Inspirado nas principais ligas do mundo, Brasileirão busca padronização
Competição desenvolve diversos aspectos fora dos gramados; Especialistas avaliam as medidas para o mercado
Publicado em 7 de julho de 2021 às, 06h47.
A edição do Campeonato Brasileiro 2021 começou com várias alterações para melhorar o produto entregue aos torcedores. Além das batalhas dentro de campo, o torneio usou as grandes ligas como espelho e busca padronizar aspectos do espetáculo para fortalecer a marca e se consolidar no cenário internacional.
“Estas pequenas mudanças podem representar um grande passo para o futebol brasileiro. Nas transmissões, conseguimos observar a presença de câmeras que eram utilizadas na NBA e La Liga, isso agrega qualidade ao jogo e atrai o torcedor. Estamos passando por um momento de crescimento dos fãs em relação a dados estatísticos relacionados ao esporte. É um universo novo, mas com grande potencial, as principais ligas já entenderam o processo, por isso é muito importante este tipo de mudança por aqui”, afirma Bruno Maia, autor do livro “Inovação é o Novo Marketing”.
Nesta temporada, clubes emergentes largaram na frente na disputa pelo principal título do futebol nacional. Com uma folha salarial mais enxuta, estas agremiações se apoiam em boas administrações para surpreender e conseguir sonhar com grandes conquistas. A Série B também ganhou mais destaque, a presença de times tradicionais aumentou o espaço da competição na TV aberta e gerou uma atenção maior dos patrocinadores.
“As equipes do Nordeste conseguiram se preparar muito bem para o Brasileirão em virtude da Copa do Nordeste. A responsabilidade financeira dos clubes vai ser o diferencial para uma boa campanha. Quem conseguir cumprir com os compromissos terá a chance de alcançar bons resultados”, opina Júnior Chávare, gerente de futebol do Bahia. Com o calendário apertado, atletas das categorias de base passaram a ser mais aproveitados nos elencos principais. Marcelo Segurado, diretor executivo de futebol, elogia a postura, mas alerta para o processo de desenvolvimento dos jogadores: "É importante ter uma mescla. Usar a base é sempre uma alternativa, mas, é necessário planejamento”, argumenta o profissional.
Crescimento dos fornecedores nacionais
Na questão dos uniformes, a diversidade dos fornecedores de materiais esportivos é uma característica no Brasil. Recentemente, as marcas próprias entraram no esporte e possibilitaram uma nova fonte de renda para as agremiações. Das 40 equipes que disputam as Séries A e B, doze optaram pela fabricação do material. “Há quase cincos anos, criamos a Leão 1918, o Fortaleza foi um dos primeiros a investir no setor. O torcedor ama o clube e cria um vínculo com a marca por ser algo próprio, mas é essencial manter a qualidade, são clientes e devemos fazer da forma correta. Além disso, temos uma liberdade maior para montar o calendário de lançamentos, conseguimos atender as demandas e planejar algo mais imediato quando necessário”, conta Marcelo Paz, presidente do Fortaleza.
Para Renê Salviano, especialista em marketing esportivo, cada clube deve entender o perfil do consumidor e buscar parcerias lucrativas: “As grandes decisões de mudança como estas precisam ser profundamente analisadas em vários fatores, positivos e negativos como: Facilidade de criação de modelos que vão de encontro ao desejo do torcedor, rapidez na produção local e possibilidade de um kit maior de produtos no caso dos fornecedores próprios. Por outro lado, as grandes marcas podem fornecer um conhecimento de mercado incontestável. Vale o estudo aprofundado para entender o momento de cada time e, principalmente, conhecer os desejos dos fãs”.
Neste aspecto, o Bahia possui uma história interessante. A “Esquadrão” realizou uma parceria para produzir o uniforme do Vitória da Conquista. Na ação, o time do interior do estado utilizou materiais feitos pelo tricolor baiano durante o Campeonato Estadual. Já o América-MG, percorreu o caminho contrário, depois de algumas temporadas com a marca própria, o clube assinou com a Volt Sport. Além disso, CSA-AL e Botafogo-SP divulgaram o acordo com a empresa nacional. “O crescimento das marcas próprias foi uma resposta. Os clubes precisam de parceiros que entendem as suas necessidades, isso inclui desde o fornecimento do enxoval completo, passando pela identificação com a torcida e chega até as vantagens financeiras com as vendas de um vasto portfólio de produtos relacionados ao time”, declara Fernando Kleimmann, sócio-diretor da Volt Sport. Neste tema, claro, não há resposta certa. Há respostas que se adequam melhor às realidades de cada clube.
Mercado dos patrocinadores
Desde o início da pandemia, os estádios estão fechados, os clubes buscaram se adaptar para fechar as contas, mas o mercado dos patrocinadores continua aquecido. Neste período, mais de 100 novos acordos ou renovações foram assinados entre os times da primeira divisão. De acordo com Fernando Lamounier, diretor de marketing da Multimarcas Consórcios, as equipes possuem um alcance enorme, mas as exposições não devem se limitar apenas ao espaço na camisa: “As relações entre clube/patrocinador não devem ser acomodadas em apenas estampar a logomarca da empresa no uniforme. Mesmo que algumas tenham a oportunidade de explorar as camisas, outras podem se inserir no mercado com ações, cativando os torcedores. No Atlético/MG, por exemplo, o programa ‘Consórcio da Massa’ trabalha com este conceito.", aponta.
Já no Internacional, o clube produziu novos conteúdos unindo a imagem dos atletas às marcas. Durante a cobertura dos treinos diários, as camisetas e as placas do CT estão tendo uma maior visibilidade. Alessandro Barcellos, presidente do clube, acredita que estas iniciativas podem gerar um engajamento positivo aos parceiros. "Tudo isso foi feito para amenizar os impactos da falta de público e das ativações dentro do estádio durante as competições, sempre priorizando a importância dos nossos patrocinadores", acrescenta o dirigente.
Transmissão para o exterior
Em 2021, todas as partidas das quatro principais divisões nacionais serão transmitidas em streaming. Para o exterior, o programa “Brasileirão Play” oferece uma assinatura mensal para assistir todos os jogos da Séries A e B para mais de 120 países. “A padronização é essencial para garantir uma boa qualidade da transmissão e a entrega do produto final. A comercialização dos direitos internacionais do Brasileirão é um grande passo para o crescimento do torneio. O streaming está crescendo, mas deve ser desenvolvido para minimizar a questão do delay em relação a TV por assinatura”, afirma Marcelo Palaia, especialista em marketing esportivo.
A parceria já começou a render bons resultados. Recentemente, a detentora dos direitos anunciou o acordo com uma empresa chinesa para exibição de três partidas por rodada no país, um dos locais mais populosos do mundo e com enorme potencial no mercado futebolístico.