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Startup soteropolitana foca em modelo 360º para o e-sports

BDS ataca os mais diversos nichos do mercado para democratizar acesso dos gamers

 (BDS/Divulgação)
(BDS/Divulgação)
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Vinicius Lordello — Esporte Executivo

Publicado em 28 de abril de 2021 às, 13h06.

O empreendedor baiano Lukas "LKZ" Walter fez de sua paixão por jogos de ação a grande inspiração para a startup Beyond Digital Games (BDS). Em parceria com o empresário do segmento de Inovação Tecnológica Waldo "DRK" Souza, querem agora criar no Nordeste um polo no mercado gamer do Brasil, que é visto pelos investidores e especialistas como um gigante ainda pouco explorado. Com cerca de 75 milhões de jogadores regulares de games e um número crescente de simpatizantes, no país, o mercado segue aquecido. E o mercado segue promissor na América Latina, que representa “apenas” 3,75% dos 160 bilhões de dólares que são movimentados a cada ano no mundo, segundo dados do portal Newzoo.

Por isso, os sócios apostam em um modelo que ataca todo o ecossistema de e-sports, dividido em oito nichos que funcionam como unidades de negócio: organização de torneios; promoção de eventos; formação de influenciadores; apoio aos atletas e times para competições; venda online de produtos e serviços especializados; produção de conteúdos audiovisuais para mídias digitais; mentorias direcionadas a saúde física e mental dos gamers e laboratório para capacitação de até 40 categorias profissionais da cadeia gamer. Dentre as profissões estão as de pro-players, comissões técnicas, psicólogos, nutricionistas, educadores físicos, cosplayers, narradores, comentaristas, videomakers, designers, desenvolvedores de jogos, dentre outros.

Agora, a BDS e o Centro de Convenções de Salvador (CCS) se juntaram para criar uma das primeiras academias gamers do Nordeste. Assim que os protocolos da pandemia permitirem, o novo espaço será aberto ao público para exercitar os jogos e para participar de treinamentos, mentorias, competições e feiras. No momento, a equipe da BDS já utiliza o espaço como estúdio para produção de conteúdo online e transmissão de lives.

O objetivo da parceria entre a startup baiana e o CCS, operado pela multinacional francesa GL events, é transformar a Academia Gamer em centro de produção de conhecimento e ao mesmo tempo posicionar a capital baiana como referência no circuito de grandes eventos do bilionário setor de e-sport. Agora em abril, a BDS lançou seu canal no Twitch, rede social que concentra quase 70% dos streamings de gamers e e-sporters no mundo, segundo dados analisados no ano passado pela empresa Zordon. A ideia é realizar lives diárias e semanais com os gestores da BDS e seu time de streamers, atualmente formado por Yariax, AthenaXis, Taffsx, Dbraz e Jonnyzul, que fez a estreia do canal. Com suas carreiras gerenciadas pela BDS, esses influenciadores são seguidos atualmente por mais de 300 mil pessoas interessadas em seus comentários sobre narração de esports e streamings sobre jogos como Valorant, Genshin Impact, Portal Nights, Rainbow Six, Guns n Runs, Timespinner, Blood Borne e GTA RP.

Inicialmente, o trabalho integrado de comunicação e marketing destacará também as experiências competitivas (digitais, presenciais e híbridas) idealizadas e executadas pela empresa. Nos finais de semana, a BDS vem realizando os Shotcups, torneios online com transmissão ao vivo das partidas finais. Essas competições de “tiro curto” servem para revelar talentos e introduzi-los no cenário profissional dos jogos e o formato foi pensado para democratizar o acesso a todas as classes sociais: prêmios com valores menores entregues a pelo menos 50% dos jogadores, inscrições gratuitas, curta duração, execução 100% digital e sorteios de prêmios durante as lives dos jogos. Falamos com os sócios para entender a ousada estratégia:

A BDS busca atuar em todos os aspectos do segmento. São oito unidades de negócio desde o início do processo. Isso permite alcançar diversos setores, mas também deixa mais complexa a estrutura para uma nova entrante. Por que a estratégia de ser 360 e não segmentar no início?

 (LKZ): Apesar de o Brasil estar na 3ª posição no ranking de países com maior número de players e simpatizantes dos games e vivermos em um país de tamanho continental, as maiores iniciativas de e-Sports seguem nos grandes centros, principalmente em São Paulo. Existe uma comunidade gigante no restante do país precisando de oportunidades para se capacitar e se profissionalizar. Nossa indústria movimenta bilhões de dólares e é extremamente pulverizada na forma de remuneração. É um negócio em que 80% de suas atividades acontecem no mundo digital, sem fronteiras e produzindo conteúdos e resultados a todo momento do dia, ou seja, um negócio que nos permite receitas recorrentes crescentes. Sendo assim, precisávamos conceber um projeto em que todo o ecossistema gamer fosse contemplado. Assim, nos transformamos em um hub integrador das tribos, organizações e profissionais que queiram viver dos games. Sem um projeto completo, modular e escalável, isso não seria possível.

