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Para o Brasil, a sobra e o resto do bom momento global

Em junho do ano passado, em um artigo nesta mesma coluna, alertei meus leitores para a melhora iminente do mercado de ações brasileiro. Desde então o mercado experimentou uma alta de quase 50%, com algumas ações chegando a dobrar de preço neste intervalo de tempo. A bolsa bateu nesta sexta-feira 72.000 pontos após seis anos. […]

CHINA: o bom momento do país é apenas uma da série de notícias que têm elevado o otimismo mundo afora  / Lam Yik Fei/Getty Images (./Getty Images)
CHINA: o bom momento do país é apenas uma da série de notícias que têm elevado o otimismo mundo afora / Lam Yik Fei/Getty Images (./Getty Images)
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Eduardo Moreira

Publicado em 1 de setembro de 2017 às, 17h02.

Em junho do ano passado, em um artigo nesta mesma coluna, alertei meus leitores para a melhora iminente do mercado de ações brasileiro. Desde então o mercado experimentou uma alta de quase 50%, com algumas ações chegando a dobrar de preço neste intervalo de tempo. A bolsa bateu nesta sexta-feira 72.000 pontos após seis anos. E é ainda só o começo. O mercado seguirá tendo, pelos mesmos motivos que apontei naquela coluna somados à inércia do movimento em curso, bons meses (quiçá anos) de valorização em seus ativos.

Mas seguimos não sendo a melhor aposta em termos de risco x retorno nas opções que há por aí ao redor do mundo. A nós caberá somente a sobra e o resto do bom momento que vive o mundo. Bom o suficiente para garantir bons retornos aos investidores brasileiros que migrarem da renda fixa, mas frustrante quando comparado ao que viverão alguns países.

O mundo vive um momento mágico em termos econômicos. E enganam-se os que pensam que os momentos mágicos econômicos são aqueles em que o crescimento é recorde. Mais especiais do que estes são os momentos em que o mundo funciona como um relógio, de forma equilibrada, consistente e sustentável. Nas nações desenvolvidas gosto de usar a fórmula de bolso do 2 com 2 para encontrar esses momentos: 2% de crescimento de PIB com 2% de inflação. E tire daqui coloque acolá, é mais ou menos assim que estão rodando as principais economias desenvolvidas do mundo. Mesmo a grande outlier, a China, tambem encontrou em políticas econômicas mais responsáveis e focadas em estabilidade (em vez de crescimento) uma maior solidez e equilíbrio. O mundo está literalmente redondo.

E é neste mundo, redondo, que um fenômeno incrível está acontecendo. Trata-se do ingresso no mercado de consumo “globalizado” de um contingente de pessoas brutal. Alguns bilhões para ser mais exato. Trata-se das pessoas que estão passando a ter acesso a rede mundial de computadores através da internet. Com o avanço da tecnologia de transmissão de sinal dos antigos satélites estacionários que ficam a dezenas de milhares de quilômetros da terra para estações que estacionam no ar a apenas milhares de metros e reduzem drasticamente o preço do sinal, cerca de 3 bilhões de “sem rede” ingressarão no mundo digital ao longo dos próximos anos. E quais empresas se beneficiarão mais disso? Amazon, Netflix, Apple, Facebook, Google, e todos os outros “usual suspects”. Muito mais do que Petrobras e Vale.

Pense na sua rotina. Como sei que você é um bom exemplo? Se está lendo este texto é porque faz parte dos “incluídos” digitais. Você acorda e pega seu Iphone para checar no Whatsapp se tem alguma noticia nova. Entra no Waze e segue para o trabalho. Usa o Outlook para se organizar durante o dia e finalmente descansa assistindo à última série do Netflix antes de dormir. Em relação à gasolina que põe no seu carro, é a mesma do mês passado.

Mercados andam com a variação das expectativas e não com o estado atual das coisas. Imaginem 3 bilhões de “vocês” a mais seguindo essa mesma rotina. É por isso que países como os Estados Unidos seguem sendo a aposta mais certa em termos de valorização de ativos ao longo dos próximos anos. Quanto a nós, seguiremos melhorando, mas alimentados pela sobra e o resto.