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É hora de o Brasil criar um visto tech para atrair talentos

O Brasil nunca conseguirá competir com a China na produção de engenheiros, mas pode vender o sonho empreendedor na Europa e nos Estados Unidos

Rio de Janeiro: Se existe o “american dream”, o Brasil contrapõe o “samba dream" (Diego Grandi/Getty Images)
DM

Diogo Max

Publicado em 11 de dezembro de 2019 às 12h34.

Última atualização em 11 de dezembro de 2019 às 13h30.

Olhar o Brasil das startups é olhar um Brasil que funciona. Com o anúncio esta semana de mais um unicórnio, o país se aproxima do top 5 do mundo dos países que mais produziram startups que superaram 1 bilhão de dólares de valor. Este Brasil que performa a nível global não se esgota no mundo das startups. Também o agronegócio bateu recordes de produção este ano muito em resultado da profissionalização do setor e da adoção por muitos produtores de tecnologia de ponta. Mas esta realidade de sucesso esconde uma outra que limita e de que maneira o sucesso destes setores. No caso do agronegócio a falta de infraestrutura adequada que impõe um custo logístico desproporcional à competitividade do país. No caso das startups, o maior entrave é capital humano.

Não que o Brasil não possua talento. Pelo contrário. O desenvolvimento de todo o setor de startups/tech é prova do potencial empreendedor do país. Apenas não o tem em volume suficiente. Nas profissões técnicas como programação o déficit é gigante. As universidades produzem relativamente poucos engenheiros por ano face às demandas do mercado, com a agravante que metade dos candidatos das melhores faculdades acabam sendo recrutados para o estrangeiro.

Estamos a caminho de um déficit de várias centenas de milhares nos próximos anos como tem sido aliás amplamente divulgado na mídia. Falar com fundos e empresas de tecnologia apenas confirma este diagnóstico. O maior gargalo é recrutamento é a opinião unânime . E mesmo que o Brasil resolvesse hoje todos os seus problemas de educação, quer em quantidade quer em qualidade, teríamos de esperar por volta de dez anos para que as soluções chegassem ao mercado de trabalho. Com isso, o país perde riqueza e emprego de forma permanente.

O que fazer então? Felizmente o Brasil tem como o seu principal ativo uma capacidade única de acolher pessoas de todo o mundo. Se existe o “american dream”, o Brasil contrapõe o “samba dream”. Não existe “melting pot” mais perfeito no planeta que o brasileiro. E num mundo onde o talento é global esta é uma vantagem competitiva do país que hoje não está sendo explorada e que é ímpar no mundo. Como outros países, urge no Brasil a criação de um visto tech que proporcione a profissionais de computação e programação de todo o mundo um mecanismo fácil e rápido para poder trabalhar no país por um período determinado de tempo.

As externalidades positivas seriam inúmeras. Criação de empregos qualificados no país impedindo que no futuro empresas brasileiras sejam obrigadas a criar centros de desenvolvimento fora do Brasil, oportunidades de aprendizagem para profissionais brasileiros e turismo de negócios (afinal cada um destes profissionais tem família e amigos) apenas para citar algumas. Igualmente teríamos o aumento na criação de empresas de alto valor no país pois muitos destes profissionais acabariam por fazer a transição para serem eles próprios fundadores de empresas. A quantidade de startups iniciadas por empreendedores que não nasceram no Brasil dá para fazer uma lista longa. Nubank, Rappi, Loggi, Amaro e Loft são apenas alguns exemplos deste fenômeno . Por último, o país estaria acolhendo profissionais qualificados pelos quais não precisou de investir na sua formação.

O Brasil nunca conseguirá competir com a China na produção de engenheiros. Contudo, o maior desafio para o ecossistema de tecnologia chinesa é a sua incapacidade de acolher talento estrangeiro. Esta é uma barreira cultural que não tem muitas perspectivas de ser resolvida. Ela é estrutural. E aqui o Brasil ganha largamente do gigante asiático. Vender o sonho empreendedor Brasileiro em mercados como a Europa e Estados Unidos não é difícil face ao número de unicórnios que o país tem produzido nos últimos anos.

