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Praga do congelamento de preços na Argentina não afeta o Brasil

Inflação da Argentina só comprova que os efeitos nocivos de medidas populistas de esquerda tem vida longa.

Consumo: brasileiros ainda precisam evoluir em sua educação financeira. (Caiaimage/Paul Bradbury/Getty Images)
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profmaurocalil

Publicado em 18 de abril de 2019 às 10h35.

Última atualização em 18 de abril de 2019 às 12h19.

O governo argentino anunciou, nessa quarta-feira, um pacote de medidas para conter o crescimento da inflação, que chegou a 11,8 % no primeiro  trimestre. Em um ano, o aumento de preços na Argentina atingiu 54%. Isso só comprova que os efeitos nocivos de medidas populistas de esquerda tem vida longa e que, mudar um governante não basta para tirar da economia os efeitos tóxicos deixados por governos irresponsáveis ou, no mínimo, ingênuos.

Produtos essenciais e de serviços públicos estão na lista do presidente Mauricio Macri. Com a medida, o governo pretende reduzir a inflação e reativar  o consumo.

Até recentemente, as crises na Argentina repercutiam no Brasil. Quem é da minha época conhece o conhecido "efeito Orloff",  numa referência a um comercial de vodka na TV em que um personagem dizia "eu sou você amanhã".  No jargão do mercado financeiro chamamos isso de contágio. Mas, hoje a situação é bem diferente. A inflação brasileira, nos últimos doze meses, é de 4,58%, sendo que no primeiro trimestre desta ano, o índice foi de 0,75%. Portanto, há uma diferença enorme entre os dois países.

Sempre é bom lembrar que o Brasil passou por períodos críticos, com a inflação chegando a 80% ao mês, entre os anos 80 e 90, da tal da hiperinflação. Os preços dos produtos eram remarcados diariamente, às vezes mais de uma vez por dia.

Aumentavam quase o dobro de um mês para o outro. Quem tinha dinheiro sobrando, aplicava no overnight para manter o poder de compra. Foram aplicados diversos planos econômicos como o Plano Cruzado, em 1986, que congelou os preços, salários e tarifas públicas. Houve desabastecimento de produtos e nada continha a inflação.

Em 1989, o governo lança o Cruzado Novo, o dinheiro perde zeros, o juro sobe e o crédito some. Ainda viria o Plano Verão, mas nada continha a inflação. Em 1990, no pico da hiperinflação, postos de combustíveis lotavam à noite antes do anúncio de aumentos de quase 50% na gasolina.  Em 16 de março de 1990, é lançado o Plano Collor, marcado, principalmente pela retenção (confisco) da Poupança para quem tivesse depósitos acima de 50.000 cruzeiros novos (coisa de 5.000 a 8.000 reais); Antes de sofrer o impeachment, o presidente de então, Fernando Collor de Mello, lança ainda o Plano Collor II. Mais uma insanidade econômica sem sucesso.

O vice-presidente Itamar Franco assume a presidência e, após quase uma dezena de planos econômicos fracassados, lança, em 1994, o Plano Real, que marcou o final do período de instabilidade monetária e das altas taxas inflacionárias.  Junto com o plano, veio a nova moeda, o real, a quinta referencia monetária à qual os brasileiros tiveram que se acostumar em uma década.

O Brasil não é para principiantes

Tom Jobim

O governo promoveu a desindexação da economia, isto é, a inflação passada deixou de corrigir automaticamente preços e salários. Para os brasileiros, a medida mais visível foi a nova troca de moeda. Antes do real, a moeda que circulava no país era o cruzeiro real (CR$), vigente de 1º de agosto de 1993 até 30 de junho de 1994.

Enfim, ao que tudo indica e ainda que da pior forma possível, nós aprendemos a lição. Leis humanas pouco podem fazer contra as soberanas leis de mercado. Tabelar preços nem é a pior forma de controlá-los, é na verdade um placebo, ou seja, da nada adianta.

Mas quando vejo uma categoria como os caminhoneiros reivindicando ao governo Bolsonaro o tabelamento de fretes, logo penso que nossas mentes ainda consideram a possibilidade do governo interferir e controlar as trocas financeiras e econômicas. Logo você verá alguma liderança política dizer que deveríamos fazer aqui o que os argentinos fazem lá.

Brasileiros precisam evoluir muito em sua educação financeira.

Mauro Calil é fundador da Academia do Dinheiro

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Até recentemente, as crises na Argentina repercutiam no Brasil. Quem é da minha época conhece o conhecido "efeito Orloff",  numa referência a um comercial de vodka na TV em que um personagem dizia "eu sou você amanhã".  No jargão do mercado financeiro chamamos isso de contágio. Mas, hoje a situação é bem diferente. A inflação brasileira, nos últimos doze meses, é de 4,58%, sendo que no primeiro trimestre desta ano, o índice foi de 0,75%. Portanto, há uma diferença enorme entre os dois países.

Sempre é bom lembrar que o Brasil passou por períodos críticos, com a inflação chegando a 80% ao mês, entre os anos 80 e 90, da tal da hiperinflação. Os preços dos produtos eram remarcados diariamente, às vezes mais de uma vez por dia.

Aumentavam quase o dobro de um mês para o outro. Quem tinha dinheiro sobrando, aplicava no overnight para manter o poder de compra. Foram aplicados diversos planos econômicos como o Plano Cruzado, em 1986, que congelou os preços, salários e tarifas públicas. Houve desabastecimento de produtos e nada continha a inflação.

Em 1989, o governo lança o Cruzado Novo, o dinheiro perde zeros, o juro sobe e o crédito some. Ainda viria o Plano Verão, mas nada continha a inflação. Em 1990, no pico da hiperinflação, postos de combustíveis lotavam à noite antes do anúncio de aumentos de quase 50% na gasolina.  Em 16 de março de 1990, é lançado o Plano Collor, marcado, principalmente pela retenção (confisco) da Poupança para quem tivesse depósitos acima de 50.000 cruzeiros novos (coisa de 5.000 a 8.000 reais); Antes de sofrer o impeachment, o presidente de então, Fernando Collor de Mello, lança ainda o Plano Collor II. Mais uma insanidade econômica sem sucesso.

O vice-presidente Itamar Franco assume a presidência e, após quase uma dezena de planos econômicos fracassados, lança, em 1994, o Plano Real, que marcou o final do período de instabilidade monetária e das altas taxas inflacionárias.  Junto com o plano, veio a nova moeda, o real, a quinta referencia monetária à qual os brasileiros tiveram que se acostumar em uma década.

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O governo promoveu a desindexação da economia, isto é, a inflação passada deixou de corrigir automaticamente preços e salários. Para os brasileiros, a medida mais visível foi a nova troca de moeda. Antes do real, a moeda que circulava no país era o cruzeiro real (CR$), vigente de 1º de agosto de 1993 até 30 de junho de 1994.

Enfim, ao que tudo indica e ainda que da pior forma possível, nós aprendemos a lição. Leis humanas pouco podem fazer contra as soberanas leis de mercado. Tabelar preços nem é a pior forma de controlá-los, é na verdade um placebo, ou seja, da nada adianta.

Mas quando vejo uma categoria como os caminhoneiros reivindicando ao governo Bolsonaro o tabelamento de fretes, logo penso que nossas mentes ainda consideram a possibilidade do governo interferir e controlar as trocas financeiras e econômicas. Logo você verá alguma liderança política dizer que deveríamos fazer aqui o que os argentinos fazem lá.

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Mauro Calil é fundador da Academia do Dinheiro

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