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Rápido e fugaz, como amor de verão… assim espero

A China já começa a voltar ao normal, volta de atividades fabris, escolas com data de abertura, após 2-3 meses de intenso impacto

WUHAN: epicentro do coronavírus, a cidade começa voltar ao normal e reabrir suas fábricas. (Stringer CHINA OUT./Reuters)
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isabelarovaroto

Publicado em 17 de março de 2020 às 17h53.

Última atualização em 17 de março de 2020 às 18h04.

O coronavírus nos pegou como aquelas paixões arrebatadoras. Ninguém mais lembra da guerra comercial e da reforma da previdência, que foram os “trend topics” dos economistas em 2019. Estamos numa crise que veio forte e intensa, como amor adolescente no verão. Assim como tal, também espero que aja com a mesma fugacidade desse sentimento, que essa crise se dissipe e que, em alguns meses, já possamos voltar a nossa normalidade! Bateu saudades da evolução das reformas?

O que me traz esse otimismo é o controle efetivo que países como, a China e a Coreia do Sul conseguiram fazer em relação à propagação de novos casos. A China já começa a voltar ao normal, volta de atividades fabris, escolas com data de abertura, após 2-3 meses de intenso impacto. Lá eles lidaram com o desconhecido, na América estamos lidando com um bicho que tem, ao menos, um retrato falado.

Olhando para dentro, a verdade é que aqui no Brasil estamos só no começo desses 2-3 meses, então “cautela” é o nome do jogo. Esta situação de “circuit break” a granel e dólar em patamares estratosféricos pode seguir por um tempinho (2-3 meses?). Vale lembrar que nem começamos a ver os impactos da crise do coronavírus nos dados econômicos de lugar algum, nem mesmo na China. A combinação de restrições de movimentação e de circulação de pessoas (fechamento de escolas, lojas, estabelecimentos públicos, eventos e fronteiras) com o pânico instalado deve causar um belo machucado no PIB mundial – por exemplo, a Comissão Europeia já estima que o PIB europeu irá cair 1% em 2020, frente a uma projeção de +1,4%. Para o Brasil julgo impossível mensurar neste momento…

Pensem que essas restrições trarão um choque de demanda e de oferta, ao mesmo tempo (ninguém vende ninguém compra), para vários setores importantes para a economia. Além disso, ainda tivemos um colapso do preço do Petróleo nos últimos dias – um fator novo.

Assim, economicamente falando, a grande preocupação é se essa crise vai se tornar uma crise de crédito, nos moldes do que ocorreu em 2008. Explico: as quedas de faturamento devido às restrições mencionadas durante o controle do surto, podem gerar dificuldade para as empresas manterem o pagamento das dívidas. Os setores mais afetados devem ser óleo e gás, turismo e transporte, que representam cerca de 24% no Brasil e de 15% do PIB mundial! Vai vendo o estrago…

Considerando as lições aprendidas naquele período, já existe uma articulação muito grande entre bancos centrais de todo o mundo para tentar conter esses impactos. Nesse sentido, o BCB anunciou nesta segunda-feira uma medida para facilitar a renegociação de dívidas. Como? O BCB permitiu que os bancos não aumentem o valor do provisionamento em repactuação de crédito nos próximos 6 meses. Isso gera apetite de risco aos bancos. O órgão estimou ainda que serão cerca de R$ 3,2 bilhões em crédito, ou seja, cerca de 10% do saldo total de crédito no sistema.  Além disso, também diminui a exigência de capital dos bancos (Adicional de Conservação de Capital Principal (ACP Conservação) de 2,5% para 1,25%, pelo prazo de um ano, acionando a capacidade de concessão de crédito em torno de R$ 637 bilhões – o que representa metade da concessão do sistema nos últimos 3 meses. Mas é importante ter em mente que em épocas de crise o apetite das empresas e das famílias para tomar crédito podem ser mais baixos. Ou seja, tudo isso ajuda, mas não salva.

