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O câmbio é acima ou abaixo de R$5?

Com a evolução da vacinação e a luz de final da pandemia, há um excesso de liquidez do mundo. Acredito que sobrará um quinhão para o Brasil

Dólar; real (TARIK KIZILKAYA/Getty Images)
Dólar; real (TARIK KIZILKAYA/Getty Images)
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Fernanda Consorte

Publicado em 21 de junho de 2021 às, 12h34.

Enquanto os dados de mercado mostram uma figura mais otimista do Brasil, seguimos criando jabuticabas próprias, como inflação numa recessão ou ausência de fluxo de investimentos com tamanha necessidade de infraestrutura e, claro, nossos governantes com várias bandeiras de atenção.

Em meio a esse abre e fecha da economia, segunda onda de contaminação que se junta à terceira, atraso na vacinação em comparação a outros países, CPI da Covid e mensagens descompassadas das autoridades brasileiras, nossa imagem institucional vai manchando.

Não tem jeito, sem história boa para contar, não há investimentos maciços. É quase contraintuitivo pensar que uma das maiores economias emergentes do mundo tem baixo fluxo de capital, ou seja, a escolha de investir no Brasil tem diminuído de tempos em tempos. O fluxo de capital para o Brasil caiu muito, mesmo antes da crise da Covid-19, levando a taxa de câmbio para nível acima de R$4,0 (lembram?); mas, obviamente, após a eclosão da pandemia tivemos números ainda mais baixos.

Ora, a pandemia da Covid-19 contribuiu para elevar o grau de incerteza econômica global, incentivando investidores internacionais a tirar dinheiro de mercados emergentes para aplicar em economias mais seguras, e gerando uma forte depreciação das moedas emergentes ao redor do mundo. De acordo com o Relatório Global de Investimento da Conferência da ONU sobre Comércio e Desenvolvimento, Unctad, os fluxos de investimento direto estrangeiro despencaram cerca de 40% em 2020. A retração dos investimentos estrangeiros foi maior no Brasil do que em outros países emergentes. O Banco Central do Brasil mostrou que em 2020 o investimento direto no País somou US$ 34,2 bilhões versus US$ 69,2 bilhões em 2019, ou seja, uma queda de 50,6%.

Olhando para frente, com a evolução da vacinação e a luz de final da pandemia, há um excesso de liquidez do mundo. Acredito que sobrará um quinhão para o Brasil, trazendo o IDP (investimento externo) de cerca de US$ 30 mi em 2020 para algo perto de US$ 45-55 mi em 2021/2022; melhor, mas muito abaixo da série histórica de US$ 70 mi. O que podemos dizer em resposta é que a taxa de câmbio será mais baixa que durante a pandemia, mas não muito inferior ao pré-pandemia.

Além disso, a história nos mostrou que em anos de eleições presidenciais há depreciação cambial. E o calendário eleitoral tem se antecipado cada vez mais. Possivelmente, as próximas colunas ainda em 2021 serão dedicadas a corrida eleitoral de 2022.

Assim, embora tenhamos crescimento econômico acima do esperado (vejam que segundo o boletim focus do BCB, a previsão para o PIB em 2021 é de quase 5%) e maior IDP, a estranha conjuntura num ano de eleições deve manter a taxa de câmbio em patamar alto. Então, conforme já escrevi acima, penso que a taxa de câmbio no final desse ano será inferior a de 2020, mas distante do pré-crise Covid, e ainda contará com alguma depreciação adicional em 2022.

Não se enganem, o cenário ainda está bem desafiador, e não contaria com a bonança dessas últimas semanas como uma tendência. Chutaria, por exemplo, que é mais provável o dólar chegar ao final desse ano perto de R$ 5,2 do que abaixo de R$ 5.

E, sejamos sinceros, mesmo que a taxa de câmbio venha a R$ 4,90... não dá para falar em empoderamento da conjuntura brasileira, concordam? Há momentos que o nível vale mais do que a variação.

 

Fernanda Consorte – Economista-chefe do Banco Ourinvest