Como a queda da Selic influencia a economia (com vídeo)
O custo de oportunidade entre investir e gastar.
Publicado em 6 de novembro de 2017 às, 11h56.
Existe um conceito macroeconômico que é o tal do custo de oportunidade, que basicamente representa o seguinte: O quanto de esforço eu tenho que fazer para comprar determinado produto?
Vamos imaginar que eu ganhe R$ 1.000,00 por dia e este seja o custo de um par de óculos. Nesse caso, eu tenho que trabalhar um dia para ganhar esses óculos. Se eles passam a custar R$ 500,00, pode ser uma oportunidade interessante, já que terei um menor custo laboral para a mesma chance de adquirir esse bem. Então eu vou lá e arremato o produto.
Por outro lado, se por conta da inflação, da escassez, da alta demanda, entre outras variáveis, eles passarem a custar R$ 2.000,00, o meu custo laboral aumentou e eu terei que trabalhar dobrado para comprar o mesmo item.
A grosso modo, esta ponderação é o custo de oportunidade.
Mas que relação isso tem com a Selic? A primeira coisa que temos que esclarecer é que não existe taxa Selic. Este é o nome que a imprensa dá, de maneira geral, ao Sistema Especial de Liquidação e Custódia, onde se negocia a taxa básica de juros, que é aquilo que o governo paga nos seus títulos federais, como na NTN-B, na LFT, no tesouro IPCA, etc.
Bom, a Selic caiu. A taxa de juros caiu. O que acontece agora? Temos duas visões sobre custo de oportunidade que temos que levar em consideração: do empresário que vai investir e do consumidor que vai deixar de investir. Olha que interessante!
Se um empresário for um grande varejista, que contas ele terá que fazer antes de ampliar uma fábrica? Supondo que abrir uma loja vai custar R$ 1 milhão e montar uma nova fábrica sai por 10 milhões. Ao colocar em prática o seu plano de negócios, chega a análise de que vai obter um lucro líquido e livre de imposto de 10% ao ano. Mas se ao investir em títulos públicos, com lucro de 15%, sem risco, ele pensa: ou as minhas margens melhoram ou eu não invisto. Se a Selic cai para 10%, fica o dilema de arriscar ou não, já que os ganhos serão os mesmos, mas com as perspectivas de ter um negócio maior. Mas se taxa básica de juros for de 5%, passa a valer a pena o risco de montar uma loja nova e ter o dobro da rentabilidade.
Já em relação ao consumidor, a lógica é mais ou menos a mesma. Com uma taxa de 10%, caso a pessoa deixe R$ 100 mil investidos, terá um lucro R$ 10 mil, depois de um ano. Com esse dinheiro, é possível, por exemplo, passar umas férias legais. Então, eu mantenho esse investimento. Mas se a Selic baixar para 5% e os ganhos forem de apenas R$ 5 mil ao final do ano, não será possível consumir tanto quanto no cenário anterior.
E então surge a dúvida, se mantém os planos iniciais ou se começa a consumir imediatamente.
Muitas pessoas nos procuram para saber se vale a pena investir com a queda da Selic ou quais produtos são mais vantajosos nesse cenário. Sempre vale a pena investir e você sempre terá um rendimento razoável se o investimento for bem feito. Mas não há mágica e ninguém ganhará milhões de uma hora para a outra.
Enfim, este é, justamente, o custo de oportunidade. Por isso que, ao reduzir a taxa de juros básica, a economia estimula o investimento empresarial e o consumo. Pode não ser ideal adiar o consumo, porque todo o ser humano, não só o brasileiro, quer viver intensamente o presente e não pensar muito no futuro. No entanto, com isso, acabam deixando suas vidas nas mãos do governo, sem pensar nas próprias responsabilidades.
O professor Mauro Calil é fundador da Academia do Dinheiro
Veja também o vídeo relacionado a este texto:
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