"Você tem que ser influenciador, em primeiro lugar, dentro da sua empresa", afirma João Kepler
Ele é investidor em 1.700 empresas, fundador da Bossa Nova, podcaster, escritor e criador do Movimento O Poder da Família
Publicado em 13 de fevereiro de 2024 às, 12h30.
Última atualização em 15 de fevereiro de 2024 às, 15h51.
Esta semana temos um bate-papo com mais um tubarão incrível, que ajuda um monte de empreendedores a escalar e crescer. É João Kepler, investidor em 1.700 empresas, fundador da Bossa Nova, podcaster, escritor e criador do Movimento O Poder da Família.
Para começar, quem é o João Kepler?
Sou um empreendedor como qualquer outro, tive dificuldades, empreendi negócios, desisti, venci, sofri, lutei e, nos últimos 10 anos, venho acertando mais do que errando. Minha chave virou quando me tornei investidor. Aos 40 anos mudei minha vida, mudei de ciclo, ganhei uma nova fase e um novo olhar sobre tudo e todos. No meio disso também sou escritor, estou no meu 11 º livro. Acordo muito cedo todos os dias para escrever e para estudar, porque escrevo sobre aquilo que estou vivendo no momento.
Acredito que eu seja assim porque existe um incômodo, uma inquietude: Quem vence na vida são as pessoas inquietas e insatisfeitas no bom sentido. E por isso conquistam, vão errando, acertando, cometendo erros novos - não os velhos - e seguem tocando a vida.
Todo empresário tem muitas histórias de sucesso e fracasso para contar e todas as lições têm um aprendizado para quem ouve. Por isso criamos um programa semanal no SBT, chamado Pivotando, em que entrevistamos empresários para que contem cada fase de sua trajetória. O programa também entra no YouTube e nos canais digitais, como parte de uma trilha de Educação em que o SBT vem investindo.
Cada vez que as coisas mudam, e têm mudado numa velocidade muito dinâmica, nós temos que nos reinventar. Não existe mais aquela coisa de que em time que está ganhando não se mexe.
A história é modelar e não copiar. Agora é que mexe mesmo. Quando tudo está bem, você fica numa certa zona de conforto, mas a verdade é que pode acontecer qualquer coisa e você pode não estar preparado. Quem é organizado, disciplinado, pode até ter um certo conforto e tem todo o direito de usufruir o que conquistou. Mas não é só isso: as pessoas geralmente só olham a foto no Instagram, não olham o que está por trás, toda a “ralação”, tudo o que o empresário precisa fazer e por quantas pessoas é responsável. Essa parte não é vista.
Você sente isso em relação às empresas onde você investe? São 1.700 e toda essa gente, de alguma forma, depende de você, como inspiração, como mola propulsora, mudança de vida, oportunidade de mudar de vida e o negócio deles.
Isso é uma grande responsabilidade: saber que eles dependem de alguma forma de mim, não só quando investi, mas na continuidade, no crescimento, nas próximas rodadas. É um trabalho de time cuidar dessas empresas. Além da Bossa Nova tenho outros negócios e esse mesmo sentimento de responsabilidade com todos. Mas a sensação é muito prazerosa, porque no estágio em que estamos, só fazemos o que gostamos. Por exemplo, se viajo para atender a uma demanda, vou porque quero. Lá atrás eu fazia porque precisava.
Hoje tenho condições de fazer isso, de servir, de compartilhar, de transbordar na vida das pessoas. Faço pelos livros e também dentro das minhas empresas com as pessoas que me cercam. Porque você tem que ser influenciador em primeiro lugar dentro de casa, da sua empresa, do seu negócio. Se essas pessoas ao seu redor não te admirarem, como pode querer que as de fora de admirem? Posso dar um exemplo: meus dois filhos mais velhos têm suas próprias empresas, seus negócios. E, agora, minha filha mais nova quer ser gestora dos nossos negócios. Isso me deixa muito feliz.
Você criou um projeto chamado O Poder da Família. Fale um pouco sobre isso.
