Hora de desatar o nó do baixo investimento
Estamos no meu entender na antecâmara de um novo ciclo que se bem gerido pode trazer grandes benefícios ao país
Janaína Ribeiro
Publicado em 8 de janeiro de 2020 às 20h17.
Última atualização em 8 de janeiro de 2020 às 20h29.
Para quem trabalha na indústria de investimento no Brasil, o futuro próximo promete grandes desafios. Geopolítica instável, consolidação de um quadro de juros baixos e pressão sobre comissões de gestão e administração só para citar alguns. Mas este quadro traz também oportunidades significativas podendo o nosso país não só reforçar o seu papel no fluxo de capital global como também endereçar umas das suas principais deficiências que é a baixa taxa de investimento. O ano 2020 pode ser um novo 2002 naquilo que representa um novo ciclo de crescimento e investimento sustentado.
Durante décadas, discutir a fundo geopolítica e política num ambiente de investimento era meio esotérico, mesmo com fundos globais. Óbvio que estes temas eram discutidos, mas mais a nível instrumental. Consequências incrementais sobre variáveis como juros, se tal Governo iria ser mais indisciplinado fiscalmente, etc. Hoje com o enfraquecimento do quadro institucional a nível global podemos ter eventos bem mais radicais nas suas consequências como conflitos militares de monta com resolução incerta. E os mercados têm muita dificuldade em precificar estes eventos.
Aprendemos quase todos na escola que a primeira guerra mundial era meio inevitável depois do assassinato do Arquiduque Francisco Fernando em Sarajevo no dia 28 de Junho de 1914. No entanto, durante todo o mês de Julho desse ano, as bolsas dos principais países se mostraram meio indiferentes à possibilidade de eclosão de um conflito de grande escala. O Brasil, pelo seu lado, tem a “sorte” de estar numa região de relativo baixo risco geopolítico ( um colapso ou guerra civil na Venezuela é talvez a exceção) mas isso não quer dizer obviamente que os efeitos não chegam até cá. A “vingança “ da geopolítica veio para ficar e vai ser tema para muitos anos. Para o Brasil, esta pode ser uma oportunidade de se posicionar de forma diferente no contexto dos fluxos de capitais globais.
Hoje, mais de 25 anos sobre o início do plano real, finalmente os seus efeitos chegam na plenitude ao mercado de investimentos. O mercado de produto há muito que se habituou à inflação controlada do pós-plano Real mas com exceção de um pequeno momento (não sustentável) no início da última década, só agora temos “juro normal” para ficar. Classes de ativos como fundos imobiliários, crédito privado e de infraestrutura vão estar no olho do investidor institucional. Nos investimentos de Private Equity vai ser possível também olhar para a alavancagem como uma forma de aumentar retornos, algo que nunca foi possível antes no país.
O grande desafio vai ser a “ressaca” de anos de baixo investimento. Vão faltar ativos reais para tanto capital pois demora tempo para que investimento se traduza na geração de ativos. Não é “virar a chave”. Inflação, pois, no valor de ativos reais pode ser um risco de curto prazo e daí que seja tão importante aumentar a oferta no mercado. Infraestrutura é um setor óbvio até porque o país em grande medida gira numa infraestrutura dos anos 70 do século passado, mas olhar de forma profunda para o patrimônio federal, estadual e municipal por exemplo a nível imobiliário deverá ser também uma prioridade. Estamos, na verdade, habituados a olhar só para a DR do Estado (déficit, superávit, receita e despesa) e muito pouco para o seu Balanço (o fenômeno nem é exclusivamente brasileiro para ser honesto) sem falar que falta a muitos políticos nos diferentes níveis da Federação os instrumentos para conhecer a verdadeira extensão dos ativos que gerem.
Para a indústria de gestão de ativos parecem ser só boas notícias dada a abundância de capital aguardando alocação. Mas existe também uma tendência vinda de fora para uma redução de comissões e taxas conjugada e se retroalimentando com a disseminação de fundos passivos e ETFs. No ano passado, quase todas as semanas era anunciada uma nova gestora em linha com a grande fragmentação do setor. A pressão na redução de taxas e comissões vai colocar agora em primeiro plano a questão de escala e consolidação entre gestoras.
