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O poder do fiscal: para o bem e para o mal

"Temos (tenho) que dar a mão à palmatória, pois a recessão econômica imaginada no início da crise covid será menor"

Economia: crescimento é desigual entre os setores (Andree Nery/Getty Images)
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marianamartucci

Publicado em 13 de outubro de 2020 às 15h28.

O terceiro trimestre de 2020, parece que foi de forte crescimento. As vendas varejistas aumentaram novamente em agosto, crescendo 3,4% frente a julho na série com ajuste sazonal, após alta de 5,0% em julho de 2020. Com esse resultado, o varejo atingiu o maior patamar da série histórica, ficando acima do recorde anterior, em outubro de 2014. Quando adicionamos as vendas de veículos e material de construção a performance foi ainda melhor, com crescimento de 4,6% em relação a julho.

Temos (tenho) que dar a mão à palmatória, pois a recessão econômica imaginada no início da crise Covid será menor. E, nesse quesito, a expansão fiscal feita pelo governo foi protagonista. O auxílio-emergencial alcançou 60 milhões de pessoas, que receberam pelo menos R$ 600. É muito dinheiro. Sem isso, certamente não estaríamos vendo esses resultados. Como eu sempre digo, enquanto política monetária ajuda, política fiscal atua “na veia”.

A atenção deve ser dada às consequências. Primeiro porque  embora tenhamos números positivos no varejo e em parte da indústria, o mercado de trabalho segue muito enfraquecido. A taxa de desemprego hoje em 13,3%, poderia estar muito, mas muito maior se não fosse o movimento de desalento.

As pessoas estão deixando de procurar emprego e, portanto, saem da estatística de desemprego. Essa decisão ocorre por uma combinação de ganhos assistencialistas (ora, se o governo está me dando dinheiro, para que vou procurar emprego?), certo desconforto com a economia,  falta de confiança que faz com que as pessoas desistam de procurar emprego e, por fim, o próprio medo da ficar doente, que também deve ter deixado pessoas em casa. Portanto o efeito de desemprego ainda não terminou.

À medida que há retomada da atividade, parte dessas pessoas desalentadas tendem a buscar emprego. Por isso, a taxa de desemprego tende a aumentar (e muito).

Segundo porque, mesmo o varejo indo de vento em popa, embora varejo seja uma parte importante de serviços, o restante desse setor tão importante para a economia não tem mostrado sinais tão auspiciosos. Mesmo a abertura das vendas varejistas mostra alguns pontos divergentes. O crescimento é desigual entre os setores. Ou seja, alguns setores acabam sendo mais beneficiados pelo auxílio-emergencial, como alimentação e construção civil.

Contudo outros setores seguem sofrendo, como veículos e vestuários.  A combinação disso é que as vendas varejistas totais nos últimos 12 meses crescem a míseros 0,5%. Incluindo vendas de material de construção e veículos, há uma queda acumulada de 1,7%.

E digo mais, se meu ponto de vista estiver correto, com a redução do auxílio, o aumento esperado do desemprego e a consequente queda no rendimento médio, as vendas no varejo podem voltar a serem prejudicadas nos próximos meses.

E, mesmo que tenhamos continuidade dos programas fiscais, não vejo continuidade dessa bonança. Estímulo fiscal pode atuar pelo bem (como nos últimos meses), mas o excesso dele pode atuar pelo mal. Na ótica dos investidores, uma continuidade de gastos fiscais pode significar falta de controle por parte do governo, afugentando capitais para investimentos. A recuperação econômica também ficaria danificada (sugiro relembrar minha coluna de agosto, em que tratei claramente desse tema).

Enquanto o investimento não for o protagonista da história, não teremos crescimento sustentável – e o mais interessante é que escrevendo essa frase me lembrei de governos anteriores, gastões que deixaram de lado justamente os investimentos.... Ali, o poder do fiscal agiu pelo mal.

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O terceiro trimestre de 2020, parece que foi de forte crescimento. As vendas varejistas aumentaram novamente em agosto, crescendo 3,4% frente a julho na série com ajuste sazonal, após alta de 5,0% em julho de 2020. Com esse resultado, o varejo atingiu o maior patamar da série histórica, ficando acima do recorde anterior, em outubro de 2014. Quando adicionamos as vendas de veículos e material de construção a performance foi ainda melhor, com crescimento de 4,6% em relação a julho.

Temos (tenho) que dar a mão à palmatória, pois a recessão econômica imaginada no início da crise Covid será menor. E, nesse quesito, a expansão fiscal feita pelo governo foi protagonista. O auxílio-emergencial alcançou 60 milhões de pessoas, que receberam pelo menos R$ 600. É muito dinheiro. Sem isso, certamente não estaríamos vendo esses resultados. Como eu sempre digo, enquanto política monetária ajuda, política fiscal atua “na veia”.

A atenção deve ser dada às consequências. Primeiro porque  embora tenhamos números positivos no varejo e em parte da indústria, o mercado de trabalho segue muito enfraquecido. A taxa de desemprego hoje em 13,3%, poderia estar muito, mas muito maior se não fosse o movimento de desalento.

As pessoas estão deixando de procurar emprego e, portanto, saem da estatística de desemprego. Essa decisão ocorre por uma combinação de ganhos assistencialistas (ora, se o governo está me dando dinheiro, para que vou procurar emprego?), certo desconforto com a economia,  falta de confiança que faz com que as pessoas desistam de procurar emprego e, por fim, o próprio medo da ficar doente, que também deve ter deixado pessoas em casa. Portanto o efeito de desemprego ainda não terminou.

À medida que há retomada da atividade, parte dessas pessoas desalentadas tendem a buscar emprego. Por isso, a taxa de desemprego tende a aumentar (e muito).

Segundo porque, mesmo o varejo indo de vento em popa, embora varejo seja uma parte importante de serviços, o restante desse setor tão importante para a economia não tem mostrado sinais tão auspiciosos. Mesmo a abertura das vendas varejistas mostra alguns pontos divergentes. O crescimento é desigual entre os setores. Ou seja, alguns setores acabam sendo mais beneficiados pelo auxílio-emergencial, como alimentação e construção civil.

Contudo outros setores seguem sofrendo, como veículos e vestuários.  A combinação disso é que as vendas varejistas totais nos últimos 12 meses crescem a míseros 0,5%. Incluindo vendas de material de construção e veículos, há uma queda acumulada de 1,7%.

E digo mais, se meu ponto de vista estiver correto, com a redução do auxílio, o aumento esperado do desemprego e a consequente queda no rendimento médio, as vendas no varejo podem voltar a serem prejudicadas nos próximos meses.

E, mesmo que tenhamos continuidade dos programas fiscais, não vejo continuidade dessa bonança. Estímulo fiscal pode atuar pelo bem (como nos últimos meses), mas o excesso dele pode atuar pelo mal. Na ótica dos investidores, uma continuidade de gastos fiscais pode significar falta de controle por parte do governo, afugentando capitais para investimentos. A recuperação econômica também ficaria danificada (sugiro relembrar minha coluna de agosto, em que tratei claramente desse tema).

Enquanto o investimento não for o protagonista da história, não teremos crescimento sustentável – e o mais interessante é que escrevendo essa frase me lembrei de governos anteriores, gastões que deixaram de lado justamente os investimentos.... Ali, o poder do fiscal agiu pelo mal.

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