O projeto ambicioso da Gerando Falcões para criar a primeira Favela 3D
Os 14 milhões de brasileiros que moram em favelas podem virar parte da solução do problema da desigualdade
Da Redação
Publicado em 16 de setembro de 2021 às 16h13.
Última atualização em 16 de setembro de 2021 às 16h13.
Por: Edu Lyra e Paula Fabiani
O terceiro setor — representado por ONGs e empreendedores sociais — tem historicamente um papel fundamental na transformação sistêmica da vida da parcela mais pobre da população. Ele é ambicioso e inovador. Organizações não governamentais como a Gerando Falcões têm eficiência, velocidade e capacidade de execução porque penetram aonde o Estado não chega. No início da pandemia, por exemplo, o terceiro setor se fez presente na vida dos mais pobres semanas antes do governo. Enquanto o Estado tinha dificuldade para localizar os fantasmas brasileiros — quem não têm RG nem CPF —, as ONGs sabiam onde eles estavam e os chamavam pelo nome.
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Fundada em 2011 na Cidade Kemel, bairro periférico de Poá, na região metropolitana de São Paulo, a organização Gerando Falcões começou como uma iniciativa que oferecia atividades extracurriculares a crianças e adolescentes, além de cursos de qualificação profissional a jovens e adultos da região.
Dez anos depois, cresceu exponencialmente e se converteu numa aceleradora de desenvolvimento social, que apoia hoje mais de 100 líderes e organizações de favelas em 19 estados do Brasil.
UM PROJETO AMBICIOSO
O que ela quer, agora, é ainda maior, mas está longe de ser inviável: implementar a primeira Favela 3D — digna, digital e desenvolvida — do país. Trata-se de um projeto multissetorial, com participação do governo e da iniciativa privada, para dar autonomia social e financeira à Vila Itália, favela de São José do Rio Preto, no interior paulista. O Favela 3D vai atuar tanto no trabalho de base tradicional — construindo casas, regularizando o uso da área e melhorando a infraestrutura — quanto na criação de ferramentas sociais transformadoras, como programas de capacitação e empreendedorismo que deem soberania financeira aos moradores e tornem a comunidade autossustentável.
A ideia no médio e longo prazo é fazer da Vila Itália um projeto piloto que possa ser replicado Brasil afora. Os 14 milhões de brasileiros que vivem em favelas estão habituados a ser ignorados pelo poder público, vistos como problema ou ter seu potencial desperdiçado por falta de oportunidades. Com o Favela 3D, eles passam a ser parte da solução, agentes ativos da própria emancipação.
LÍDERES FAZEM A DIFERENÇA
O método para alcançar esse objetivo é o mesmo que consolidou a Gerando Falcões como uma das principais iniciativas sociais do país: localizar as lideranças capazes de gerar mudanças locais na quebrada, investir em treinamento e capacitação para a população e acompanhar os resultados com afinco, usando sistemas como o SROI (sigla em inglês para retorno social do investimento), que quantifica o impacto social em valores financeiros. Uma análise feita com apoio do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis) mostrou que, a cada 1 real investido nas iniciativas avaliadas, 3,50 reais são gerados na forma de benefício para a sociedade.
Foi identificado também que o investimento social da ONG “paga-se socialmente” (payback) já no segundo ano após o investimento, algo raro para a maioria dos ativos financeiros disponíveis no mercado. É o melhor dos dois mundos: propósito e inovação, uma combinação do conhecimento da favela com o conhecimento das empresas que estão mudando o mercado.
São avaliações de impacto como essas que dão à Gerando Falcões a segurança de estar no caminho certo, justificando assim perante seus apoiadores e sociedade civil a relevância de seu Programa de Aceleração. É assim que toda essa expertise é levada aos quatro cantos do país, revolucionando a maneira como encaramos o urbanismo e o desenvolvimento social nas periferias brasileiras.
INSTRUMENTO AOS MORADORES
Olhar para trás, para o que foi realizado, identificar o que deu certo, o que poderia ter sido diferente e de fato avaliar exige tempo e dedicação. Mas é assim que conseguimos evoluir e dar escala ao que fazemos. E é reorganizando a forma como o dinheiro circula na favela e dando instrumentos a seus moradores que o Brasil vai criar condições para quebrar o círculo vicioso da desigualdade, transformar os excluídos em cidadãos e fazer com que a miséria vire item de museu.
