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O dia em que atendi o cliente com R$ 4,9 Milhões

Planos financeiros bem feitos devem conduzir seu patrimônio para outras gerações.

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Etiqueta Financeira

Publicado em 16 de agosto de 2017 às, 15h07.

Última atualização em 21 de agosto de 2017 às, 09h57.

Recentemente, fui convidado por um cliente para almoçar. Ele pagou o almoço e a consulta e falou: ‘’Mauro, eu estou com uma preocupação. Eu tenho despesas fixas de R$ 61 mil mensais e acumulei em minha vida R$ 4,9 milhões. Estou com 65 anos e quero me aposentar aos 70, impreterivelmente. Hoje, a minha atividade profissional é capaz de sustentar estas despesas tranquilamente. Porém, daqui a cinco anos, eu não quero mais trabalhar, mas desejo manter o meu padrão de vida. Vamos dizer que eu viva até os 90 anos, eu espero que esse patrimônio dure até lá. Como você pode me ajudar?”.

Peguei a calculadora e comecei a fazer contas. Fiz também diversas perguntas, inclusive as mais pessoais, quando se trata de dinheiro, nunca existem recomendações que sirvam a um grupo. Digo sempre que a atuação de um planejador financeiro se assemelha muito a de um psicólogo. Expliquei a ele que tudo depende de como utilizará o seu dinheiro a partir de agora e o alertei quanto aos riscos de não prever corretamente a longevidade, afinal de contas, ao invés de 90 anos, devido as inovações da medicina, ele poderá viver até os 105, por exemplo.

Aqui o risco, ressaltei, é viver o drama do Jorginho Ginle, como chamamos em educação financeira. Jorginho Ginle foi um playboy internacional, namorou estrelas de Hollywood, socialites, etc. Ele foi herdeiro da Companhia Docas, que fica no estado Rio de Janeiro. Em determinada época, praticamente toda a exportação de café do Brasil passava pelas mãos do avô de Ginle. Era uma fortuna enorme! E ele gastava e não escondia isso de ninguém. Então, o "playboy" fez uma previsão de que viveria até os 75 anos, só que ele viveu até os 88, ou seja, 13 anos a mais. Então ele foi consumindo patrimônio... Nos últimos anos da vida, seu padrão de vida, notoriamente, foi muito inferior ao que ele estava acostumado desfrutar.

Nesse momento, muitos clientes trazem aquelas crenças populares limitadoras. ‘’Dessa vida não se leva nada!”, ‘’eu tenho que aproveitar!”, etc. Isso me incomoda. Até me mexo na cadeira. Você tem que planejar sim, inclusive para deixar uma herança. Só assim terá certeza de que nunca vai te faltar nada.

Fizemos novos cálculos e conclui: de uma maneira muito conservadora, considerando um juro muito menor do que está hoje, já projetando 9% ao ano, com uma inflação de 4.000% ao ano, para manter o padrão de vida atual, o cliente teria que ter por volta de R$ 7 milhões a R$ 8 milhões em caixa. E é possível chegar lá! Com aportes adicionais de R$ 30 mil, no período de dois a três anos, e investimentos turbinados, afirmo que a meta é factível.

Ele, então, me perguntou: “está bem, mas e lá na frente? O que eu faço com todo esse dinheiro?”. Essa é uma questão interessante. Mesmo pessoas com muita riqueza patrimonial ainda podem acreditar que ter mais do que você mesmo estabelece é algo sem merecimento, que não tem necessidade.

Então, eu fiz uma nova conta para ele. Pensando em outro tipo de aplicação financeira, como operações estruturadas em bolsa de valores, por exemplo, com R$ 5,8 milhões ele já conseguiria a perpetuidade desejada. Falo isso com propriedade, pois desde os meus onze anos de idade invisto em ações.

Aí uma pergunta pairou no ar: aos 70 anos de idade, vale a pena correr esse tipo de risco? Sim ou não? Ficamos em silêncio por uns cinco minutos. Enquanto almoçávamos, eu fiquei esperando a resposta dele pacientemente e os minutos se passaram. Então ele acabou engolir uma garfada, tomou um copo do suco e disse: “eu acho que você tem razão. Dinheiro nunca é demais”. Esse é o ponto. Uma pessoa que acumulou R$ 4,9 milhões de repente achou que dinheiro pode ser demais. Para você, quanto seria dinheiro demais? A verdade é que mesmo que você tenha mais do que precisa, o dinheiro vai potencializar a sua vida, proporcionará realizar coisas não só para si, mas também para os outros.

Esse cliente só não tem R$ 8 milhões ainda porque havia algo a ser ajustado em suas contas e na forma como encarava o dinheiro. Fizemos um planejamento financeiro assertivo e acredito que, em dois ou três anos ele atinja o objetivo. Lógico que questões macroeconômicas ou a composição dos investimentos podem se modificar ao longo do tempo. Mas garanto que, certamente, aos 70 anos ele poderá usufruir da tão sonhada aposentadoria.

Mauro Calil é fundador da Academia do Dinheiro

Veja também o vídeo relacionado a este texto: 

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