Estamos no meu entender na antecâmara de um novo ciclo que se bem gerido pode trazer grandes benefícios ao país, nomeadamente resolvendo esse nó górdio que nos acompanha há anos que é a baixa taxa de investimento do país. Que a geopolítica agora não atrapalhe.
Para quem trabalha na indústria de investimento no Brasil, o futuro próximo promete grandes desafios. Geopolítica instável, consolidação de um quadro de juros baixos e pressão sobre comissões de gestão e administração só para citar alguns. Mas este quadro traz também oportunidades significativas podendo o nosso país não só reforçar o seu papel no fluxo de capital global como também endereçar umas das suas principais deficiências que é a baixa taxa de investimento. O ano 2020 pode ser um novo 2002 naquilo que representa um novo ciclo de crescimento e investimento sustentado.
Durante décadas, discutir a fundo geopolítica e política num ambiente de investimento era meio esotérico, mesmo com fundos globais. Óbvio que estes temas eram discutidos, mas mais a nível instrumental. Consequências incrementais sobre variáveis como juros, se tal Governo iria ser mais indisciplinado fiscalmente, etc. Hoje com o enfraquecimento do quadro institucional a nível global podemos ter eventos bem mais radicais nas suas consequências como conflitos militares de monta com resolução incerta. E os mercados têm muita dificuldade em precificar estes eventos.
Aprendemos quase todos na escola que a primeira guerra mundial era meio inevitável depois do assassinato do Arquiduque Francisco Fernando em Sarajevo no dia 28 de Junho de 1914. No entanto, durante todo o mês de Julho desse ano, as bolsas dos principais países se mostraram meio indiferentes à possibilidade de eclosão de um conflito de grande escala. O Brasil, pelo seu lado, tem a “sorte” de estar numa região de relativo baixo risco geopolítico ( um colapso ou guerra civil na Venezuela é talvez a exceção) mas isso não quer dizer obviamente que os efeitos não chegam até cá. A “vingança “ da geopolítica veio para ficar e vai ser tema para muitos anos. Para o Brasil, esta pode ser uma oportunidade de se posicionar de forma diferente no contexto dos fluxos de capitais globais.
Hoje, mais de 25 anos sobre o início do plano real, finalmente os seus efeitos chegam na plenitude ao mercado de investimentos. O mercado de produto há muito que se habituou à inflação controlada do pós-plano Real mas com exceção de um pequeno momento (não sustentável) no início da última década, só agora temos “juro normal” para ficar. Classes de ativos como fundos imobiliários, crédito privado e de infraestrutura vão estar no olho do investidor institucional. Nos investimentos de Private Equity vai ser possível também olhar para a alavancagem como uma forma de aumentar retornos, algo que nunca foi possível antes no país.
O grande desafio vai ser a “ressaca” de anos de baixo investimento. Vão faltar ativos reais para tanto capital pois demora tempo para que investimento se traduza na geração de ativos. Não é “virar a chave”. Inflação, pois, no valor de ativos reais pode ser um risco de curto prazo e daí que seja tão importante aumentar a oferta no mercado. Infraestrutura é um setor óbvio até porque o país em grande medida gira numa infraestrutura dos anos 70 do século passado, mas olhar de forma profunda para o patrimônio federal, estadual e municipal por exemplo a nível imobiliário deverá ser também uma prioridade. Estamos, na verdade, habituados a olhar só para a DR do Estado (déficit, superávit, receita e despesa) e muito pouco para o seu Balanço (o fenômeno nem é exclusivamente brasileiro para ser honesto) sem falar que falta a muitos políticos nos diferentes níveis da Federação os instrumentos para conhecer a verdadeira extensão dos ativos que gerem.
Para a indústria de gestão de ativos parecem ser só boas notícias dada a abundância de capital aguardando alocação. Mas existe também uma tendência vinda de fora para uma redução de comissões e taxas conjugada e se retroalimentando com a disseminação de fundos passivos e ETFs. No ano passado, quase todas as semanas era anunciada uma nova gestora em linha com a grande fragmentação do setor. A pressão na redução de taxas e comissões vai colocar agora em primeiro plano a questão de escala e consolidação entre gestoras.
Estamos no meu entender na antecâmara de um novo ciclo que se bem gerido pode trazer grandes benefícios ao país, nomeadamente resolvendo esse nó górdio que nos acompanha há anos que é a baixa taxa de investimento do país. Que a geopolítica agora não atrapalhe.