O que esperar da próxima década?
Podemos ter a segurança que o futuro não será linear e que nem os fatores que hoje olhamos como vencedores o serão de fato amanhã
Carolina Riveira
Publicado em 26 de dezembro de 2019 às 11h14.
Última atualização em 26 de dezembro de 2019 às 11h17.
Chegar ao final de ano motiva vários artigos com balanços, previsões e outros exercícios semelhantes. E mais ainda quando terminamos uma década e iniciamos outra. Proponho contudo olhar para trás para um período em muitas coisas semelhante ao que vivemos. Para isso temos de recuar um pouco mais de um século, para a primeira década do século 20. Uma época de globalização. De grandes mudanças tecnológicas com o telégrafo, a eletricidade e o carro, entre outras, a produzirem grandes impactos na sociedade.
Um período também de intensa polarização política que precederia a era do mass politics que iria ocorrer nas décadas seguintes e que tantas tragédias iria originar. De um capitalismo que produzia pela primeira vez personagens à escala global como Carnegie, J.P. Morgan entre outros mas que sofria com a emergência da temática da desigualdade. Uma ordem internacional sendo posta em causa com ocaso de uma potência outrora hegemônica, o Reino Unido, e o surgimento de outras nações querendo ocupar um lugar de destaque no plano global dando lugar a um mundo multipolar.
Este olhar para o passado é útil para nos fazer recordar que muitos dos desafios e mudanças que achamos únicos quando os vivemos na verdade não o são. Como diria Mark Twain, “a história não se repete, mas rima”.
Algo também continua imutável neste século que nos separa é o fascínio pela tecnologia e pelo progresso. Os nossos antepassados do início do século 20 imaginavam um mundo dominado por máquinas. De alguma forma, o nosso, vai tornando elas cada vez mais secundárias ao ponto de apelidarmos hoje a informação como o “novo petróleo” e ser o conteúdo e não o hardware onde a maior parte do valor se concentra. E com leilão da 5G no próximo ano, inclusive no nosso país, ela vai começar a circular num pipeline de grande capacidade.
Começamos por isso a nova década sob signo de uma virtualização sem fim da realidade na ponta dos nossos dedos. Muito capital e investimento aposta nesse caminho. Mas tal como no passado, o nosso futuro pode se dirigir por caminhos que hoje não antevemos. As máquinas não dominaram o mundo. A internet não tornou por si o mundo mais informado, nem mesmo uma só aldeia global. O celular há 10 anos apenas enviava SMS e e-mail e o computador parecia que iria reinar sem concorrência como nexo fulcral das novas tecnologias. E no plano global e das nações temos muitos fatores que podem perturbar o que parece um inexorável render da guarda entre China e Estados Unidos.
Cresce também em muitos países uma nova forma de olhar a regulação da internet e o poder de mercado de muitos gigantes do setor. A reação de vários governos à criação da Libra, a criptomoeda do Facebook foi disso um exemplo. Por outro lado, uma das promessas do blockchain é fazer retornar a posse da informação das empresas para os usuários e esta por isso pode ser a década onde o preço da informação de cada um nós venha conhecer uma significativa inflação de custo alterando a base do modelo de negócio de muitas empresas.
Prefiro olhar para esta década que inicia como um jogo de forças opostas que se vão digladiar e que irão moldar o futuro. Globalização versus fragmentação da economia global, preservação versus uso de recursos dominado pelo tema das mudanças climáticas e experiência versus produto em todo o domínio das novas tecnologias apenas para citar alguns dos principais.
Podemos ter a segurança que o futuro não será linear e que nem os fatores que hoje olhamos como vencedores o serão de fato amanhã. Para quem lida com investimento, que é na essência a troca do presente pelo futuro, serão tempos exigentes. Que seja bem vinda, pois, a terceira década do século 21!
Chegar ao final de ano motiva vários artigos com balanços, previsões e outros exercícios semelhantes. E mais ainda quando terminamos uma década e iniciamos outra. Proponho contudo olhar para trás para um período em muitas coisas semelhante ao que vivemos. Para isso temos de recuar um pouco mais de um século, para a primeira década do século 20. Uma época de globalização. De grandes mudanças tecnológicas com o telégrafo, a eletricidade e o carro, entre outras, a produzirem grandes impactos na sociedade.
Um período também de intensa polarização política que precederia a era do mass politics que iria ocorrer nas décadas seguintes e que tantas tragédias iria originar. De um capitalismo que produzia pela primeira vez personagens à escala global como Carnegie, J.P. Morgan entre outros mas que sofria com a emergência da temática da desigualdade. Uma ordem internacional sendo posta em causa com ocaso de uma potência outrora hegemônica, o Reino Unido, e o surgimento de outras nações querendo ocupar um lugar de destaque no plano global dando lugar a um mundo multipolar.
Este olhar para o passado é útil para nos fazer recordar que muitos dos desafios e mudanças que achamos únicos quando os vivemos na verdade não o são. Como diria Mark Twain, “a história não se repete, mas rima”.
Algo também continua imutável neste século que nos separa é o fascínio pela tecnologia e pelo progresso. Os nossos antepassados do início do século 20 imaginavam um mundo dominado por máquinas. De alguma forma, o nosso, vai tornando elas cada vez mais secundárias ao ponto de apelidarmos hoje a informação como o “novo petróleo” e ser o conteúdo e não o hardware onde a maior parte do valor se concentra. E com leilão da 5G no próximo ano, inclusive no nosso país, ela vai começar a circular num pipeline de grande capacidade.
Começamos por isso a nova década sob signo de uma virtualização sem fim da realidade na ponta dos nossos dedos. Muito capital e investimento aposta nesse caminho. Mas tal como no passado, o nosso futuro pode se dirigir por caminhos que hoje não antevemos. As máquinas não dominaram o mundo. A internet não tornou por si o mundo mais informado, nem mesmo uma só aldeia global. O celular há 10 anos apenas enviava SMS e e-mail e o computador parecia que iria reinar sem concorrência como nexo fulcral das novas tecnologias. E no plano global e das nações temos muitos fatores que podem perturbar o que parece um inexorável render da guarda entre China e Estados Unidos.
Cresce também em muitos países uma nova forma de olhar a regulação da internet e o poder de mercado de muitos gigantes do setor. A reação de vários governos à criação da Libra, a criptomoeda do Facebook foi disso um exemplo. Por outro lado, uma das promessas do blockchain é fazer retornar a posse da informação das empresas para os usuários e esta por isso pode ser a década onde o preço da informação de cada um nós venha conhecer uma significativa inflação de custo alterando a base do modelo de negócio de muitas empresas.
Prefiro olhar para esta década que inicia como um jogo de forças opostas que se vão digladiar e que irão moldar o futuro. Globalização versus fragmentação da economia global, preservação versus uso de recursos dominado pelo tema das mudanças climáticas e experiência versus produto em todo o domínio das novas tecnologias apenas para citar alguns dos principais.
Podemos ter a segurança que o futuro não será linear e que nem os fatores que hoje olhamos como vencedores o serão de fato amanhã. Para quem lida com investimento, que é na essência a troca do presente pelo futuro, serão tempos exigentes. Que seja bem vinda, pois, a terceira década do século 21!