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Miami Heat: o que um time de basquete pode ensinar sobre cultura?

O Heat sempre quer ganhar. Eles se recusam a fazer o “rebuild”, que é quando você vende os melhores atletas do time para perder mais

Por muito tempo Jimmy Butler foi considerado um jogador problemático, daqueles que não contribuem para o espírito de equipe. (Getty Images/Getty Images)
Por muito tempo Jimmy Butler foi considerado um jogador problemático, daqueles que não contribuem para o espírito de equipe. (Getty Images/Getty Images)
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Fast Forward

Publicado em 12 de maio de 2021 às, 16h24.

Por Felipe Collins

Eu sou um grande fã de NBA (se você acompanha a coluna já deve ter notado uma ou outra referência ao tema), mas não só do esporte - também do entretenimento e especialmente da cultura promovida pelo basquete: desde o poder que os atletas da liga têm de fazer emergir um movimento como o Black Lives Matter a todas as lições de negócios e de vida que podemos tirar da biografia de astros como Michael Jordan, Phil Jackson e Kobe Bryant.

E apesar de ser um torcedor do Denver Nuggets (vai, Nikola Jokic!), eu tenho uma admiração profunda pelo Miami Heat. 

Quando parei para pensar nos motivos desse respeito e admiração, me toquei de que existia um fator principal. A franquia é conhecida por ter uma cultura forte e muito presente em todos os momentos e aspectos dentro e fora de quadra. 

Como estamos a poucos dias dos playoffs, me inspirei para fazer um paralelo entre a cultura do Miami Heat e a que você pode promover no seu time ou organização. 

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Cultura é um tema que me fascina muito - como os seres humanos se comportam, como as ações e combinados interagem, como os valores são construídos e fortalecidos em uma sociedade ou grupo.  Gosto tanto que fiz uma seleção de livros sobre o tema, para você que também adora mergulhar nos fatores que possibilitam a construção de culturas únicas.

Um dos livros que citei foi o “Você é o que você faz”, em queBen Horowitz estuda o que permitiu a construção de culturas fortes bem além do ambiente corporativo (entre samurais, em gangues de presídio e na condução de revoltas de escravos, por exemplo).

Entre os principais apontamentos do livro está a importância das “Shocking Rules”, aquele conjunto de regras e padrões capazes de dar uma sensação de pertencimento e unir as pessoas em torno de uma causa. 

E o Miami Heat tem um código próprio de princípios e regras (se quiser saber mais, recomendo este artigo da ESPN sobre o assunto).

Tenha garra e trabalhe duro - mesmo!

O Heat é a única franquia do basquete americano que tem testes de condicionamento na pré-temporada. Sim, um atleta da franquia de Miami precisa manter a forma mesmo durante as férias. E quem não alcança o padrão desejado tem grande chance de ser colocado como disponível no mercado.

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É uma abordagem quase que militaresca da cultura de treinamento e de ética de trabalho. Para você ter uma ideia, alguns jogadores iniciam sua rotina de treino às três e meia da manhã - isso em um dia normal.

Segundo David Fizdale, ex-treinador adjunto do time, “o treino tem que ser uma guerra. O treino tem que ser muito pior do que o jogo em si.” Não é por acaso que a determinação é uma marca reconhecida entre os jogadores do Miami Heat.

Ganhar agora - e sempre

Pat Riley, presidente do Miami Heat e ex-atleta e treinador, é a única pessoa da história a conquistar uma vaga nos playoffs, a etapa decisiva da NBA, por seis décadas seguidas. Para ele, a fórmula é simples: “você tem que querer vencer tanto quanto você quer respirar”.

O Heat sempre quer ganhar. Eles se recusam a fazer o “rebuild”, que é quando você vende os melhores atletas do time para perder mais - e assim conseguir uma posição melhor para a escolha de atletas no Draft seguinte. 

A prática é comum na NBA (a ver como o Philadelphia 76ers fez propositalmente times ruins por quatro temporadas para escolher os melhores do draft em uma manobra chamada de The Process), mas proibida em Miami. Mesmo quando as estatísticas jogam contra, os jogadores se recusam a vestir a carapuça de “café com leite” ou de “zebra”.

Encontrar - e desenvolver - talentos ocultos

O Miami Heat já teve super estrelas no time, e conseguiu três títulos com um time formado pelos astros LeBron James, Chris Bosh, e Dwayne Wade. Mas o que a franquia gosta mesmo é de encontrar e desenvolver suas pratas da casa. 