Por: Edu Lyra e Paula Fabiani
O terceiro setor — representado por ONGs e empreendedores sociais — tem historicamente um papel fundamental na transformação sistêmica da vida da parcela mais pobre da população. Ele é ambicioso e inovador. Organizações não governamentais como a Gerando Falcões têm eficiência, velocidade e capacidade de execução porque penetram aonde o Estado não chega. No início da pandemia, por exemplo, o terceiro setor se fez presente na vida dos mais pobres semanas antes do governo. Enquanto o Estado tinha dificuldade para localizar os fantasmas brasileiros — quem não têm RG nem CPF —, as ONGs sabiam onde eles estavam e os chamavam pelo nome.
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Fundada em 2011 na Cidade Kemel, bairro periférico de Poá, na região metropolitana de São Paulo, a organização Gerando Falcões começou como uma iniciativa que oferecia atividades extracurriculares a crianças e adolescentes, além de cursos de qualificação profissional a jovens e adultos da região.
Dez anos depois, cresceu exponencialmente e se converteu numa aceleradora de desenvolvimento social, que apoia hoje mais de 100 líderes e organizações de favelas em 19 estados do Brasil.
UM PROJETO AMBICIOSO
O que ela quer, agora, é ainda maior, mas está longe de ser inviável: implementar a primeira Favela 3D — digna, digital e desenvolvida — do país. Trata-se de um projeto multissetorial, com participação do governo e da iniciativa privada, para dar autonomia social e financeira à Vila Itália, favela de São José do Rio Preto, no interior paulista. O Favela 3D vai atuar tanto no trabalho de base tradicional — construindo casas, regularizando o uso da área e melhorando a infraestrutura — quanto na criação de ferramentas sociais transformadoras, como programas de capacitação e empreendedorismo que deem soberania financeira aos moradores e tornem a comunidade autossustentável.
A ideia no médio e longo prazo é fazer da Vila Itália um projeto piloto que possa ser replicado Brasil afora. Os 14 milhões de brasileiros que vivem em favelas estão habituados a ser ignorados pelo poder público, vistos como problema ou ter seu potencial desperdiçado por falta de oportunidades. Com o Favela 3D, eles passam a ser parte da solução, agentes ativos da própria emancipação.
LÍDERES FAZEM A DIFERENÇA
O método para alcançar esse objetivo é o mesmo que consolidou a Gerando Falcões como uma das principais iniciativas sociais do país: localizar as lideranças capazes de gerar mudanças locais na quebrada, investir em treinamento e capacitação para a população e acompanhar os resultados com afinco, usando sistemas como o SROI (sigla em inglês para retorno social do investimento), que quantifica o impacto social em valores financeiros. Uma análise feita com apoio do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis) mostrou que, a cada 1 real investido nas iniciativas avaliadas, 3,50 reais são gerados na forma de benefício para a sociedade.
Foi identificado também que o investimento social da ONG “paga-se socialmente” (payback) já no segundo ano após o investimento, algo raro para a maioria dos ativos financeiros disponíveis no mercado. É o melhor dos dois mundos: propósito e inovação, uma combinação do conhecimento da favela com o conhecimento das empresas que estão mudando o mercado.
São avaliações de impacto como essas que dão à Gerando Falcões a segurança de estar no caminho certo, justificando assim perante seus apoiadores e sociedade civil a relevância de seu Programa de Aceleração. É assim que toda essa expertise é levada aos quatro cantos do país, revolucionando a maneira como encaramos o urbanismo e o desenvolvimento social nas periferias brasileiras.
INSTRUMENTO AOS MORADORES
Olhar para trás, para o que foi realizado, identificar o que deu certo, o que poderia ter sido diferente e de fato avaliar exige tempo e dedicação. Mas é assim que conseguimos evoluir e dar escala ao que fazemos. E é reorganizando a forma como o dinheiro circula na favela e dando instrumentos a seus moradores que o Brasil vai criar condições para quebrar o círculo vicioso da desigualdade, transformar os excluídos em cidadãos e fazer com que a miséria vire item de museu.