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CUFA: mulheres de favela levaram ajuda a 3,5 milhões de famílias

De norte a sul do Brasil, as mulheres da CUFA, em meio à pandemia, fizeram-se fortaleza e saíram às ruas para ajudar quem mais precisava

O caminho da filantropia no Brasil ainda é longo e o bom é que existem instituições sérias trabalhando para isso. (Jonne Roriz/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 8 de março de 2022 às 10h35.

Patrícia Alencar

Neste dia Internacional de Luta das Mulheres, apresentamos a trajetória das mulheres da CUFA que lideram a luta contra a crise social, sanitária e econômica em mais de 5 mil favelas brasileiras. De norte a sul do Brasil, as mulheres da CUFA, em meio à pandemia, fizeram-se fortaleza e saíram às ruas para ajudar quem mais precisava.

Coordenando, trabalhando na captação de recursos, organizando a logísticas, descarregando carretas, cadastrando as mães solo, as mulheres da CUFA protagonizaram a ajuda humanitária a mais de 3,5 milhões de famílias em situação de vulnerabilidade.

Além do programa de segurança alimentar, foi necessário enfrentar o crescimento vertiginoso da violência contra as mulheres durante a pandemia, quando as mulheres cumpriam o necessário isolamento social com seus agressores.

Essa trajetória, para além de qualquer espectro de heroísmo, reflete a capacidade de construir redes de afeto e cuidado que as mulheres demonstram ao logo da história. As mulheres da favela tinham consciência que essa pandemia teria significado diferente para o povo que ocupa esses territórios, onde até o precário acesso à água e outros itens de higiene tornava difícil garantir as condições estabelecidas pela OMS.

Nesse contexto, as mulheres da CUFA ganharam visibilidade, mas é preciso dizer que os “nossos passos vêm de longe”, como nos lembra Conceição Evaristo. Nossa trajetória se gesta no ventre de mãe Marina Athayde (mãe de Celso Athayde Fundador da CUFA), que sonhou a favela como um lugar de possibilidade para as mulheres e seus filhos.

Seguindo a mesma trilha, Nega Gizza (uma das fundadoras da CUFA) impulsiona uma segunda geração de mulheres de favela que organizaram a luta por direitos e oportunidade a partir do ativismo na arte e na cultura. É um momento de afirmação da identidade, de construção do pertencimento, de ruptura do estigma da favela como carência.

No nascimento do Maria, Maria – Núcleo de Mulheres da CUFA – a luta por uma existência digna nas favelas era a tônica. Daí a importância do protagonismo das mulheres, majoritariamente as negras, na construção da CUFA, uma organização cuja missão é promover as potências sociais, econômicas e culturais existentes na favela, onde vive uma massa de consumidores e produtores que contribuem de forma definitiva para a economia, mas é negligenciada em suas necessidades.

Além de dar visibilidade às violências, exclusões, acesso precário a serviços públicos essenciais, a luta das mulheres na instituição também tinha o recorte de formar lideranças, despertar protagonismo, mover o imaginário das mulheres e meninas da favela para dirigir essa entidade, tornando-a do tamanho do desafio que temos a enfrentar.

Organizamos e atuamos com as mulheres que estão no limite das desigualdades na sociedade brasileira. Somos a maioria no trabalho doméstico e no subemprego, sofremos cotidianamente com a violência do racismo, com o genocídio da juventude negra. Mas, ao mesmo tempo, vemos um levante das mulheres da favela que ousam protagonizar a criação de novas narrativas e práticas sociais que promovem a representatividade e a ocupação de espaços.

O Núcleo Mulheres da CUFA é um instrumento para amplificar a voz das mulheres da favela. É um espaço de formação, de acolhimento, de cuidado e nutrição política e afetiva das nossas lutas. Nossa caminhada segue firme para combater as violências, o machismo, o racismo, gerando oportunidades de inclusão econômica como as estabelecidas com a Expo Favela, uma feira de negócios cujos expositores são empreendedores e startups da favela.

Firmamos como meta avançar no fortalecimento da organização das mulheres que ocupam as favelas desse país continental, assim iniciamos a primeira etapa do I Encontro Internacional de Mulheres de Favelas, um espaço de construção de conhecimento e troca de tecnologia sociais.

Reuniremos as mulheres que fazem uma revolução silenciosa nos becos e vielas em suas comunidades para compartilhar suas trajetórias, refletir sobre os desafios cotidianos de existir em contextos sociais marcados por desigualdades, mas sobretudo para imaginar o futuro, para apontar os caminhos que podem levar à superação desse sistema de violências e exclusões.

