Exame.com
Continua após a publicidade

Flamengo Futebol Clube

O blog evidentemente conhece o nome correto do grandioso Clube de Regatas do Flamengo, fundado há quase 120 anos. A história é muito bonita e pode ser conhecida diretamente no site do clube. Mas precisa continuar sendo escrita. Nesta semana o Flamengo anunciou a descontinuação temporária (popular suspensão) de suas equipes profissionais de ginástica olímpica e judô – já tinha feito o mesmo com a natação-, embora tenha mantido os […] Leia mais

V
Vinicius Lordello — Esporte Executivo

Publicado em 8 de março de 2013 às, 13h23.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 09h07.

O blog evidentemente conhece o nome correto do grandioso Clube de Regatas do Flamengo, fundado há quase 120 anos. A história é muito bonita e pode ser conhecida diretamente no site do clube. Mas precisa continuar sendo escrita.

Nesta semana o Flamengo anunciou a descontinuação temporária (popular suspensão) de suas equipes profissionais de ginástica olímpica e judô – já tinha feito o mesmo com a natação-, embora tenha mantido os times de basquete, nado sincronizado e pólo aquático. O argumento é simples: falta de dinheiro em função da má gestão da diretoria anterior.

Mais uma vez as estripulias financeiras de uma administração anterior em um clube são apontadas como as vilãs. E nesse caso, como em outros, pode até ser que seja. Em breve o blog abordará especificamente o assunto responsabilidade financeira no esporte. O foco hoje, no entanto, é outro.

É evidente que o torcedor do Flamengo espera, em sua maioria, a conquista de campeonatos de futebol. Para isso, a mesma maioria certamente abriria mão do desenvolvimento de outros esportes profissionais no clube. Mas a diretoria deveria compartilhar dessa opinião?

Considerando a falta de receitas que cubram os custos envolvidos, é difícil a manutenção de esportes que não representem para a torcida o que o futebol representa. Isso, consequentemente, aponta para uma menor atratividade para investimentos privados. Simplificando, o futebol traz mais investimentos e gera mais dinheiro que outros esportes. E se a conta já estava no vermelho como os gestores do Fla dizem estar, é natural que o clube cesse atividades que são deficitárias. A indigestão vem pela forma abrupta com a qual foi feita, além da notória proximidade com a Olimpíada no Brasil. Parar, porque não terá dinheiro, é justificável. Mas um clube com a grandeza do Flamengo precisar passar por isso e, ao fazê-lo, interromper as atividades sem qualquer aviso prévio os atletas, beira o absurdo.

O vice-presidente de esportes olímpicos do Flamengo, Alexandre Póvoa, exclama que “precisamos parar de achar no Brasil que esportes olímpicos são formados somente por profissionais.” Ao fazer isso, exemplifica que 90% de seus atletas de judô estão na base. E ele tem razão ao chamar a atenção para a formação de novos atletas. Mas também precisamos parar de achar que cuidando hoje das promessas, alguém no futuro cuidará da realidade, sem precisar que nunca cuidemos de quem já é real. Vira um ciclo defeituoso e na hora H, ninguém cuida de ninguém.

O Flamengo precisou abrir mão de atletas que são fortes candidatos a medalhas em 2016 e que agora precisarão encontrar uma nova casa. Isso não é fácil, porque a nova casa precisa ter a estrutura necessária para explorar o potencial dos ex-flamenguistas que, naturalmente, reclamaram muito da decisão da nova diretoria rubro-negra.

A tristeza é pensar que se o Flamengo, um dos maiores clubes do mundo, passa por isso, os demais clubes do nosso país podem (e estão) em rumos semelhantes. Não adianta cobrarmos medalhas dos atletas durante os jogos olímpicos se, durante os anos que os antecedem (não só os últimos 4), os mesmo atletas são abandonados. “Mas é claro que isso não mais ocorrerá!” sempre ouvimos ao fim de cada Olimpíada.

Mas curiosamente a virada poderia partir da sociedade, se a maioria dos torcedores ao menos cogitasse a hipótese de abrir mão de conquistas no futebol para priorizar os demais esportes. Contudo, não há expectativa que assim seja nem mesmo no longo prazo.

Então tudo fica como está: atletas olímpicos abandonados, medalhas escassas, reclamações permanentes e clubes quebrados. Com esse cenário, o nome do clube no título do post não fica tão errado.