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Os robôs somos nós

Eu ainda era pequeno quando a família Jetson, desenho animado produzido pela Hanna Barbera, fazia sucesso na televisão. Contava histórias do dia a dia da família de George Jetson na cidade de Orbit City, em algum tempo do futuro no qual carros voavam, as jornadas de trabalho eram reduzidas, e as casas e empresas flutuavam […]

JETSONS: será que já vivemos na era dos robôs, como no desenho animado? / Warner Bros. / Getty Images (Warner Bros./Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 23 de junho de 2016 às 11h48.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h22.

Eu ainda era pequeno quando a família Jetson, desenho animado produzido pela Hanna Barbera, fazia sucesso na televisão. Contava histórias do dia a dia da família de George Jetson na cidade de Orbit City, em algum tempo do futuro no qual carros voavam, as jornadas de trabalho eram reduzidas, e as casas e empresas flutuavam suspensas sobre o chão. Um mundo compartilhado por humanos e robôs, como era o caso da empregada doméstica de George, Rosie. É incrível imaginar que os primeiros episódios da série foram escritos ainda na década de 60 nos Estados Unidos.

A ideia de robôs dividindo espaço com nós humanos é algo que há tempos habita o imaginário de autores de toda sorte. Dos roteiristas de Hollywood aos autores de livros de ficção científica — o que de certa forma gera uma frustração em boa parte dos amantes do gênero, dado que, já ultrapassada a primeira década do século XXI, o mais perto que chegamos disso em nossas casas foi com os cachorrinhos robôs que reconhecem faces e dizem algumas dezenas de frases bobas. Estaria o mundo dos robôs ainda habitando um futuro tão longínquo que esta geração não o conhecerá? Talvez não. Talvez o futuro não consista em fazer robôs parecidos com nós. Talvez os robôs sejamos nós.

Eu estava esta semana andando de Uber, indo de uma reunião para outra em São Paulo, quando esta ideia me veio à cabeça. O motorista, claramente pouco acostumado ao novo emprego, abriu a porta e começou com a sequência de frases decoradas: “Você é o senhor Eduardo? A temperatura do ar-condicionado está boa? Alguma estação à sua escolha? Posso seguir o caminho do Waze? Quer uma água ou uma balinha?”. Em seguida, apertou o botão em seu aplicativo que transformaria a tela de seu celular em um GPS comandado pelo Waze para me levar até o destino. O Waze então dava todas as instruções do que teria de ser feito: “fique à direita, vire à esquerda daqui a 800 metros, escolha a pista do meio e logo após suba no viaduto”. Quase hipnotizado, o motorista seguia ipsis literis o que o aplicativo lhe dizia. Até que finalmente chegou ao destino final. Ficou pra mim a impressão de que, daquela forma, qualquer um seria capaz de executar a tarefa daquele motorista.

Estes são os robôs do futuro: nós! Seremos capazes de fazer quase qualquer coisa, comandados passo a passo por um aplicativo ou programa de computador. Consertar carros, fazer roupas, preparar comidas e até dirigir aviões. A democratização do conhecimento e dos processos será capaz de capacitar a todos. Mas ao mesmo tempo irá tirar o poder criativo e a liberdade de ação das pessoas. Cada vez menos ousaremos desafiar os caminhos propostos pelos “Wazes” da vida. Cada vez mais nos tornaremos iguais uns aos outros, fazendo com que a coisa mais valiosa — e mais difícil — do mundo de ter, passe a ser ATITUDE. A moeda do futuro.

EDUARDO-MOREIRA-credito-coluna

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Eu ainda era pequeno quando a família Jetson, desenho animado produzido pela Hanna Barbera, fazia sucesso na televisão. Contava histórias do dia a dia da família de George Jetson na cidade de Orbit City, em algum tempo do futuro no qual carros voavam, as jornadas de trabalho eram reduzidas, e as casas e empresas flutuavam suspensas sobre o chão. Um mundo compartilhado por humanos e robôs, como era o caso da empregada doméstica de George, Rosie. É incrível imaginar que os primeiros episódios da série foram escritos ainda na década de 60 nos Estados Unidos.

A ideia de robôs dividindo espaço com nós humanos é algo que há tempos habita o imaginário de autores de toda sorte. Dos roteiristas de Hollywood aos autores de livros de ficção científica — o que de certa forma gera uma frustração em boa parte dos amantes do gênero, dado que, já ultrapassada a primeira década do século XXI, o mais perto que chegamos disso em nossas casas foi com os cachorrinhos robôs que reconhecem faces e dizem algumas dezenas de frases bobas. Estaria o mundo dos robôs ainda habitando um futuro tão longínquo que esta geração não o conhecerá? Talvez não. Talvez o futuro não consista em fazer robôs parecidos com nós. Talvez os robôs sejamos nós.

Eu estava esta semana andando de Uber, indo de uma reunião para outra em São Paulo, quando esta ideia me veio à cabeça. O motorista, claramente pouco acostumado ao novo emprego, abriu a porta e começou com a sequência de frases decoradas: “Você é o senhor Eduardo? A temperatura do ar-condicionado está boa? Alguma estação à sua escolha? Posso seguir o caminho do Waze? Quer uma água ou uma balinha?”. Em seguida, apertou o botão em seu aplicativo que transformaria a tela de seu celular em um GPS comandado pelo Waze para me levar até o destino. O Waze então dava todas as instruções do que teria de ser feito: “fique à direita, vire à esquerda daqui a 800 metros, escolha a pista do meio e logo após suba no viaduto”. Quase hipnotizado, o motorista seguia ipsis literis o que o aplicativo lhe dizia. Até que finalmente chegou ao destino final. Ficou pra mim a impressão de que, daquela forma, qualquer um seria capaz de executar a tarefa daquele motorista.

Estes são os robôs do futuro: nós! Seremos capazes de fazer quase qualquer coisa, comandados passo a passo por um aplicativo ou programa de computador. Consertar carros, fazer roupas, preparar comidas e até dirigir aviões. A democratização do conhecimento e dos processos será capaz de capacitar a todos. Mas ao mesmo tempo irá tirar o poder criativo e a liberdade de ação das pessoas. Cada vez menos ousaremos desafiar os caminhos propostos pelos “Wazes” da vida. Cada vez mais nos tornaremos iguais uns aos outros, fazendo com que a coisa mais valiosa — e mais difícil — do mundo de ter, passe a ser ATITUDE. A moeda do futuro.

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