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Em busca do Santo Graal (ou grau de investimento)

Do que precisamos para o Brasil voltar a ser um país com o famigerado selo de Grau de Investimento?

ECONOMIA: “nós já estamos há 4 anos sem o selo, e não consigo ter uma perspectiva clara de quando o retomaremos” / Marcelo Correa/EXAME.com
ECONOMIA: “nós já estamos há 4 anos sem o selo, e não consigo ter uma perspectiva clara de quando o retomaremos” / Marcelo Correa/EXAME.com
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Fernanda Consorte

Publicado em 5 de junho de 2019 às, 14h50.

Última atualização em 3 de setembro de 2019 às, 19h41.

05O Brasil, assim como tudo e todos nesta vida, está sempre em busca de alguma coisa. Os mais ingênuos estão em busca da felicidade; os mais jovens, em busca do empoderamento; os mais sábios estão em busca de qualidade de vida. Cada um busca seu próprio Santo Graal, assim como nas lendas do Rei Arthur. Hoje, percebo que os investidores procuram sinais de uma volta do grau de investimento do Brasil, situação que com a recente depreciação dos preços dos ativos nos parece distante. Mas… do que precisamos para o Brasil voltar a ser um país com o famigerado selo de Grau de Investimento? Aliás, o que é Grau de Investimento? Para que ele serve?

As agências de risco (como S&P, Fitch, Moody’s, etc.) têm a função de dar notas a empresas e países para medir o risco de crédito daquela empresa ou país. Serve para indicar a capacidade de um país ou empresa pagar suas dívidas e as chances de não conseguir, atrasando o pagamento ou dando calote.

Dessa maneira, são levados em conta dados externos – como nível de reservas internacionais –, dados fiscais, solidez da economia e estabilidade política (já estão imaginando aonde quero chegar, né?), entre outros. As escalas usadas pelas agências podem ser representadas por letras, números e sinais (+ ou -) e normalmente vão de “D” (nota mais baixa) a “AAA” (nota mais alta) – ver quadro ao lado. Dito isso, essas notas das agências de classificação de risco se dividem em dois grandes grupos: grau de investimento (ou investment grade, em inglês, e bastante usada por nós, do mercado financeiro, que temos um certo problema em aceitar que falamos nativamente o português) e grau especulativo (speculative grade), ou seja: ou o país está nos holofotes da área VIP, e portanto deve receber investimentos e obter empréstimos no exterior com melhores condições de juros e pagamento, ou o país é apenas um qualquer no meio da multidão, que terá menor probabilidade de entrar na lista de bons investimentos.

Sabem como é: investimentos são sinônimos de mais empregos, maior renda e crescimento sus-ten-tá-vel. Estamos de acordo que o Grau de Investimentos (GI) é nosso atual Santo Graal? Ótimo. E sabem qual a parte mais triste dessa história? Nós já fomos GI num passado recente, mais precisamente entre 2008 e 2015 (período que “coincide” com várzeas de brasileiros nas gringas, comprando à taxa de câmbio inferior a US$/R$ 2,0, quem nunca…), perdendo por conta da crise fiscal em que o Brasil entrou, tema já batido nas minhas colunas.

Como voltaríamos a ele? Vamos usar a nota da S&P como base. Atualmente, o Brasil tem nota BB-, três escalas abaixo da qualificação de GI. Por um lado, importante ressaltar que as condições das contas externas estão muito bem. O Brasil goza de uns US$ 400Bi de reservas internacionais e um déficit em conta corrente financiável por Investimentos Direto no País. Até por isso, mesmo com o recente caos político, o indicador de CDS (que mede justamente o risco de crédito a que investidores estrangeiros estão submetidos quando investem no país) aumentou pouco nos últimos meses.

Aliás, quando fazemos um comparativo entre CDS dos países e sua nota pela S&P, notamos que o patamar do CDS brasileiro sugere inclusive uma nota um pouco melhor – ainda na zona de grau especulativo, mas melhor. De fato, o Brasil alcançou o Santo Graal em abril/2008, mês em que o CDS rodava a 134 pontos em média; e perdemos em setembro/2015, quando o indicador estava na média de 401 pontos. Nesse mês tivemos uma média de 176 pontos, ou seja, muito mais perto do patamar de GI do que quando perdemos.

Isso sugere, portanto, que estamos quase lá? Na verdade, não. A decisão para um país se tornar GI vai além das condições das contas externas. E hoje temos dois grandes problemas que têm sido mencionados recorrentemente pelas agências de risco como obstáculo: situação fiscal e crescimento econômico. Enquanto esses dois pontos não forem devidamente endereçados, seguiremos no time do fundão e, consequentemente, investimentos estrangeiros, fluxo de capital e taxa de câmbio baixa (farra de compras nas gringas) seguem um sonho distante.

Mais que isso, hoje o crescimento econômico também está ligado às questões fiscais. Enquanto o Brasil não mostrar que as contas fiscais estão sob controle e a expectativa de inclinação do crescimento da dívida bruta não inverter (vejam que isso significa aprovação da reforma da Previdência, somada a uma situação mais balanceada entre Congresso e Governo), não teremos confiança suficiente para impulsionar crescimento econômico; de fato, as expectativas de crescimento econômico estão desapontando. Já até falam de recessão técnica (dois trimestres consecutivos de queda do PIB) entre 4T18 e 1T19.

Aliás, sobre “reobter” o título de grau de investimento, o Brasil também está desapontando. Por exemplo, a Rússia perdeu o GI em 2015, mas retomou o selo rapidamente em fevereiro/2018. O mesmo ocorreu com Portugal, que o perdeu em 2011 e retomou em setembro/17. Olhando para vizinhos, Uruguai e Colômbia demoraram cerca de 10 anos para serem recolocados em grau de investimento novamente. Nós já estamos há 4 anos sem o selo, e não consigo ter uma perspectiva clara de quando o retomaremos. Lembrem-se, as lendas sugerem que o Santo Graal, além de difícil de ser encontrado, só pode ser tocado por puros e honestos…

*Fernanda Consorte é economista chefe e estratégista de câmbio Banco Ourinvest