Evolução do compliance no Esporte: conversamos com Ian Cook, da Kroll
Executivo traça cenário de regras de governança no mercado esportivo nacional com comparativo com Europa e EUA.
Publicado em 27 de março de 2020 às, 15h59.
Última atualização em 27 de março de 2020 às, 17h55.
A organização do mundo corporativo tem invadido o esporte, mesmo que à fórceps, buscando sua profissionalização e alterando sua realidade. Norteiam as decisões de clubes, atletas e das maiores competições do planeta, sendo fundamental absorver as práticas que atualmente são a vanguarda do mercado.
É a demanda por essa governança que faz com que os clubes não tenham mais outra saída para se manter relevantes. As práticas de compliance são fundamentais para o esporte nesse processo. Medidas para a adoção e implementação de ações que busquem mais transparência e integridade.
Recentemente, o Cruzeiro/MG, que passa por um dos períodos mais tenebrosos de sua bonita história, assinou contrato com a Kroll para analisar contratos. Assim, empresas especializadas neste universo e que até pouco tempo atrás encontravam no esporte uma barreira, começam a ser demandadas. Conversamos com o Diretor sênior da Kroll no Brasil, Ian Cook, sobre a evolução do tema no mercado esportivo nacional:
Como enxerga o atual momento dos assuntos Governança e Compliance no esporte brasileiro? É possível falar que evoluímos em relação aos últimos anos, mas o quanto ainda estamos defasados em relação a tais regras no Esporte nos principais mercados mundiais?
O esporte brasileiro precisa evoluir muito para chegar ao mesmo nível de Governança que vemos em outros países. Isso passa por ter uma estrutura que possibilite programas de compliance eficientes. Não adianta na elaboração de planos robustos, políticas complexas e controles bem mapeados, quando a própria estrutura agremiações esportivas, federações e confederações não dão o suporte necessário para que os mecanismos de controle, baseados em boas e práticas funcionem. Por outro lado, o momento é de evolução. Estamos muito melhores do que estávamos há cinco anos e seguimos nesta jornada. Espero que as inúmeras dificuldades impostas pela pandemia do Covid-19 não impactem esse momento positivo que estávamos vendo.
Existe evolução, incluindo regulatória, mas ainda falta muito. Estamos uma volta atrás de outros países, como os Estados Unidos e outros países na Europa e Ásia. Parte disso passa pela profissionalização das gestões dos clubes de futebol.
O Futebol é a paixão nacional, mas é justo apontar que outras modalidades, até para ganhar mercado, estão à frente nesses quesitos?
Fora do Brasil vemos isso de forma muito evidente nas ligas profissionais americanas. Não para ganhar mercado, mas da própria natureza profissional dos negócios que envolvem aqueles esportes. No Brasil temos bons exemplos de modalidades que implementaram estrutura de governança e compliance e que estão mais desenvolvidas, como rugby e vela, que há muitos anos são referência para outras confederações, federações e clubes.
Vocês acabam de ser contratados pelo Cruzeiro que, publicamente, manifesta sua situação crítica no âmbito administrativo. Como é essa relação de trabalhar pensando na avaliação de fatos passados e um trabalho de Governança preventivo bem estruturado?
O Cruzeiro está passando por um momento de reestruturação. Vemos de uma forma muito positiva a iniciativa de investigar os problemas de gestão que acarretará na atual situação do clube. A gente espera que o Cruzeiro sirva de exemplo a outros clubes, demonstrando o papel fundamental das estruturas de governança e compliance, como uma gestão comprometida em apriorar mecanismos de controle e transparência. A Kroll é especialista em gestão de risco e nosso trabalho é baseado nas melhores práticas globais. O que aplicamos no Cruzeiro aplicaríamos em qualquer empresa de qualquer setor.