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São Paulo ganhará um grande Museu da Favela

O museu será instalado no Palácio dos Campos Elísios, antiga sede do governo. Para Celso Athayde, o projeto marca o fim do estigma das favelas

O Museu da Favela irá contar a história de como o Brasil se tornou o país das favelas. Ele apresentará a cultura, as pessoas, as lutas e as glórias dessa população que ajudou a construir algumas das maiores megalópoles do mundo (CARL DE SOUZA/AFP/Getty Images)
RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 15 de janeiro de 2022 às 13h54.

Última atualização em 16 de janeiro de 2022 às 09h04.

As favelas sempre foram territórios de exclusão. Quando criamos a CUFA, em 1997, a própria palavra favela ainda carregava um estigma tão gigante que poucas organizações se aventuravam a usar esse termo. Chamar alguém de favelado era um xingamento. Um dos nossos trabalhos foi, a duras penas, tirar esse estigma desses territórios, que muitos preferiam chamar de comunidades carentes, mas nós não, chamávamos e assumíamos a expressão favela.

Hoje, as favelas seguem como territórios excluídos, mas pela falta de infraestrutura pública, e não mais pelo que elas representam. Ser favelado não é mais motivo de desonra, é um estilo de vida com o qual a população das favelas se identifica, assim como os moradores da Vila Madalena e da Faria Lima, em São Paulo, e do Leme, no Rio de Janeiro, se identificam com os deles.

Em breve, as favelas ganharão o instrumento que faltava para dar significado a esse estilo de vida: um grande museu. Trata-se de projeto que levei para o governo do estado de São Paulo, e a partir daí capitaneado pela Cufa Brasil, com Preto Zezé, Marcivan Barreto e Kalyne Lima.  Mas eu sabia que não seria fácil convencer os “asfaltistas” da importância dessa iniciativa.  Me enganei feio.  O governador João Doria não me permitiu concluir o pedido. Apertou minha mão e disse: pode fazer o projeto.

O Museu da Favela irá contar a história de como o Brasil se tornou o país das favelas. Ele apresentará a cultura, as pessoas, as lutas e as glórias dessa população que ajudou a construir algumas das maiores megalópoles do mundo – mais do que isso, influenciou na formação da identidade brasileira.

Ele será instalado no Palácio dos Campos Elísios, no Centro de São Paulo, antiga sede do governo. É de fato um Palácio, um casarão imponente, que um dia foi utilizado pelos barões do café para perpetuar a economia escravista. É simbólico que um lugar manchado pela escravidão passe a abrigar um equipamento cultural de celebração da cultura negra e periférica, transformando o estigma em carisma.

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Por essa conquista, entram para a história da favela o secretário da cultura do Estado de São Paulo, Sérgio Sá Leitão, que na prática encorajou todo o poder público e viabilizou o projeto. Mais do que isso, trouxe pra a estruturação da iniciativa o papa dos museus no Brasil, o consagrado Marcelo Dantas, que tem dado uma contribuição decisiva na construção desse que será o espaço mais visitado de São Paulo em muito breve.

Mas a verdade é que o Museu da Favela é uma construção coletiva de cada morador de favela. É resultado do movimento Hip Hop, do trabalho de líderes comunitários, das mães da favela e da força e da alegria de um povo que se recusa a ser rotulado como carente.

O museu, para essas pessoas, representa a legitimação da própria identidade. Um lugar de acolhimento, onde se pode olhar para o passado, sentir saudades e celebrar as conquistas. Para quem não é da favela, será um local para compreender a influência dessa cultura no seu próprio modo de vida e, quem sabe, se identificar com a força e o sentido de comunidade presentes nesses territórios desde a construção do primeiro barraco em canudos ou no morro da providência.

A inauguração está prevista para 2022. A Cufa, por ter construído o projeto junto ao governo, não participou do chamamento público. Mas eu acabo de receber o convite para presidir o conselho do Museu da Favela. Claro que aceitei, por duas razões: uma porque o convite partiu do Ricardo Piquet, um dos maiores gestores de museu do mundo, que é o líder do IDG (Instituto de Desenvolvimento e Gestão), que venceu a chamada pública do Governo do Estado para desenvolver, implantar e gerir o novo Museu; segundo porque o IDG é uma Instituição de referência na gestão de museus no Brasil, de atuação em outros países, e responsável pela bem sucedida gestão do Museu do Amanhã.

