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O mito do atendimento online (com vídeo)

Se por um lado evitamos filas e aborrecimentos, por outro perdemos contato com responsáveis e assumimos riscos.

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Etiqueta Financeira

Publicado em 20 de outubro de 2017 às, 14h27.

Última atualização em 20 de outubro de 2017 às, 14h27.

Desde que surgiram os caixas eletrônicos, ferramentas que possibilitam sacar dinheiro com rapidez e que impulsionaram a evolução do atendimento descentralizado, ou melhor, despersonalizado, muita coisa mudou no relacionamento das instituições financeiras com seus clientes.  É inegável que esse processo evoluiu muito e que a internet só acelerou ainda mais este distanciamento.

Há algum tempo, aliás, já devíamos ter falado sobre este assunto e feito uma reflexão para saber onde nos levará esta onda do atendimento online e a sua “pseudo” neutralidade.  Será que este tipo de atendimento é realmente a melhor opção para trabalhar o seu dinheiro e fazê-lo render mais?

Pagar uma conta de consumo com um leitor de código de barras facilita muito a vida, isso é inegável.  Não ter que ir até uma agência bancária e perder tempo em uma fila é muito legal.  Porém, quando se trata de investimento, e essa é a página 2 do atendimento online, a história muda um pouco de figura. Outro dia, um cliente disse: “Eu adoro isso, pois eu consigo ver tudo o que está acontecendo com o meu dinheiro. Inclusive, naquele dia da delação premiada, quando a bolsa despencou, eu olhei e vi que eu estava perdendo muito e vendi tudo”.

É justamente aí a minha preocupação. O atendimento online é ótimo para gerar boletos, comprovantes em PDF e fazer transferências entre contas. Daí tudo vai para um arquivo na nuvem e a vida do cliente está organizada para sempre. Perfeito! No entanto, no caso de um investimento, considero que apostar neste tipo de atendimento é temerário. Se por um lado, o Home Broker popularizou o investimento em bolsa de valores, por outro foi protagonista de muitas decisões equivocadas e desastrosas. Já aconteceu da pessoa olhar, ver que está perdendo dinheiro e falar assim: “Meu Deus, eu vou vender tudo isso agora e arcar com este prejuízo?”.

Eu já atendi clientes que passaram por maus bocados nesse sentido, como um casal de médicos que perdeu R$ 2 milhões na bolsa há algum tempo. Quando caíram em si, só havia restado R$ 60 mil do capital inicial e só aí me consultaram. E esse não foi o único caso que acompanhei, quando eu era membro orientador do Instituto Nacional de Investidores, teve uma outra situação, envolvendo um caminhoneiro. Ele vendeu o seu caminhão e colocou todo o recurso na Bolsa de Valores. Quando foi ver o seu rendimento, ele não tinha mais nada. Ele comprou papeis, se não me engano, em outubro ou novembro de 2007, somente em ações da Vale, que naquela época estavam bem valorizadas. Só que isso mudou em 2008, com o ápice da crise. Ele acompanhou todo aquele crescimento e considerou que era a melhor opção e que não precisaria mais trabalhar, uma vez que já teria uma fonte de renda garantida. No entanto, perdeu o valor do caminhão e, consequentemente, a sua fonte de renda.

Por isso, quando se trata de investimentos eu, sinceramente, sempre aconselho, não só a aprender um pouquinho sobre esse universo, como também a ter alguém que acompanhe os seus investimentos junto com você: um assessor ou um officer de confiança. Sei que não é tarefa simples achar o profissional adequado, eu sei. Muitos assessores e corretoras têm o interesse de fazer girar o seu dinheiro, pois em cada troca de papéis, eles ganham na corretagem. Ao final, pode ser que você ganhe ou talvez não, mas é preciso ficar de olho nisso.

Outro dia me falaram de um assessor que ofereceu IPCA + 4% para o cliente em uma operação. Simultaneamente, uma outra instituição ofereceu IPCA + 6% para a mesma pessoa em um investimento similar. Questionado, o assessor se justificou: “A gente pode chegar, neste título, até IPCA + 5%”. Mas então, porque não ofereceu antes? Ou seja, existem instituições que permitem uma retirada de spread a favor do assessor e ele acaba ficando com parte do rendimento como sendo sua corretagem. Ou seja, tem que ficar atento!

Outro ponto importante é que nunca chegaremos ao ponto de saber tudo, mesmo buscando atualizações e cursos continuamente. Sempre existe um investimento novo saindo, portanto, a orientação de um especialista é imprescindível. Você sabe que consegue uma opção de investimento que pode render acima de 100% do CDI, desde que o mundo é mundo. Desde que existe o CDI. Você sabe que consegue uma operação com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito. Sim, desde quando o FGC foi inventado e isso está lá no regulamento do produto. E isso não vai mudar tão cedo. O que quero dizer é que o atendimento online não pode, nem consegue, te dar um respaldo completo para uma melhor tomada de decisão, ou seja, considerando todas as variáveis deste mercado.

Mesmo sendo um entusiasta da tecnologia, a conclusão é: muito cuidado com essa história de tudo online! Além disso, é importante que você conheça os seus objetivos, trace um plano e siga adiante, pois enriquecer é, sim, uma questão de ter e seguir um bom plano.

Mauro Calil é Fundador da Academia do Dinheiro

Veja também o vídeo relacionado a este texto: 

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