Os pacotes ideológicos à venda
– Olha o pacote de direita, quem quer comprar? – grita o feirante tentando atrair algum cliente para sua banca. Um rapaz com pouco mais de 18 anos para e se interessa: – Como é esse pacote senhor? – Olha meu jovem, esse pacote inclui Estados Unidos, Israel, a economia de livre mercado, a criminalização […]
Da Redação
Publicado em 6 de maio de 2016 às 16h45.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h19.
– Olha o pacote de direita, quem quer comprar? – grita o feirante tentando atrair algum cliente para sua banca.
Um rapaz com pouco mais de 18 anos para e se interessa:
– Como é esse pacote senhor?
– Olha meu jovem, esse pacote inclui Estados Unidos, Israel, a economia de livre mercado, a criminalização do aborto e das drogas, o ódio a Fidel Castro, Maduro e Morales a queda das alíquotas de importação e a privatização das estatais que restam…
Com semblante de dúvida o jovem pergunta
– O senhor teria alguma outra opção?
– Tem aqui esse de esquerda. Tem saído bastante também. Nesse aqui vai Irã, Palestina, o Estado forte, com políticas de transferência de renda e taxação de fortunas, a descriminalização das drogas e do aborto, o desmatamento zero e … se levar agora ganha essa camiseta do Che de graça!
– Hum… Dá pra comprar um pedaço do de direita e outro do de esquerda?
– Como assim?
– Deixa eu explicar pro senhor. É porque sou judeu e, portanto, empatizo com o sofrimento de povo de Israel. Mas acho importante as políticas de transfêrencia de renda. Também sou a favor da discriminalização do aborto, mas não das drogas. Cuba e Venezuela são para mim duas histórias completamente diferentes, e a camiseta… Não gostei da cor.
– Desculpe querido, mas aqui a gente só vende o pacote inteiro. É pegar ou largar…
– Então… Me vê o de direita mesmo, vai.
O caricato diálogo acima, ilustra bem o efeito que as redes sociais e outras mídias digitais tem causado. Uma enorme polarização e diminuição da capacidade de análise e contestação das pessoas. Fruto de algoritmos que fazem com que se leia cada vez mais do que já se leu e cada vez menos de outras linhas ideológicas, reforçando padrões e convicções através de um mundo fictício lembrando o célebre Show de Truman, imortalizado nas telas do cinema no filme com Jim Carrey. Soma-se a isso, a superficialidade da leitura do homem moderno, sempre sem tempo, e se terá o cenário perfeito para que o debate ideológico atinja sofisticação quase “futebolística” nas redes.
Quem se beneficia disso? Por incrível que pareça, o status quo. O antigo. O arcaico. E é por conta da cegueira das pessoas que os velhos políticos seguem se reelegendo. Os bancos seguem cobrando enormes tarifas e praticando margens incrivelmente altas. As propagandas seguem ludibriando os consumidores. E os preconceitos e guetos ganham novamente força, mesmo que camuflados por novos formatos de manifestação.
Aonde isso vai dar é uma preocupação grande que tenho. O medo de se expor e defender algo diferente tornar-se-á cada vez maior. Até porque o grupo de amigos para o qual a opinião será exposta será cada vez mais homogêneo e intolerante. O mundo digital, que veio com a promessa de construir pontes e unir indivíduos parece estar levando o mundo para uma direção diametralmente oposta. Caberá às pessoas atravessar os rios por conta própria, buscando, ativamente, novas fontes de informação e conteúdos. Mesmo sabendo que esta travessia será, provavelmente, solitária e achincalhada. Devem fazê-lo mesmo assim. Pelo seu bem e do mundo em que vivem.
– Olha o pacote de direita, quem quer comprar? – grita o feirante tentando atrair algum cliente para sua banca.
Um rapaz com pouco mais de 18 anos para e se interessa:
– Como é esse pacote senhor?
– Olha meu jovem, esse pacote inclui Estados Unidos, Israel, a economia de livre mercado, a criminalização do aborto e das drogas, o ódio a Fidel Castro, Maduro e Morales a queda das alíquotas de importação e a privatização das estatais que restam…
Com semblante de dúvida o jovem pergunta
– O senhor teria alguma outra opção?
– Tem aqui esse de esquerda. Tem saído bastante também. Nesse aqui vai Irã, Palestina, o Estado forte, com políticas de transferência de renda e taxação de fortunas, a descriminalização das drogas e do aborto, o desmatamento zero e … se levar agora ganha essa camiseta do Che de graça!
– Hum… Dá pra comprar um pedaço do de direita e outro do de esquerda?
– Como assim?
– Deixa eu explicar pro senhor. É porque sou judeu e, portanto, empatizo com o sofrimento de povo de Israel. Mas acho importante as políticas de transfêrencia de renda. Também sou a favor da discriminalização do aborto, mas não das drogas. Cuba e Venezuela são para mim duas histórias completamente diferentes, e a camiseta… Não gostei da cor.
– Desculpe querido, mas aqui a gente só vende o pacote inteiro. É pegar ou largar…
– Então… Me vê o de direita mesmo, vai.
O caricato diálogo acima, ilustra bem o efeito que as redes sociais e outras mídias digitais tem causado. Uma enorme polarização e diminuição da capacidade de análise e contestação das pessoas. Fruto de algoritmos que fazem com que se leia cada vez mais do que já se leu e cada vez menos de outras linhas ideológicas, reforçando padrões e convicções através de um mundo fictício lembrando o célebre Show de Truman, imortalizado nas telas do cinema no filme com Jim Carrey. Soma-se a isso, a superficialidade da leitura do homem moderno, sempre sem tempo, e se terá o cenário perfeito para que o debate ideológico atinja sofisticação quase “futebolística” nas redes.
Quem se beneficia disso? Por incrível que pareça, o status quo. O antigo. O arcaico. E é por conta da cegueira das pessoas que os velhos políticos seguem se reelegendo. Os bancos seguem cobrando enormes tarifas e praticando margens incrivelmente altas. As propagandas seguem ludibriando os consumidores. E os preconceitos e guetos ganham novamente força, mesmo que camuflados por novos formatos de manifestação.
Aonde isso vai dar é uma preocupação grande que tenho. O medo de se expor e defender algo diferente tornar-se-á cada vez maior. Até porque o grupo de amigos para o qual a opinião será exposta será cada vez mais homogêneo e intolerante. O mundo digital, que veio com a promessa de construir pontes e unir indivíduos parece estar levando o mundo para uma direção diametralmente oposta. Caberá às pessoas atravessar os rios por conta própria, buscando, ativamente, novas fontes de informação e conteúdos. Mesmo sabendo que esta travessia será, provavelmente, solitária e achincalhada. Devem fazê-lo mesmo assim. Pelo seu bem e do mundo em que vivem.