Esse é um movimento que tem um livro com o mesmo nome e surgiu num bate papo com um casal de amigos bem novos, o Cacá Diniz e a Simone, que têm filhos pequenos, diferente de nós, que somos casados há 30 anos de casados e temos três filhos adultos. As conversas me inspiraram a querer ajudar famílias, resgatar casais, pais e filhos, relacionamentos, a partir de exemplos. A Simone já gravava vídeos no YouTube falando do relacionamento dela e a Cris, minha mulher, que é cristã fervorosa, também falava algumas coisas. Assim resolvemos criar esse movimento.
No primeiro ano fizemos um evento para mil pessoas; no ano passado tivemos 2.500 e este ano queremos rodar o Brasil com um pocket para 5, 10 mil pessoas. A diferença é que não fazemos palestras: as famílias sobem no palco e contam seus próprios casos para inspirar quem está ali. Esse movimento tem tido uma repercussão muito positiva, não financeira, porque não é para ganhar dinheiro, mas como um give back, que eu sinto que preciso ofertar. Tenho grandes amigos padres, pastores, pessoas que têm base de família, como o pastor Cláudio Duarte, o Joel Jota, que também participam, pois queremos resgatar mais ensinamentos de pessoas assim para ajudar a quem está assistindo.
Este é um papo de empreendedorismo com tubarões, CEOs, investidores que sempre traz algo, nas conversas, daquilo que quero devolver, trazer, a importância da família e como isso ajuda a crescer e ter sucesso na vida, o quanto essa base é importante.
O empreendedorismo familiar é muito importante. Se uma empresa é ruim, com certeza tem brigas societárias, problemas familiares ou psicológicos de um dos sócios. Então, fortalecer a família, a base, fortalece os negócios. As pessoas que você entrevista têm uma base familiar forte e isso é muito bom, porque hoje em dia o certo virou errado, o errado virou certo, os valores estão tumultuados. Resumindo: o resgate da família é o resgate do que é certo.
Concordo 100%. Sinto muito quando vejo as pessoas tentarem confundir a cabeça do jovem, porque é um campo fértil para plantar qualquer porcaria e fazer com que ele acredite que vai funcionar. E depois não funciona.
Muitos jovens têm aquela mentalidade superficial que só vê os títulos das coisas, vídeos de 30 segundos e dificilmente assistem algo com um aprendizado, uma lição de vida. Não quero me promover, mas quero ajudar, compartilhar, servir, mostrar o que deu certo e o que deu errado, inclusive mostrar que existe uma questão de vulnerabilidade, que antes era um tabu e os erros não eram mostrados. Hoje o que mais conecta cada um com seu público é exatamente a vulnerabilidade. A gente sabe de quem se aproxima, de quem nãos e aproxima, reconhece a energia positiva ou negativa.
Exato. Aqui, por exemplo, tenho a liberdade de convidar quem eu quero. Existem milhões de CEOs e founders, mas todos que eu convido são tubarões bons, não tem nenhum predador. São tubarões porque tiveram que lutar, ser estratégicos, guerreiros e, com isso, ajudam muita gente no caminho.
Isso é muito importante. A vida não é fácil e muitas vezes precisamos ter uma postura de tubarão, mas não de predador. Também não podemos ser bonzinhos demais, senão somos passados para trás. Eu fui aprendendo, tenho uma vida empreendedora gigante: comecei com 14 anos, sou um self made man, não tive herança, embora meu pai tenha me proporcionado boas escolas, coisas boas. Mas tive que me virar e fui aprendendo com o tempo; fui passado para trás, mas hoje não culpo mais as pessoas ou quem me traiu, porque sei que fui quem errou, por não saber diferenciar, filtrar.
Acho que grande parte dos jovens, hoje, é menos comprometida do que nós éramos, não têm tanta constância, tanto comprometimento, tanta resiliência com as coisas que fazem, não se aprofundam muito para ter conhecimento de forma séria e concreta. E sinto pena porque o mundo hoje é dos especialistas e para se desenvolver a pessoa tem que conhecer alguma coisa muito bem.
Não dá para ficar na superficialidade de tudo e não dá para se especializar em tudo. Meu filho Davi fala uma frase interessante: quando eu era ruim em Português, era bom em Matemática. Então meu pai me mandava fazer reforço em Matemática, para reforçar meus pontos fortes, para ser muito bom no que eu já era bom. Hoje ele se aprofunda muito, tem uma experiência de 10 anos fazendo negócios embora só tenha 22 anos.
