Keep it simple (e compre)
O livro Eclesiastes da Bíblia, cuja autoria é atribuída ao Rei Salomão, começa assim: “Vaidade de vaidades, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade…”. Apesar de escrito há mais de dois mil anos, a afirmação parece cair como uma luva para o mundo das finanças. Um mundo que gira em torno de status, poder, dinheiro e… […]
Da Redação
Publicado em 6 de janeiro de 2017 às 15h26.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h35.
O livro Eclesiastes da Bíblia, cuja autoria é atribuída ao Rei Salomão, começa assim: “Vaidade de vaidades, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade…”. Apesar de escrito há mais de dois mil anos, a afirmação parece cair como uma luva para o mundo das finanças. Um mundo que gira em torno de status, poder, dinheiro e… vaidade.
Neste zoológico cheio de bichos estranhos, duas espécies parecem estar entre as mais vaidosas. Os traders e os economistas. Quer fazer um teste? Peça sua opinião sobre os rumos que o mercado brasileiro seguirá em 2017. Provavelmente você ouvirá um pouco sobre tudo. As mudanças propostas em Wall Street para o Dodd-Frank Act, os dados mais recentes do mercado imobiliário chinês, a trajetória da relação divida/PIB dos países europeus, análises geopolíticas envolvendo Rússia e Estados Unidos e mais um monte de informações sofisticadas. Tudo para mostrar o quão sabidos, estudados e sofisticados são. Sofisticados, sem dúvida, mas pouco úteis para ajudar quem tem apenas duas opções a tomar em relação aos seus investimentos: comprar ou vender…
Sempre gostei de tentar simplificar as coisas ao máximo. Fazer uma criança de 12 anos entender o que é uma ação, um senhor de 70 estimar o valor de uma opção flexível sem usar a calculadora, um psicólogo ou dentista compreender a dinâmica das finanças públicas. Dá um trabalho danado, mas acho que vale a pena. Me ajuda a avaliar o que tem verdadeira importância e também a entender (e não decorar) o que está acontecendo. “Se não pode ser resumido é porque não foi compreendido”.
Tenho tentado pensar 2017 da forma mais simples possível. E em se tratando de Brasil, as coisas realmente parecem estar simples. O que não significa que estão fáceis. Uma vez perguntaram ao maior equilibrista do mundo sobre como era atravessar prédios equilibrado numa corda bamba. Ele respondeu “O que faço é muito simples, basta colocar um pé na frente do outro e usar a barra que carrego nas mãos para corrigir os desequilíbrios. Mas é muito difícil e perigoso”. O Brasil está assim: simples, difícil e perigoso.
Temos uma inflação que finalmente voltou ao intervalo previsto pelo governo. Isto desarma a principal armadilha que existia na economia: a inflação com recessão. O governo ganhou agora um grau de liberdade, o de usar politica monetária para estimular crescimento. Ou seja, baixar os juros. Com um desequilíbrio fiscal enorme (onde os encargos da dívida respondem por boa parte dos gastos), uma inflação controlada, um crescimento corrente do PIB pífio e uma cotação do dólar menos volátil me parece muito provável que os juros voltarão a cair rapidamente.
Com os juros caindo tudo ficará mais barato. Afinal, o preço de tudo que existe tende a ser igual ao que renderá de hoje até a eternidade, descontado (dividido) pelos juros do período. Quando dividimos por um valor menor, o resultado é sempre maior. Alguns dirão: “mas a queda de juros já esta contemplada pelo mercado e os preços já embutem esta expectativa”. Em parte estão corretos, e esta é uma parcela da explicação sobre a melhora de 2016 dos mercados.
O que não está contemplado é o fato de que existe um pedaço da melhora que só vem com… a melhora. Os juros que caem e aumentam a demanda dos títulos de renda fixa, que ao subirem de preço tornam mais barato para as empresas captarem, que ao captarem mais barato têm mais lucro, que ao terem mais lucro melhoram seu risco de crédito, que ao melhorarem seu risco de crédito captam mais barato… A bola de neve. O ciclo virtuoso. Ou na linguagem que os economistas adoram, a convexidade positiva.
O mercado deve melhorar em 2017. Existem muitos fatores de risco na mesa, claro. As reformas que devem tramitar no congresso, os desdobramentos da operação Lava-Jato, as novas relações externas de países chaves da economia global com o Brasil, entre tantas outras coisas. Mas a matemática continua sendo uma força motriz poderosíssima para o mercado, e em 2017 deve empurrá-lo para cima. Talvez não tão forte como 2016 quando o Ibovespa subiu quase 40%, mas muito provavelmente será outro bom ano para apostar favoravelmente. É pra comprar.