Especialmente aqueles jovens que sentem que precisam provar algo (nunca se esqueça que garra é uma das principais características desse time).

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Atualmente o time é composto por um misto de jogadores que vieram de faculdades sem qualquer tradição no basquete (como Jimmy Butler), últimas escolhas no sistema americano de seleção de jogadores (como Tyler Herro e Bam Adebayo) e até uma série de atletas que sequer passaram pelo modelo tradicional de divisão de atletas recém-saídos da universidade entre os times americanos (Duncan Robinson e Kendrick Nunn).

Mesmo com prognósticos não muito favoráveis, todos esses jogadores se tornaram atletas de ponta ao serem acolhidos pelo Heat. “O bom de estar aqui é que todo mundo se importa. Eles vão fazer de tudo para você se desenvolver”, explicou Adebayo.

Jimmy Butler, o ex-jogador-problema

De todas as grandes histórias de jogadores dos Heat, uma das que mais me fascina é a de Jimmy Butler. Por muito tempo ele foi considerado um jogador problemático, daqueles que não contribuem para o espírito de equipe.

O vilão ideal para qualquer temporada ruim - desde que saiu do Chicago Bulls, saiu escanteado em Minnesota e Philadelphia. Como consequência, foi uma aquisição barata para o Miami Heat - a verdade é que nenhum outro time queria um jogador tão problemático. 

Mas assim que chegou ao Heat, parecia que tudo tinha mudado. O jogador problema se tornou uma peça fundamental para que um time que estava desacreditado caminhasse para a final após alguns jogos históricos.

A transformação é Jimmy é fácil de ser explicada. Ele não tinha mudado, mas sim encontrado um lugar que comungava dos mesmo valores: competitividade extrema (há relatos de quando ele pegou o terceiro time dos Timberwolves e venceu o time titular em um treino, chamando os então titulares de “moles demais” e gritando a cada ponto), abertura total para expor suas opiniões, alta ética de trabalho e, claro, muita garra e esforço.

Butler é hoje um dos melhores atletas da liga, tanto dentro de quadra quanto especialmente no comando do vestiário. 

Das quadras para o escritório

O caso de Jimmy Butler para mim é bastante simbólico de um movimento que já vi muitas vezes dentro de escritórios. É o que eu chamo de fit entre talento e cultura, ou talent-culture-fit

Isso acontece quando alguém se sente tão identificado com o conjunto de valores de uma determinada equipe, que acaba se desenvolvendo profissional e pessoalmente.

O contrário também é verdade, claro. Com certeza você já viu o caso de profissionais incríveis e muito competentes que não se adaptam à cultura de uma empresa - uma situação frustrante para todos os envolvidos.

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A verdade é que as pessoas influenciam culturas e vice-versa. Se a cultura é um conjunto de crenças, comportamentos e ações esperadas de um grupo de pessoas, cada uma das pessoas deste grupo tem um impacto na forma como essa cultura se desenvolve. No final do dia, isso pode ser muito benéfico ou destrutivo - tudo depende do quanto as culturas do time e as pessoais estão alinhadas

Já aconteceu comigo. Em várias empresas eu não conseguia me sentir em casa. Do outro lado da mesa, já contratei profissionais fantásticos que não entregavam aquilo que eu esperava quando via seus currículos e seus resultados anteriores. 

No final das contas, vi muita gente sair machucada desse processo - e muita equipe ter que se reorganizar para consertar o estrago que uma contratação de alguém que segue outra cultura pode trazer para o time.

Esses aprendizados foram valiosos. Hoje, na ACE, o fit cultural é um dos elementos mais importantes quando estamos contratando, desenvolvendo os talentos internos ou analisando a performance dos colaboradores - e até a da empresa.

A cultura é o molho secreto de tudo o que fazemos e, por isso, rediscutimos essa receita de tempos em tempos, adaptando para as necessidades do momento, incluindo os bons e maus aprendizados que tivemos e sempre olhando o quanto nossas ações estão refletindo os valores que temos pregados na parede (afinal, os bons valores são aqueles que não servem apenas como um belo objeto de decoração na parede).

Admito que quando olho para os valores da ACE, me sinto um pouco como Jimmy Butler, com a sorte de ter encontrado uma companhia que acredita em tantas coisas que são tão importantes para mim.

Construir uma cultura assim não é fácil. Mais difícil ainda é encontrar gente que se adeque a ela. Mas o esforço vale a pena e o resultado por ser visto de forma bem mais duradoura.