A BDS firmou parceria com o CCS, operado pela multinacional francesa GL Events. Isso mostra que a produção de conteúdo será prioridade. Qual o desafio de produzir conteúdo em um setor já bastante competitivo?

(DRK): Essa aliança foi muito importante para as duas empresas, pois com a chegada da pandemia a GL Events foi muito impactada pela suspensão dos eventos presenciais. Isso fez com que ela iniciasse uma busca por projetos com conteúdos digitais, de grande impacto social e mirando um mercado de forte crescimento. No segmento de "entretenimento gamer", nós da BDS nos candidatamos como a solução para esse desafio apresentado pela GL Events e estamos muito felizes com essa parceria. Apesar de perceber claramente o crescente volume de geração de conteúdo nesse mercado, sentimos falta de conteúdos regionalizados e com entregas customizadas, para as marcas "não-endêmicas" principalmente (aquelas cujos negócios não estão diretamente ligados ao setor gamer). Estamos desenvolvendo conteúdos que aproximem marcas/produtos/serviços dessa comunidade gamer, com o foco, maior do que publicidade, em engajamento e fidelização. Nossos projetos deixam legados e constroem resultados contínuos para os dois lados (gamers e patrocinadores). Todas as vezes que inauguramos uma BDS Academy em uma nova cidade ou bairro de periferia estamos democratizando e profissionalizando esse mercado, levando emprego, renda e novas experiências, o que nos permite criar e entregar conteúdos de grande impacto social e consequentemente aumentar a audiência para essas marcas.

Trabalhamos nos últimos meses desenvolvendo e estruturando feiras e shows gamers presenciais que iremos realizar, tudo está pronto e aguardando a retomada após esse momento de pandemia. Nesse ponto, a GL Events foi importante para nos direcionar sobre os protocolos de distanciamento social, como também toda a experiência mundial que possui na realização de grandes eventos. A BDS estará sempre buscando alianças com grandes empresas e organizações que acreditem no poder de comunicação dos jovens e que possam apoiar o crescimento do cenário gamer. Por isso, acreditamos que a aliança com a GL Events foi literalmente um casamento perfeito.

É possível dizer que será a maior estrutura montada no Norte/Nordeste do Brasil? Qual a estratégia para transformar Salvador como cidade referência e modelo no circuito?

(LKZ): Não temos a pretensão de títulos ou status, sou um empreendedor em formação, estruturando uma startup que acredita no poder dos jovens. Quando bem direcionados e com boa qualificação, esses jovens são capazes de transformar suas próprias vidas e consequentemente mudar para melhor a vida do seu entorno. Foi morando em Salvador que sentimos a necessidade de ter uma atuação mais abrangente, atendendo todo o ecossistema gamer. Esse projeto é muito mais ambicioso. Nosso foco é levar a BDS Academy em todos os lugares do Brasil onde existam jovens buscando oportunidades de viver dos games e na sequência levar esse projeto para outros países com as mesmas características. O projeto de internacionalização já está em curso com um investidor europeu que percebeu em nosso projeto uma oportunidade de integrar a tecnologia blockchain com o cenário gamer. Mas estamos vivendo um passo de cada vez, precisamos de ações consistentes e com resultados efetivos, como estes que estamos construindo em Salvador.

Existe também um viés social e de estímulo a jovens sem oportunidade óbvias no setor. Como popularizar o universo gamer em uma sociedade que ainda tem classes sociais distantes entre si?

(DRK): Essa resposta é parte do nosso PTM (Propósito Transformador Massivo): vamos democratizar e profissionalizar o mundo do e-Sports". A tarefa não é fácil, mas com nosso projeto conseguimos provar que é possível. Podemos fazer um paralelo direto com o mundo apaixonante do futebol. Na minha geração, um dos grandes sonhos dos jovens era ser jogador de futebol, mas em função de vários pontos (alimentação, equipamentos, orientação, oportunidades etc.), isso era muito distante para a maioria. No entanto, alguns clubes conseguiram desenvolver projetos de inclusão e seleção de talentos. Nosso projeto não é diferente, só que está direcionado para o cenário dos games. O ponto focal é que estamos mirando não apenas o "jogador profissional". Estamos estabelecendo alianças que entregam para esse jovem 8 (oito) diferentes áreas que permitem identificar talentos, qualificar e apoiar mais de 47 diferentes profissões do ecossistema.

Estamos inseridos em uma das maiores indústrias do entretenimento mundial, com movimentações financeiras tão impressionantes quanto o futebol, mas que ainda não é percebida como um esporte profissional. Essa é com certeza uma das nossas missões. Nosso projeto está permitindo que jovens brasileiros de todas as idades e classes sociais se encontrem e percebam que, juntos, são responsáveis pelo desenvolvimento dessa indústria de oportunidades. Somos um país com muito potencial para a indústria gamer, mas precisamos ensinar nossos jovens a empreender olhando a "toda a floresta" e não apenas a "minha árvore". A BDS acredita que só conseguiremos alcançar grandes voos se respeitarmos as diferenças e focarmos nos pontos positivos que nos tornam nação gamer.