VALENCIA, SPAIN - MAY 21: Vinicius Junior of Real Madrid looks on during the LaLiga Santander match between Valencia CF and Real Madrid CF at Estadio Mestalla on May 21, 2023 in Valencia, Spain. (Photo by Mateo Villalba/Quality Sport Images/Getty Images) (Quality Sport Images/Getty Images)
Especialista em Gestão de Reputação e Crises no Esporte
Publicado em 22 de maio de 2023 às 18h18.
Como amplamente divulgado, Vinicius Jr foi (novamente) vítima de racismo no Campeonato Espanhol de Futebol Masculino. A dor de Vini, teoricamente, alcançaria a todos que o viram sofrer. Após toda repercussão gerada, o incompetente e na melhor das hipóteses mal-intencionado Javier Tebas, presidente da LaLiga, muito mais preocupado com a reputação da Liga que com o racismo ocorrido, defendeu publicamente a competição.
Precisou que no dia seguinte, o presidente da Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, finalmente demonstrasse apoio ao jogador brasileiro, criticando a postura de Tebas. E aí foi cirúrgico: “Temos um problema de comportamento, educação e racismo no nosso país. A primeira coisa é reconhecê-lo. Enquanto houver uma pessoa indesejável que insulta por causa da condição sexual, cor da pele ou credo, temos um problema sério que mancha todo um time, torcedores, clube ou país”. A questão é: qual esforço de fato virá para que isso acabe não só na Espanha, como mundo afora?
Acompanhado da dor de Vini, veio um onda de apoio e posicionamentos. Mundo afora, clubes, entidades, personalidades e afins em rápidas e prontas manifestações pró-Vini. Claro, ainda bem que vieram. Mas além do apoio em si, o que virá? Estão todos os clubes que manifestaram repúdio dispostos a assinar documentos em que aceitam perder pontos se o racismo for praticado em sua casa, por sua torcida? Queremos de fato mudar a sociedade ou queremos apenas o barulho e a indignação desencadeados pelo constrangedor domingo vivido em Valência?
Adilson José Moreira, doutor em Direito Constitucional Comparado pela Universidade de Harvard (Estados Unidos), estuda e conosco compartilha a compreensão sobre racismo recreativo, que é crime e já está consagrado no ambiente jurídico, podendo ser considerado injúria ou racismo.
No racismo recreativo, tenta-se transmitir uma falsa imagem, criando estereótipos. No Brasil, diz o estudioso, acostumou-se a camuflar o racismo com “humor”, sendo hábito arraigado na sociedade contribuir para que comportamentos inaceitáveis sejam mantidos e diferenças sejam perpetuadas.
É fundamental que o esporte, forte e potente como transformador social, seja catalisador desse processo. De posicionamentos lindos e impactantes todos nós estamos cheios. As vítimas ainda mais. Quem vai se colocar a disposição do árduo processo de evolução? Quem está disposto a cortar na própria carne? Quem aceita perder, inclusive dinheiro, se acontecer sob seus domínios para que não aconteça mais?
O caos no futebol deixa muita marca, patrocinadores e clubes, preparados para estar institucionalmente perfeito nas redes sociais. Virou recreação emitir notas, posicionamentos. Na prática, um nada completo. Chega de fazer do racismo e outras tantas mazelas plataformas de fala, não de ação. E que Vinicius Jr esteja amparado porque, além de ser um craque dentro de campo, mostra que pode mudar o rumo do esporte mundial.