Em termos de política pública, a criação de um visto tech também não é complexo e pode ser facilmente posta em prática. Ao contrário de outros setores, esta é uma política pública que não consome recursos financeiros nem precisa de investimento. Pelo contrário, ela gera riqueza no curto prazo e conecta o país de forma decisiva na transformação tecnológica que acontece no mundo. Vamos fazer acontecer?

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Olhar o Brasil das startups é olhar um Brasil que funciona. Com o anúncio esta semana de mais um unicórnio, o país se aproxima do top 5 do mundo dos países que mais produziram startups que superaram 1 bilhão de dólares de valor. Este Brasil que performa a nível global não se esgota no mundo das startups. Também o agronegócio bateu recordes de produção este ano muito em resultado da profissionalização do setor e da adoção por muitos produtores de tecnologia de ponta. Mas esta realidade de sucesso esconde uma outra que limita e de que maneira o sucesso destes setores. No caso do agronegócio a falta de infraestrutura adequada que impõe um custo logístico desproporcional à competitividade do país. No caso das startups, o maior entrave é capital humano.

Não que o Brasil não possua talento. Pelo contrário. O desenvolvimento de todo o setor de startups/tech é prova do potencial empreendedor do país. Apenas não o tem em volume suficiente. Nas profissões técnicas como programação o déficit é gigante. As universidades produzem relativamente poucos engenheiros por ano face às demandas do mercado, com a agravante que metade dos candidatos das melhores faculdades acabam sendo recrutados para o estrangeiro.

Estamos a caminho de um déficit de várias centenas de milhares nos próximos anos como tem sido aliás amplamente divulgado na mídia. Falar com fundos e empresas de tecnologia apenas confirma este diagnóstico. O maior gargalo é recrutamento é a opinião unânime . E mesmo que o Brasil resolvesse hoje todos os seus problemas de educação, quer em quantidade quer em qualidade, teríamos de esperar por volta de dez anos para que as soluções chegassem ao mercado de trabalho. Com isso, o país perde riqueza e emprego de forma permanente.

O que fazer então? Felizmente o Brasil tem como o seu principal ativo uma capacidade única de acolher pessoas de todo o mundo. Se existe o “american dream”, o Brasil contrapõe o “samba dream”. Não existe “melting pot” mais perfeito no planeta que o brasileiro. E num mundo onde o talento é global esta é uma vantagem competitiva do país que hoje não está sendo explorada e que é ímpar no mundo. Como outros países, urge no Brasil a criação de um visto tech que proporcione a profissionais de computação e programação de todo o mundo um mecanismo fácil e rápido para poder trabalhar no país por um período determinado de tempo.

As externalidades positivas seriam inúmeras. Criação de empregos qualificados no país impedindo que no futuro empresas brasileiras sejam obrigadas a criar centros de desenvolvimento fora do Brasil, oportunidades de aprendizagem para profissionais brasileiros e turismo de negócios (afinal cada um destes profissionais tem família e amigos) apenas para citar algumas. Igualmente teríamos o aumento na criação de empresas de alto valor no país pois muitos destes profissionais acabariam por fazer a transição para serem eles próprios fundadores de empresas. A quantidade de startups iniciadas por empreendedores que não nasceram no Brasil dá para fazer uma lista longa. Nubank, Rappi, Loggi, Amaro e Loft são apenas alguns exemplos deste fenômeno . Por último, o país estaria acolhendo profissionais qualificados pelos quais não precisou de investir na sua formação.

O Brasil nunca conseguirá competir com a China na produção de engenheiros. Contudo, o maior desafio para o ecossistema de tecnologia chinesa é a sua incapacidade de acolher talento estrangeiro. Esta é uma barreira cultural que não tem muitas perspectivas de ser resolvida. Ela é estrutural. E aqui o Brasil ganha largamente do gigante asiático. Vender o sonho empreendedor Brasileiro em mercados como a Europa e Estados Unidos não é difícil face ao número de unicórnios que o país tem produzido nos últimos anos.

Em termos de política pública, a criação de um visto tech também não é complexo e pode ser facilmente posta em prática. Ao contrário de outros setores, esta é uma política pública que não consome recursos financeiros nem precisa de investimento. Pelo contrário, ela gera riqueza no curto prazo e conecta o país de forma decisiva na transformação tecnológica que acontece no mundo. Vamos fazer acontecer?

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