Estatísticas ou evidências anedotais?
Como formamos nosso juízo de valor sobre as coisas que nos cercam? Será que efetivamente fazemos análises sofisticadas e trabalhosas para decidir que lado tomar numa discussão ou polêmica? A maioria das pessoas talvez responda que sim, afinal não sairiam por ai julgando eventos e pessoas injustamente, sem antes ter elaborado sua opinião com todos […]
Da Redação
Publicado em 9 de fevereiro de 2017 às 11h43.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 17h58.
Como formamos nosso juízo de valor sobre as coisas que nos cercam? Será que efetivamente fazemos análises sofisticadas e trabalhosas para decidir que lado tomar numa discussão ou polêmica? A maioria das pessoas talvez responda que sim, afinal não sairiam por ai julgando eventos e pessoas injustamente, sem antes ter elaborado sua opinião com todos os dados disponíveis para faze-lo. A ciência e os experimentos, porém, nos mostram o contrário. A maioria de nossas opiniões, decisões e juízos de valor são elaborados de forma estereotipada num processo quase automático de influência fruto do que acontece ao nosso redor.
É por isso que um “esquerdista” ou “direitista” lêem exatamente a mesma notícia de duas maneiras completamente diferentes. E como vêem de maneira diferente, reagem de forma diferente. Filosoficamente é possível dizer que ambos estão corretos, mesmo dizendo coisas diametralmente opostas, afinal as informações que cada um absorveu (de maneira real e concreta) e sobre a qual reagiu foi distinta. É também este mecanismo automático que faz com que o conteúdo das discussões que testemunhamos importe muito pouco quando comparado à imagem ou simpatia que temos em relação as pessoas que estão discutindo. É esta última que responde pelo lado que tomamos na quase totalidade das vezes.
Um destes mecanismos em especial me chama a atenção. Pelo simples fato da força que tem em nossas opiniões e pela aparente irracionalidade que carrega. O poder das evidências anedotais em relação as estatísticas. Um caso real, próximo a nós, vale muito mais do que estudos abrangentes e sofisticados sobre qualquer assunto. Não deveria ser assim, mas é. E não é por pouco, é por muito!
Imagine-se querendo comprar um carro de um modelo específico. A revista mais conceituada sobre automóveis faz um extenso estudo com 5.000 proprietários deste modelo e chega a conclusão que ele é o melhor da categoria no quesito manutenção e durabilidade. Prestes a efetuar a compra, você encontra um velho amigo e confidencia o que vai fazer. Ele te conta que coincidentemente tem exatamente este modelo de automóvel e que na semana passada teve uma série de problemas seríssimos com peças e custo de manutenção. Qual a opinião você acha que terá mais peso?
A de uma única pessoa que lhe relatou um fato que pode ter sido exagerado pelo mau humor da manhã, influenciado por um problema pessoal com o atendente da oficina de automóveis, erroneamente narrado pelo desconhecimento de causa, e que você sequer viu pessoalmente, ou a de um estudo com milhares de exemplares feito de forma cientifica e – potencialmente – isenta? A resposta é: a opinião do seu amigo, por muito! Irracionalmente surpreendente, não?
O que vale para o exemplo fictício do automóvel vale para todo o resto. Ouvimos de um amigo que determinado artista foi grosso ao ser abordado para dar um autógrafo e não importa a história de simpatia e correção que ele tenha, entra logo para nossa lista negra. Lemos que um político estacionou em local proibido seu carro e seus três mandatos como ativista pelos direitos do cidadão vão por água a baixo. E por aí vai…
O problema é que este mecanismo não é novidade. Pelo menos não para alguns. E são estes, junto com uma mídia que tem por natureza um papel manipulador, que utilizam estes exemplos reais para fazer você pensar exatamente o que eles querem. Uma entrevista com o 1% das estatísticas no horário nobre da TV dão a ele peso maior do que os 99% que deveriam ser incontestáveis. E é assim que você compra seus produtos, vota em seus candidatos, briga com seus amigos, enquanto alguns poucos divertem-se e colhem os frutos de nossa conhecida e testada irracionalidade.
Como formamos nosso juízo de valor sobre as coisas que nos cercam? Será que efetivamente fazemos análises sofisticadas e trabalhosas para decidir que lado tomar numa discussão ou polêmica? A maioria das pessoas talvez responda que sim, afinal não sairiam por ai julgando eventos e pessoas injustamente, sem antes ter elaborado sua opinião com todos os dados disponíveis para faze-lo. A ciência e os experimentos, porém, nos mostram o contrário. A maioria de nossas opiniões, decisões e juízos de valor são elaborados de forma estereotipada num processo quase automático de influência fruto do que acontece ao nosso redor.
É por isso que um “esquerdista” ou “direitista” lêem exatamente a mesma notícia de duas maneiras completamente diferentes. E como vêem de maneira diferente, reagem de forma diferente. Filosoficamente é possível dizer que ambos estão corretos, mesmo dizendo coisas diametralmente opostas, afinal as informações que cada um absorveu (de maneira real e concreta) e sobre a qual reagiu foi distinta. É também este mecanismo automático que faz com que o conteúdo das discussões que testemunhamos importe muito pouco quando comparado à imagem ou simpatia que temos em relação as pessoas que estão discutindo. É esta última que responde pelo lado que tomamos na quase totalidade das vezes.
Um destes mecanismos em especial me chama a atenção. Pelo simples fato da força que tem em nossas opiniões e pela aparente irracionalidade que carrega. O poder das evidências anedotais em relação as estatísticas. Um caso real, próximo a nós, vale muito mais do que estudos abrangentes e sofisticados sobre qualquer assunto. Não deveria ser assim, mas é. E não é por pouco, é por muito!
Imagine-se querendo comprar um carro de um modelo específico. A revista mais conceituada sobre automóveis faz um extenso estudo com 5.000 proprietários deste modelo e chega a conclusão que ele é o melhor da categoria no quesito manutenção e durabilidade. Prestes a efetuar a compra, você encontra um velho amigo e confidencia o que vai fazer. Ele te conta que coincidentemente tem exatamente este modelo de automóvel e que na semana passada teve uma série de problemas seríssimos com peças e custo de manutenção. Qual a opinião você acha que terá mais peso?
A de uma única pessoa que lhe relatou um fato que pode ter sido exagerado pelo mau humor da manhã, influenciado por um problema pessoal com o atendente da oficina de automóveis, erroneamente narrado pelo desconhecimento de causa, e que você sequer viu pessoalmente, ou a de um estudo com milhares de exemplares feito de forma cientifica e – potencialmente – isenta? A resposta é: a opinião do seu amigo, por muito! Irracionalmente surpreendente, não?
O que vale para o exemplo fictício do automóvel vale para todo o resto. Ouvimos de um amigo que determinado artista foi grosso ao ser abordado para dar um autógrafo e não importa a história de simpatia e correção que ele tenha, entra logo para nossa lista negra. Lemos que um político estacionou em local proibido seu carro e seus três mandatos como ativista pelos direitos do cidadão vão por água a baixo. E por aí vai…
O problema é que este mecanismo não é novidade. Pelo menos não para alguns. E são estes, junto com uma mídia que tem por natureza um papel manipulador, que utilizam estes exemplos reais para fazer você pensar exatamente o que eles querem. Uma entrevista com o 1% das estatísticas no horário nobre da TV dão a ele peso maior do que os 99% que deveriam ser incontestáveis. E é assim que você compra seus produtos, vota em seus candidatos, briga com seus amigos, enquanto alguns poucos divertem-se e colhem os frutos de nossa conhecida e testada irracionalidade.