Há promessas de mais medidas, inclusive em termos de taxa de juros, com a reunião do Copom marcada para esta semana. Assim, passado o surto (susto?), acredito que voltaremos rápido para patamares mais “normais”. Ou seja, mais volatilidade. Exemplo: quando a China começar a voltar com suas atividades normais, pelo seu tamanho e importância dará um belo estímulo para outros emergentes – olhem o setor de agro se destacando aí…Mas até lá… O fato é que esse amor de verão, embora fugaz, deixará marcas. Quais? Ainda não sabemos. Vamos manter a cautela e aguardar.

 

Fernanda Consorte – Economista-chefe Banco Ourinvest

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O que me traz esse otimismo é o controle efetivo que países como, a China e a Coreia do Sul conseguiram fazer em relação à propagação de novos casos. A China já começa a voltar ao normal, volta de atividades fabris, escolas com data de abertura, após 2-3 meses de intenso impacto. Lá eles lidaram com o desconhecido, na América estamos lidando com um bicho que tem, ao menos, um retrato falado.

Olhando para dentro, a verdade é que aqui no Brasil estamos só no começo desses 2-3 meses, então “cautela” é o nome do jogo. Esta situação de “circuit break” a granel e dólar em patamares estratosféricos pode seguir por um tempinho (2-3 meses?). Vale lembrar que nem começamos a ver os impactos da crise do coronavírus nos dados econômicos de lugar algum, nem mesmo na China. A combinação de restrições de movimentação e de circulação de pessoas (fechamento de escolas, lojas, estabelecimentos públicos, eventos e fronteiras) com o pânico instalado deve causar um belo machucado no PIB mundial – por exemplo, a Comissão Europeia já estima que o PIB europeu irá cair 1% em 2020, frente a uma projeção de +1,4%. Para o Brasil julgo impossível mensurar neste momento…

Pensem que essas restrições trarão um choque de demanda e de oferta, ao mesmo tempo (ninguém vende ninguém compra), para vários setores importantes para a economia. Além disso, ainda tivemos um colapso do preço do Petróleo nos últimos dias – um fator novo.

Assim, economicamente falando, a grande preocupação é se essa crise vai se tornar uma crise de crédito, nos moldes do que ocorreu em 2008. Explico: as quedas de faturamento devido às restrições mencionadas durante o controle do surto, podem gerar dificuldade para as empresas manterem o pagamento das dívidas. Os setores mais afetados devem ser óleo e gás, turismo e transporte, que representam cerca de 24% no Brasil e de 15% do PIB mundial! Vai vendo o estrago…

Considerando as lições aprendidas naquele período, já existe uma articulação muito grande entre bancos centrais de todo o mundo para tentar conter esses impactos. Nesse sentido, o BCB anunciou nesta segunda-feira uma medida para facilitar a renegociação de dívidas. Como? O BCB permitiu que os bancos não aumentem o valor do provisionamento em repactuação de crédito nos próximos 6 meses. Isso gera apetite de risco aos bancos. O órgão estimou ainda que serão cerca de R$ 3,2 bilhões em crédito, ou seja, cerca de 10% do saldo total de crédito no sistema.  Além disso, também diminui a exigência de capital dos bancos (Adicional de Conservação de Capital Principal (ACP Conservação) de 2,5% para 1,25%, pelo prazo de um ano, acionando a capacidade de concessão de crédito em torno de R$ 637 bilhões – o que representa metade da concessão do sistema nos últimos 3 meses. Mas é importante ter em mente que em épocas de crise o apetite das empresas e das famílias para tomar crédito podem ser mais baixos. Ou seja, tudo isso ajuda, mas não salva.

Há promessas de mais medidas, inclusive em termos de taxa de juros, com a reunião do Copom marcada para esta semana. Assim, passado o surto (susto?), acredito que voltaremos rápido para patamares mais “normais”. Ou seja, mais volatilidade. Exemplo: quando a China começar a voltar com suas atividades normais, pelo seu tamanho e importância dará um belo estímulo para outros emergentes – olhem o setor de agro se destacando aí…Mas até lá… O fato é que esse amor de verão, embora fugaz, deixará marcas. Quais? Ainda não sabemos. Vamos manter a cautela e aguardar.

 

Fernanda Consorte – Economista-chefe Banco Ourinvest

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