Afinal, eu não sou daqueles que deseja boa sorte para quem está na luta, sou do tipo que luta junto.  O fato é que será uma grande festa na favela, e todos estão convidados.

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As favelas sempre foram territórios de exclusão. Quando criamos a CUFA, em 1997, a própria palavra favela ainda carregava um estigma tão gigante que poucas organizações se aventuravam a usar esse termo. Chamar alguém de favelado era um xingamento. Um dos nossos trabalhos foi, a duras penas, tirar esse estigma desses territórios, que muitos preferiam chamar de comunidades carentes, mas nós não, chamávamos e assumíamos a expressão favela.

Hoje, as favelas seguem como territórios excluídos, mas pela falta de infraestrutura pública, e não mais pelo que elas representam. Ser favelado não é mais motivo de desonra, é um estilo de vida com o qual a população das favelas se identifica, assim como os moradores da Vila Madalena e da Faria Lima, em São Paulo, e do Leme, no Rio de Janeiro, se identificam com os deles.

Em breve, as favelas ganharão o instrumento que faltava para dar significado a esse estilo de vida: um grande museu. Trata-se de projeto que levei para o governo do estado de São Paulo, e a partir daí capitaneado pela Cufa Brasil, com Preto Zezé, Marcivan Barreto e Kalyne Lima.  Mas eu sabia que não seria fácil convencer os “asfaltistas” da importância dessa iniciativa.  Me enganei feio.  O governador João Doria não me permitiu concluir o pedido. Apertou minha mão e disse: pode fazer o projeto.

O Museu da Favela irá contar a história de como o Brasil se tornou o país das favelas. Ele apresentará a cultura, as pessoas, as lutas e as glórias dessa população que ajudou a construir algumas das maiores megalópoles do mundo – mais do que isso, influenciou na formação da identidade brasileira.

Ele será instalado no Palácio dos Campos Elísios, no Centro de São Paulo, antiga sede do governo. É de fato um Palácio, um casarão imponente, que um dia foi utilizado pelos barões do café para perpetuar a economia escravista. É simbólico que um lugar manchado pela escravidão passe a abrigar um equipamento cultural de celebração da cultura negra e periférica, transformando o estigma em carisma.

Quer saber como se tornar um profissional especializado em ESG? Assista à série Jornada Executivo de Impacto gratuitamente aqui

Por essa conquista, entram para a história da favela o secretário da cultura do Estado de São Paulo, Sérgio Sá Leitão, que na prática encorajou todo o poder público e viabilizou o projeto. Mais do que isso, trouxe pra a estruturação da iniciativa o papa dos museus no Brasil, o consagrado Marcelo Dantas, que tem dado uma contribuição decisiva na construção desse que será o espaço mais visitado de São Paulo em muito breve.

Mas a verdade é que o Museu da Favela é uma construção coletiva de cada morador de favela. É resultado do movimento Hip Hop, do trabalho de líderes comunitários, das mães da favela e da força e da alegria de um povo que se recusa a ser rotulado como carente.

O museu, para essas pessoas, representa a legitimação da própria identidade. Um lugar de acolhimento, onde se pode olhar para o passado, sentir saudades e celebrar as conquistas. Para quem não é da favela, será um local para compreender a influência dessa cultura no seu próprio modo de vida e, quem sabe, se identificar com a força e o sentido de comunidade presentes nesses territórios desde a construção do primeiro barraco em canudos ou no morro da providência.

A inauguração está prevista para 2022. A Cufa, por ter construído o projeto junto ao governo, não participou do chamamento público. Mas eu acabo de receber o convite para presidir o conselho do Museu da Favela. Claro que aceitei, por duas razões: uma porque o convite partiu do Ricardo Piquet, um dos maiores gestores de museu do mundo, que é o líder do IDG (Instituto de Desenvolvimento e Gestão), que venceu a chamada pública do Governo do Estado para desenvolver, implantar e gerir o novo Museu; segundo porque o IDG é uma Instituição de referência na gestão de museus no Brasil, de atuação em outros países, e responsável pela bem sucedida gestão do Museu do Amanhã.

Afinal, eu não sou daqueles que deseja boa sorte para quem está na luta, sou do tipo que luta junto.  O fato é que será uma grande festa na favela, e todos estão convidados.

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