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Juros maiores jogarão a taxa de câmbio para baixo? Não necessariamente

A despeito do que o livro texto de macroeconomia sugere, o aumento recente da taxa de juros não está se refletindo em queda da taxa de câmbio

 (Ricardo Moraes/Reuters)
(Ricardo Moraes/Reuters)
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Fernanda Consorte

Publicado em 13 de agosto de 2021 às, 12h17.

Por Fernanda Consorte

A teoria econômica sugere e comprova que uma variável importante para definir patamar de taxa de câmbio é o diferencial de juros entre as economias doméstica e internacional. Afinal, se a taxa de juros doméstica for mais atrativa do que a internacional, é esperado que atraia fluxo de capital atrás de rendimentos mais altos, aumentando, portanto, a oferta de dólares no país e baixando a taxa de câmbio.

Na última reunião do Copom, o Banco Central (BC) aumentou o tom, tanto em ação como em comunicação. Ora, a taxa de juros agora chegou a 5,25%aa (lembrem-se de que até outro dia estávamos operando em níveis de desenvolvidos, a 2%aa) e o BC já antecipou uma nova alta na ordem de 1 ponto percentual, deixando claro que a inflação se tornou um problema e que está disposto a enfrentá-la de forma incisiva.

Aliás, diga-se de passagem, comunicação pronta e reta não é um problema para essa gestão de política monetária. E faz sentido! A inflação já belisca os dois dígitos (o IPCA já atingiu 9% no acumulado em 12 meses), e está a passos largos de distância da meta (3,75%).

O fato é que os juros também podem voltar a ter dois dígitos, ainda mais num cenário de continuidade de expansão fiscal com final de pandemia. E, justamente, dessa mistura que sairá o patamar da taxa de câmbio.

A despeito do que o livro texto de macroeconomia sugere, esse aumento da taxa de juros não está se refletindo em queda da taxa de câmbio. Vejam, por exemplo, o movimento da semana passada; após a decisão do Copom, houve aumento do tom e mesmo assim a semana encerrou com alta da taxa de câmbio. O que significa que, mesmo a um rendimento maior, o Brasil ainda não é atrativo o suficiente, o risco do País ainda não supera a probabilidade de ganhos por parte dos investidores.

E daí essa culpa ou mais educadamente falando, a explicação dessa percepção do País dá-se justamente pela atual condução fiscal e política. A discussão sobre parcelamento de precatórios, por exemplo, é aceitável, porém a leitura da necessidade desse parcelamento para sobrar recursos para aumentar programas sociais em um ano eleitoral e com a inflação explodindo gera, no mínimo, cautela. Isso que se puxarmos na memória recente temos outros pontos como aumento abusivo do fundo partidário, trocas de ministérios para agradar o centrão e a própria CPI da Covid. Motivos suficientes para o investidor repensar o destino de seu capital.

E essa fábula não é de hoje. Em um rápido exercício de comparação do Brasil com outros emergentes, vemos que o real foi uma das moedas que mais sofreu desde o início da pandemia, só perdendo para Argentina, Turquia e Peru. Em números, até o momento que escrevo esta coluna, o real se desvalorizou 16% enquanto a média dos emergentes foi quase 0%, porque devido à vacinação e à melhora de perspectiva global, a maioria dos emergentes já devolveu a alta do ano passado.

Assim, embora o Boletim Focus do BC mostre expectativas de taxa de juros para 2021 e 2022 acima do que temos hoje (7,25%aa), eu, particularmente, acredito que será ainda mais alto; a conjuntura não está tão encorajadora para atração de capital. Teremos mais juros? Provavelmente. Isso jogará a taxa de câmbio para baixo? Não necessariamente.

Fernanda Consorte é Economista-chefe do Banco Ourinvest