O livro Eclesiastes da Bíblia, cuja autoria é atribuída ao Rei Salomão, começa assim: “Vaidade de vaidades, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade…”. Apesar de escrito há mais de dois mil anos, a afirmação parece cair como uma luva para o mundo das finanças. Um mundo que gira em torno de status, poder, dinheiro e… vaidade.
Neste zoológico cheio de bichos estranhos, duas espécies parecem estar entre as mais vaidosas. Os traders e os economistas. Quer fazer um teste? Peça sua opinião sobre os rumos que o mercado brasileiro seguirá em 2017. Provavelmente você ouvirá um pouco sobre tudo. As mudanças propostas em Wall Street para o Dodd-Frank Act, os dados mais recentes do mercado imobiliário chinês, a trajetória da relação divida/PIB dos países europeus, análises geopolíticas envolvendo Rússia e Estados Unidos e mais um monte de informações sofisticadas. Tudo para mostrar o quão sabidos, estudados e sofisticados são. Sofisticados, sem dúvida, mas pouco úteis para ajudar quem tem apenas duas opções a tomar em relação aos seus investimentos: comprar ou vender…
Sempre gostei de tentar simplificar as coisas ao máximo. Fazer uma criança de 12 anos entender o que é uma ação, um senhor de 70 estimar o valor de uma opção flexível sem usar a calculadora, um psicólogo ou dentista compreender a dinâmica das finanças públicas. Dá um trabalho danado, mas acho que vale a pena. Me ajuda a avaliar o que tem verdadeira importância e também a entender (e não decorar) o que está acontecendo. “Se não pode ser resumido é porque não foi compreendido”.
Tenho tentado pensar 2017 da forma mais simples possível. E em se tratando de Brasil, as coisas realmente parecem estar simples. O que não significa que estão fáceis. Uma vez perguntaram ao maior equilibrista do mundo sobre como era atravessar prédios equilibrado numa corda bamba. Ele respondeu “O que faço é muito simples, basta colocar um pé na frente do outro e usar a barra que carrego nas mãos para corrigir os desequilíbrios. Mas é muito difícil e perigoso”. O Brasil está assim: simples, difícil e perigoso.
Temos uma inflação que finalmente voltou ao intervalo previsto pelo governo. Isto desarma a principal armadilha que existia na economia: a inflação com recessão. O governo ganhou agora um grau de liberdade, o de usar politica monetária para estimular crescimento. Ou seja, baixar os juros. Com um desequilíbrio fiscal enorme (onde os encargos da dívida respondem por boa parte dos gastos), uma inflação controlada, um crescimento corrente do PIB pífio e uma cotação do dólar menos volátil me parece muito provável que os juros voltarão a cair rapidamente.
Com os juros caindo tudo ficará mais barato. Afinal, o preço de tudo que existe tende a ser igual ao que renderá de hoje até a eternidade, descontado (dividido) pelos juros do período. Quando dividimos por um valor menor, o resultado é sempre maior. Alguns dirão: “mas a queda de juros já esta contemplada pelo mercado e os preços já embutem esta expectativa”. Em parte estão corretos, e esta é uma parcela da explicação sobre a melhora de 2016 dos mercados.
O que não está contemplado é o fato de que existe um pedaço da melhora que só vem com… a melhora. Os juros que caem e aumentam a demanda dos títulos de renda fixa, que ao subirem de preço tornam mais barato para as empresas captarem, que ao captarem mais barato têm mais lucro, que ao terem mais lucro melhoram seu risco de crédito, que ao melhorarem seu risco de crédito captam mais barato… A bola de neve. O ciclo virtuoso. Ou na linguagem que os economistas adoram, a convexidade positiva.
O mercado deve melhorar em 2017. Existem muitos fatores de risco na mesa, claro. As reformas que devem tramitar no congresso, os desdobramentos da operação Lava-Jato, as novas relações externas de países chaves da economia global com o Brasil, entre tantas outras coisas. Mas a matemática continua sendo uma força motriz poderosíssima para o mercado, e em 2017 deve empurrá-lo para cima. Talvez não tão forte como 2016 quando o Ibovespa subiu quase 40%, mas muito provavelmente será outro bom ano para apostar favoravelmente. É pra comprar.