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O que esperar do dólar e do Brasil em 2022?

Por um lado, nas últimas semanas vimos o câmbio beliscar R$ 5,70. Por outro lado, 2022 entra com uma sensação de esperança, considerando que temos eleições

 (Igor Golovniov/Getty Images)
(Igor Golovniov/Getty Images)
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Fernanda Consorte

Publicado em 8 de dezembro de 2021 às, 19h28.

Por Fernanda Consorte

2021 talvez tenha sido melhor que 2020. Mas, nem de perto foi o alívio que imaginávamos, a notar pelos níveis dos preços de ativos brasileiros – dezembro começa com a taxa de câmbio rodando a US$/ R$ 5,60!

Por um lado, sem dúvida, nas últimas semanas vimos a taxa de câmbio beliscar US$/R$ 5,70 pela má administração dos nossos governantes. Por outro lado, 2022 entra com uma sensação de esperança, considerando que temos eleições presidenciais e tudo pode mudar com aprendizados recentes (será?), ainda mais que há indicações a pandemia ficou para trás (será?).

O problema é que ainda temos que navegar no ano de eleições, e esses costumam ser difíceis e chatos. E não falamos isso só pela briga familiar já contratada nos grupos de whatsapp, tem muita coisa para acontecer que deve trazer ainda risco e, consequentemente, muita volatilidade aos preços dos ativos. Isso sem falar nos riscos para o cenário global. 

O resultado da pandemia tem sido a manutenção das pressões globais sobre custos. O desconforto com as pressões inflacionárias, piora pela diminuição de expectativas de crescimento da economia global, o que resulta em desafios importantes para a condução da política monetária. Já falamos em possibilidade de aumento de juros no EUA. Isso associado aos riscos quando surge novas variantes (como a atual Omicron), resulta em mais pressão (ou ao menos resistência) sobre taxa de câmbio de todos emergentes.

A China, nosso principal parceiro comercial, balançou com a polêmica envolvendo a empresa Evergrande, que deve custar 0,1% do PIB chinês nos próximos trimestres. Porém, corrigido esse problema, o crescimento ainda é importante. Assim, os preços de commodities não devem ter uma tendência de queda contínua.

Além disso, há um risco não calculado que é um possível agravamento da relação EUA-China e o tanto que isso impactaria as economias emergentes. Sem deixar de lado todas as questões socioambientais que devem estar no foco das grandes nações em 2022.

Internamente, enquanto fomos monotemáticos em pandemia em quase dois anos, em 2022 seremos monotemáticos em eleições. Tudo será ao redor da decisão das urnas em outubro.

É impossível adivinhar o que vai acontecer, quem vai ganhar, mas sabemos que eleições presidenciais por si só, historicamente, já geram muita incerteza e a popularidade do presidente atual já não está lá tão boa. Confiança na economia (ausência de incertezas) é chave para decisão de novas contratações, de investimentos e requerimento de crédito; e o Congresso foca suas energias nas articulações e votos (leia-se sem espaço para reformas). Portanto, são anos com crescimento mais modesto. 

Além disso, o governo atual quer muito ser reeleito. Considerando seu perfil e que hoje ele enfrenta uma rejeição de cerca de 60%, é bastante factível esperar medidas populistas, gastos acima do orçamento e sem contrapartidas, num ambiente fiscal fragilizado. Essa combinação joga ainda mais para baixo as expectativas de crescimento econômico, e piora e muito o retrato do Brasil. Não à toa o boletim focos do BC já flertar com PIB de 0,5% para 2022.

E já o cenário de inflação poderia ser explicado em três palavras: inércia, câmbio e fiscal. E em todas elas temos um vetor de alta de inflação. Sim, temos a taxa de juros, sim temos uma economia fraca, mas para combater esses três primeiros, tem que ter força.

Assim, acredito que hoje a taxa de câmbio hoje sintetiza a figura craquelada do Brasil. A conjuntura pouco favorável deve diminuir ainda mais a capacidade de entrada de capital no Brasil e, somada ao nível de incerteza (que aumenta) em períodos de eleições presidenciais, deve segurar a taxa de câmbio em patamares historicamente elevados. Então, ano que vem o Brasil deve seguir barato, com taxa de câmbio alta (ao menos até as eleições) e, sobretudo, muito volátil. Não achamos que baixa de US$/R$ 5,00. Deve seguir a depender do cenário eleitoral, perto dos US$/R$ 5,50.

Hoje, os maiores riscos do cenário estão justamente no cenário político e em como será a condução da corrida presidencial. E lá fora, importante ficarmos atentos a novas variantes da Covid-19 que se mostram resistentes às vacinas, assim como à agitação social pesando na recuperação global.

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