etanol que, nesse caso, foi especificamente direcionada ao Brasil. Em agosto, Donald Trump ameaçou taxar importações brasileiras caso o Brasil não reduzisse as tarifas impostas ao etanol para os EUA. O Brasil por sua vez pediu isenção para o açúcar.

Eu sei que essas disputas são o dia a dia do comercio exterior, só as pontuo aqui para ilustrar que da mesma forma que não tivemos tantos ganhos assim na gestão Trump após elegermos Bolsonaro, também não acredito em tantas perdas da gestão de Biden. O comércio bilateral não está tão vinculado ao resultado das eleições.

Na verdade, ele até está quando pensamos em uma dimensão maior que é a guerra comercial entre EUA e China. Uma vez que essa disputa se abrande (e espera-se isso na gestão Biden), os países emergentes, e consequentemente o Brasil, se beneficiam de maior crescimento de ambas as potências. O mesmo raciocínio serve para políticas menos protecionistas.

Por fim, acredito que o Brasil deveria vestir os chinelos da humildade. E quando digo isso – embora me venha à cabeça o silêncio do Planalto e do Itamaraty em relação à vitória do próximo presidente da maior potência mundial – me refiro mesmo a entendermos que a mudança do governo norte-americano não nos afetará especificamente, porque somos pequenos e somos emergentes.

O Brasil deve, portanto, surfar nessa onda de otimismo, e seguir nosso bando, porque a mudança ocorreu, mas não é imediatista. É uma mudança que me parece uma tendência positiva. Que bom, Que sigamos no mesmo caminho.