Nosso papel é ajudar os jovens a ter o conhecimento de quem eles são, do que querem ser, com o que se identificam, não apenas aquela coisa antiga de perguntar o que vão ser quando crescerem. Muitos pais querem dar aos filhos o que eles não tiveram, em vez de ensinar o que não ensinaram a eles mesmos. A história precisa ser um pouco diferente. Temos que provocar a juventude a sair da superficialidade, porque o jovem tem uma mente mais aberta, uma visão mais ampliada, mais condições de pesquisar até pelo domínio da tecnologia. Hoje temos muitos ensinamentos disponíveis e até mesmo essa pressa pode despertar nos jovens a vontade de saber mais e de fazer as perguntas certas.
Muitos empresários passaram a vida toda fazendo a mesma coisa e ficam naquela corrida do rato: trabalhar, ganhar salário, gastar, ficar sem dinheiro, trabalhar. Tem empresário que vira escravo da própria empresa, que não anda se ele não estiver lá dentro. Isso é muito limitado.
Na minha opinião, mentoria é ajudar o empreendedor a fazer perguntas para si mesmos e encontrar suas próprias respostas, porque elas são diferentes para cada pessoa. Não existe uma receita de bolo no empreendedorismo. Eu me posiciono na mentoria como se fosse um conselho de empresa, porque o crescimento que só acontece quando se olha os pontos cegos. Essa é a ajuda.
E qual o setor em que você mais investe com a Bossa Nova?
Não temos um setor específico para investir. A Bossa Nova faz diagnósticos, tem fundos por setor, mas o feeling principal é sempre educação. As startups são empresas como qualquer outra, apenas com mais base tecnológica e visão escalada. Quando olho para todas essas startups, pergunto: que problema ela resolve? Qual setor tem mais problemas para resolver? Agro, Educação, Saúde, por exemplo, são setores críticos, com muitos problemas a serem resolvidos.
Como fazer parte da Bossa Nova?
Todo investidor tem uma tese e no nosso caso, um empreendedor que tem um produto validado, testado, faturando, resolve um problema real, é um software como serviço prioritariamente, pode acessar bossainvest.com e aplicar seu projeto. O time vai avaliar, entra em contato com ele e, eventualmente, esse empreendedor vira investido da Bossa Nova. Para nós não é o dinheiro em si que conta: é o pós-investimento, é entrar dentro de uma rede de negócios, de oportunidades, de apoio e que ajuda nos próximos passos.
Vamos contar nossa novidade?
Como a Cris tem muitos empresários em torno do mundo dela, estamos abrindo juntos um fundo para investir nesses empresários, com amigos e parceiros.
É muito gratificante fazer parte de um fundo, porque mesmo tendo conhecimento de muita coisa boa, não tenho braço para atender todas essas demandas.
A Bossa tem estrutura para olhar todas essas oportunidades, dar feed back para o empreendedor e investir junto com outras pessoas que podem ajudar com mentoria, investimento ou outras capacidades. Investir sozinho, quando não se tem uma estrutura ou como cuidar daquele investimento, pode resultar em perda do dinheiro.
Investir num fundo é convexo: ganhos ilimitados e perdas limitadas, pois a pessoa pode perder, no máximo, aquilo que colocou. Também é diversificar. Quando investimos num negócio, geramos renda, emprego, desenvolvimento, energia. O dinheiro tem energia: essa é a diferença de capital produtivo e é nisso que invisto. O melhor dinheiro é o dinheiro do cliente: produzir, vender, trabalhar. A mentalidade do investidor é a seguinte: se você resolve a dor de alguém, alguém vai te pagar por isso. Nós ganhamos dinheiro resolvendo o problema dos outros, investimos para produzir mais e gerar mais capital produtivo. A empresa não tem que servir o dono, o dono tem que servir a empresa, que por sua vez transforma a vida das pessoas.
Muitos empresários esquecem do equity, do valor do negócio dele, não só da venda de produtos ou serviços. Muitos não sabem quanto vale seu negócio para poderem negociar bem, usar esse valor a seu favor. Quem não pensa assim acha que só o dinheiro na conta é que importa. E não é.