A Pandemia nos permitiu ver a nossa força para resistir e transformar. Nesse dia de celebrar a memória de luta das mulheres, reverenciamos as que vieram antes de nós e convocamos a todas para juntas semear a esperança de uma sociedade justa.

Patrícia Alencar é Presidente do Mulheres da CUFA

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Patrícia Alencar

Neste dia Internacional de Luta das Mulheres, apresentamos a trajetória das mulheres da CUFA que lideram a luta contra a crise social, sanitária e econômica em mais de 5 mil favelas brasileiras. De norte a sul do Brasil, as mulheres da CUFA, em meio à pandemia, fizeram-se fortaleza e saíram às ruas para ajudar quem mais precisava.

Coordenando, trabalhando na captação de recursos, organizando a logísticas, descarregando carretas, cadastrando as mães solo, as mulheres da CUFA protagonizaram a ajuda humanitária a mais de 3,5 milhões de famílias em situação de vulnerabilidade.

Além do programa de segurança alimentar, foi necessário enfrentar o crescimento vertiginoso da violência contra as mulheres durante a pandemia, quando as mulheres cumpriam o necessário isolamento social com seus agressores.

Essa trajetória, para além de qualquer espectro de heroísmo, reflete a capacidade de construir redes de afeto e cuidado que as mulheres demonstram ao logo da história. As mulheres da favela tinham consciência que essa pandemia teria significado diferente para o povo que ocupa esses territórios, onde até o precário acesso à água e outros itens de higiene tornava difícil garantir as condições estabelecidas pela OMS.

Nesse contexto, as mulheres da CUFA ganharam visibilidade, mas é preciso dizer que os “nossos passos vêm de longe”, como nos lembra Conceição Evaristo. Nossa trajetória se gesta no ventre de mãe Marina Athayde (mãe de Celso Athayde Fundador da CUFA), que sonhou a favela como um lugar de possibilidade para as mulheres e seus filhos.

Seguindo a mesma trilha, Nega Gizza (uma das fundadoras da CUFA) impulsiona uma segunda geração de mulheres de favela que organizaram a luta por direitos e oportunidade a partir do ativismo na arte e na cultura. É um momento de afirmação da identidade, de construção do pertencimento, de ruptura do estigma da favela como carência.

No nascimento do Maria, Maria – Núcleo de Mulheres da CUFA – a luta por uma existência digna nas favelas era a tônica. Daí a importância do protagonismo das mulheres, majoritariamente as negras, na construção da CUFA, uma organização cuja missão é promover as potências sociais, econômicas e culturais existentes na favela, onde vive uma massa de consumidores e produtores que contribuem de forma definitiva para a economia, mas é negligenciada em suas necessidades.

Além de dar visibilidade às violências, exclusões, acesso precário a serviços públicos essenciais, a luta das mulheres na instituição também tinha o recorte de formar lideranças, despertar protagonismo, mover o imaginário das mulheres e meninas da favela para dirigir essa entidade, tornando-a do tamanho do desafio que temos a enfrentar.

Organizamos e atuamos com as mulheres que estão no limite das desigualdades na sociedade brasileira. Somos a maioria no trabalho doméstico e no subemprego, sofremos cotidianamente com a violência do racismo, com o genocídio da juventude negra. Mas, ao mesmo tempo, vemos um levante das mulheres da favela que ousam protagonizar a criação de novas narrativas e práticas sociais que promovem a representatividade e a ocupação de espaços.

O Núcleo Mulheres da CUFA é um instrumento para amplificar a voz das mulheres da favela. É um espaço de formação, de acolhimento, de cuidado e nutrição política e afetiva das nossas lutas. Nossa caminhada segue firme para combater as violências, o machismo, o racismo, gerando oportunidades de inclusão econômica como as estabelecidas com a Expo Favela, uma feira de negócios cujos expositores são empreendedores e startups da favela.

Firmamos como meta avançar no fortalecimento da organização das mulheres que ocupam as favelas desse país continental, assim iniciamos a primeira etapa do I Encontro Internacional de Mulheres de Favelas, um espaço de construção de conhecimento e troca de tecnologia sociais.

Reuniremos as mulheres que fazem uma revolução silenciosa nos becos e vielas em suas comunidades para compartilhar suas trajetórias, refletir sobre os desafios cotidianos de existir em contextos sociais marcados por desigualdades, mas sobretudo para imaginar o futuro, para apontar os caminhos que podem levar à superação desse sistema de violências e exclusões.

A Pandemia nos permitiu ver a nossa força para resistir e transformar. Nesse dia de celebrar a memória de luta das mulheres, reverenciamos as que vieram antes de nós e convocamos a todas para juntas semear a esperança de uma sociedade justa.

Patrícia Alencar é Presidente do Mulheres da CUFA

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