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Deve ser bom e tranquilo jogar na altitude

É a única conclusão que se pode chegar, quando os times de futebol habituados a jogar do nível do mar ou próximo disso, não se organizam de fato para deixar de praticar o esporte a três ou quatro mil metros de altitude. Há anos clubes do Brasil, Uruguai ou Argentina reclamam da brutalidade de correr em La Paz (3.600m), Oruro (3.700m) ou Potosí (3.960m), para citar cidades apenas da Bolívia. […] Leia mais

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Vinicius Lordello — Esporte Executivo

Publicado em 5 de abril de 2013 às, 13h42.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às, 09h05.

É a única conclusão que se pode chegar, quando os times de futebol habituados a jogar do nível do mar ou próximo disso, não se organizam de fato para deixar de praticar o esporte a três ou quatro mil metros de altitude. Há anos clubes do Brasil, Uruguai ou Argentina reclamam da brutalidade de correr em La Paz (3.600m), Oruro (3.700m) ou Potosí (3.960m), para citar cidades apenas da Bolívia. Afirmam que vão se organizar, ameaçam ir à FIFA e… e…. nada! E a entidade máxima do futebol continua fazendo questão de ignorar o problema.

Este blog não tem competência médica e por isso, claro, se utiliza de estudos já feitos por quem é habilitado para isso. Seres humanos que praticam o futebol nas alturas (sim, é importante lembrar que são seres humanos) passam mal, sentem falta de ar, precisam utilizar balões de oxigênio ao longo da disputa e, não raramente, são flagrados vomitando à beira do gramado. O argentino Messi, em recente Partida disputada entre as seleções de Argentina e Bolívia, passou por tal situação. Além disso, estudos apontam que a altitude diminui em ao menos 25% o rendimento esportivo. Até clubes da Bolívia que jogam em uma altura menor, como Sucre (2.800m) tem reclamado de jogar mais 1000 metros acima.

O argumento de quem organiza o futebol é de que é preciso respeitar a universalidade do esporte, e que seria um desrespeito aos clubes destas cidades, e consequentemente aos seus torcedores, proibi-los de receber partidas importantes para sua trajetória esportiva. A ponderação é justa, mas não é possível priorizar a “universalidade do esporte” em detrimento da saúde de quem o pratica. Já são pensadas exceções às regras atuais (com as quais este blogueiro concorda), como aumentar especificamente nestas partidas o número de substituições das 3 para 5 ou 7. Mas é pouco, se considerado o quanto sofrem os atletas que jogam lá nos ares.

Site Flamengo

O fato é que os clubes falam, reclamam, apontam a altitude como culpada de derrotas, mas não se movimentam para mudar (notem que escrevo mudar, e não vetar). Já imaginaram uma Libertadores sem clubes de Brasil, Argentina e Uruguai? Pois é, a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) não quer nem pensar. Então que os times e países mais tradicionais do futebol da América do Sul façam valer sua importância. Claro que aqui não é uma disputa entre países, de imposição de força dos mais fortes sobre os considerados mais fracos. Mas de respeito à saúde, que de fato é (ou deveria ser) uma das bandeiras do esporte.

A sensação que fica é que os clubes não acham tão ruim jogar na altitude. Dá até pra apontar como justificativa para derrotas contra times mais fracos, coisa que tem se tornado mais comum ultimamente. Mas seria pequeno demais pensar assim. Há alternativas possíveis, faltando apenas que quem organiza os campeonatos, assim como aqueles que deles participam, se reúnam e se entendam. Ou não será difícil imaginar uma empresa de balões de oxigênio sendo uma das próximas patrocinadoras das principais competições sul-americanas, em uma ação de marketing que seria, de fato, de tirar o fôlego.

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