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Liderar é Servir: o modelo do iFood que transforma colaboradores em empreendedores

Diego Barreto, do iFood, explica como uma cultura de autonomia, propósito e entrega transformou a empresa em uma das maiores plataformas da América Latina

Diego Barreto é o convidado do Papo de Tubarões

Diego Barreto é o convidado do Papo de Tubarões

Cris Arcangeli
Cris Arcangeli

CEO da beuty'in

Publicado em 14 de novembro de 2025 às 13h28.

Recebi o Diego Barreto, CEO do iFood, no meu podcast Papo de Tubarões. E saí da conversa com a sensação clara de que estamos vivendo uma transformação profunda na forma de liderar e construir empresas.

Falamos sobre cultura organizacional, autonomia e intraempreendedorismo temas que me acompanham há muitos anos e creio que hoje são determinantes para o sucesso de qualquer negócio que queira crescer de forma sustentável.

Logo no início da conversa, Diego disse uma frase que resume bem a essência da cultura do iFood:

“O iFood não contrata funcionários, contrata empreendedores.”

Essa frase traduz exatamente o que acredito: empresas sólidas são feitas por pessoas que pensam como donas. Gente que não espera ordens, mas que toma a frente, busca soluções, elabora estratégias e age com propósito. Quando uma empresa entende isso, o crescimento deixa de ser um objetivo e passa a ser uma consequência natural.

No iFood, a autonomia não é discurso, é prática diária. Diego contou que cada área é tratada como um pequeno negócio, e que errar faz parte do processo.
“Se você não estiver disposto a dar tudo de si, o iFood não é o lugar para você.”

Essa visão é poderosa. Fala de entrega, mas também de sentido. Porque dar tudo de si só faz sentido quando há propósito. E é justamente aí que entra o intraempreendedorismo, algo que sempre defendi como um dos caminhos mais inteligentes para o crescimento individual e coletivo.

Empreender dentro de uma empresa exige coragem, senso de dono e capacidade de lidar com a liberdade. E essa talvez seja uma das maiores lições que aprendi ao longo da minha trajetória: autonomia sem clareza de propósito vira desordem; e propósito sem ação se torna discurso vazio. O equilíbrio entre os dois é o que diferencia as culturas que florescem daquelas que se perdem no meio do caminho.

Diego falou algo que traduz bem esse pensamento:“Liderar é servir. É ajudar o time a ter clareza sobre o propósito e enxergar o impacto do que está construindo.”

Essa é, para mim, a essência da nova liderança. O líder de hoje não é quem manda, é quem remove barreiras. É quem dá espaço, escuta e ajuda o time a crescer. Sempre acreditei que liderar é servir e isso exige mais força do que controlar, porque servir demanda generosidade e confiança.

Mas também sei que autonomia sem direção pode gerar ruído. Nem toda empresa está pronta para isso. É preciso maturidade, cultura sólida e líderes dispostos a sustentar o equilíbrio entre liberdade e responsabilidade. Esse é o verdadeiro desafio da liderança moderna: criar um ambiente onde as pessoas possam ser donas, mas sem perder o alinhamento com o propósito coletivo.

Quando perguntei a Diego como manter a cultura forte em meio ao crescimento, ele respondeu com uma frase que vale para qualquer negócio, de qualquer tamanho:

“Cultura é o que acontece quando ninguém está olhando.”

Perfeito. Porque cultura não é o que está nos manuais ou nas paredes da empresa é o comportamento diário das pessoas. É como elas agem quando não há um líder por perto.

Diego também fez uma analogia que eu adorei: “A cultura é o código-fonte da empresa. Se ela for mal escrita, o sistema trava.”

É exatamente isso. Cultura é o software invisível que faz o negócio rodar. Quando ela é bem construída, a empresa cresce com consistência. Quando não é, tudo trava mesmo com tecnologia, investimento e estratégia.

Outro ponto que me chamou atenção foi a forma como o iFood lida com o erro.
“Errar é permitido, repetir o erro sem aprender não.”

Essa mentalidade é essencial para a inovação. Eu também acredito que o erro é um instrumento de evolução e que sem espaço para testar e falhar, ninguém cria nada realmente novo. O iFood entendeu isso e transformou a experimentação em rotina.

Outro ponto central do bate-papo foi sobre o processo de contratação. Diego contou que o iFood contrata primeiro pela atitude, depois pela técnica.

“A gente não contrata só pela técnica, contrata pela atitude.”

Essa é uma das maiores verdades do mundo dos negócios. A técnica pode ser ensinada é o que eu chamo de “Hard Skill”. A vontade de fazer acontecer- atitude- é o que chamo de “Soft Skill”, não. As empresas que entendem isso conseguem construir times mais comprometidos, criativos e resilientes.

Ele compartilhou histórias de profissionais que começaram em funções simples e hoje lideram áreas estratégicas. Isso mostra que o iFood não apenas fala sobre meritocracia, ele pratica. E quando uma empresa cria um ambiente em que o crescimento depende mais de atitude do que de hierarquia, ela forma líderes de dentro para fora.

Outro ponto que discutimos foi a relação das novas gerações com o trabalho. Diego foi direto: “Não dá mais para liderar pelo medo ou pela hierarquia.”

E ele tem razão. O novo profissional quer propósito, autonomia e aprendizado. Quer sentir que faz parte de algo maior. E é justamente esse o diferencial do iFood: ele conseguiu transformar propósito em prática.

No fim da conversa, Diego resumiu tudo com uma frase simples, mas poderosa:
“O papel do líder é deixar o time melhor do que encontrou.”

Essa é, talvez, a definição mais completa de liderança que já ouvi. Liderar não é acumular poder, é multiplicar capacidade. É sobre impacto, não sobre autoridade.

O modelo do iFood mostra que intraempreender é um ato de confiança e coragem. Confiar nas pessoas, dar autonomia e acreditar que cada um pode ser parte da transformação. Mas é importante lembrar: esse modelo exige cultura forte, propósito claro e líderes preparados. Sem isso, autonomia pode virar confusão, e liberdade sem direção, desperdício.

Diversos estudos recentes confirmam o que a prática do iFood já demonstra. O Entrepreneurial Management Journal (2023) aponta que a cultura organizacional explica quase 70% da variação no crescimento do intraempreendedorismo. Já uma pesquisa publicada na Revista de Administração e Inovação (RAI, 2024) mostra que ambientes que valorizam autonomia e propósito têm desempenho até 70% superior em inovação e retenção de talentos.

Esses dados confirmam o que sempre acreditei: as empresas que confiam nas pessoas crescem mais rápido, inovam mais e criam legados mais duradouros.

Liderar é servir.

E servir é acreditar que o sucesso coletivo é o único que realmente importa. No fim, é isso que transforma negócios em legados e líderes em construtores de futuro.