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Os limites da paciência

Em meio aos números dramáticos da pandemia da covid-19, devemos reconhecer muito bem quando o silêncio se torna cumplicidade

(Krit of Studio OMG/Getty Images)
MF

Marina Filippe

Publicado em 13 de abril de 2021 às 10h30.

“Existe, no entanto, um limite no qual a tolerância deixa de ser uma virtude” (Edmund Burke)

 

Quaisquer que sejam os limiares - sociais, humanitários, econômicos ou epidemiológicos, o fato é: já passamos do ponto em que a paciência com discursos negacionistas, negligência, incompetência e anti-liderança seja justificável. Não nos faltam números dramáticos em qualquer uma das ciências – exatas, humanas, ou biológicas - para indicar que a paciência deixou de ser uma virtude.

Será que todos nós já ultrapassamos esse limite da paciência? Terá sido quando o Brasil se tornou novamente o epicentro mundial da covid-19 , com pouco menos de 3% da população mundial e 33% das mortes diárias no planeta? Ou quando a média móvel de mortes diárias por milhão de habitantes superou o patamar de 4.000, como vimos na última semana? Qual foi o divisor de águas: o número de casos, as taxas de óbito, as imagens dramáticas do colapso das UTI’s, a exaustão dos profissionais da saúde ou o surgimento de novas cepas?

Quando o ímpeto corajoso de falar a verdade ao poder é tolhido com a perseguição explícita, a ameaça vã do autoritarismo ou o recurso ardiloso às notícias falsas, “as pedras” falam. É a voz dos ativistas, amparada pelas autoridades científicas, pelas lideranças empresariais e sociais, com lastro no empirismo e na legitimidade dos fatos.

Quando os principais economistas, empresários, ex-autoridades públicas e líderes de pensamento elaboraram uma carta aberta aos brasileiros expondo o falso dilema entre salvar vidas ou manter a economia circulando, desenvolve-se um arrazoado irrefutável e propositivo, indicando caminhos de menor custo e alto impacto para a contenção da crise. É a voz da razão, emprestando lógica cristalina e senso de urgência à ação.

Alguns dias depois, representantes de diversos setores da sociedade civil organizada e participantes do Observatório de Direitos Humanos do Conselho Nacional de Justiça elaboraram uma carta proposta pela cantora e ativista Daniela Mercury apontando as falhas na resposta do Governo Federal à crise e demandando soluções para a vacinação em massa, o acesso à saúde mental e emocional e o apoio à livre manifestação da sociedade civil.

É a voz do ativismo, definido como o exercício consciente da responsabilidade moral que busca dar consequência às esperanças.

O limite a partir do qual a tolerância deixa de ser uma virtude é o momento de passarmos da observação atenta à ação. Do pensamento crítico à denúncia. Da desolação aos arranjos criativos na contenção de um desastre anunciado. Se você acredita que ainda há um espaço ou um tempo para a alienação, pense de novo.

Se a covid-19 adormece o paladar e o olfato, deveria despertar a capacidade de nos espantarmos e de falarmos sobre este espanto. A moléstia que nos sufoca deveria oxigenar, mais do que nunca, a nossa indignação coletiva traduzida em soluções comunitárias. Não podemos confundir tolerância com complacência e devemos reconhecer muito bem quando o silêncio se torna cumplicidade. Quebrar o silêncio torna-se um exercício necessário para que a esperança, mais do que um conceito, torne-se uma prática.

“Existe, no entanto, um limite no qual a tolerância deixa de ser uma virtude” (Edmund Burke)

 

Quaisquer que sejam os limiares - sociais, humanitários, econômicos ou epidemiológicos, o fato é: já passamos do ponto em que a paciência com discursos negacionistas, negligência, incompetência e anti-liderança seja justificável. Não nos faltam números dramáticos em qualquer uma das ciências – exatas, humanas, ou biológicas - para indicar que a paciência deixou de ser uma virtude.

Será que todos nós já ultrapassamos esse limite da paciência? Terá sido quando o Brasil se tornou novamente o epicentro mundial da covid-19 , com pouco menos de 3% da população mundial e 33% das mortes diárias no planeta? Ou quando a média móvel de mortes diárias por milhão de habitantes superou o patamar de 4.000, como vimos na última semana? Qual foi o divisor de águas: o número de casos, as taxas de óbito, as imagens dramáticas do colapso das UTI’s, a exaustão dos profissionais da saúde ou o surgimento de novas cepas?

Quando o ímpeto corajoso de falar a verdade ao poder é tolhido com a perseguição explícita, a ameaça vã do autoritarismo ou o recurso ardiloso às notícias falsas, “as pedras” falam. É a voz dos ativistas, amparada pelas autoridades científicas, pelas lideranças empresariais e sociais, com lastro no empirismo e na legitimidade dos fatos.

Quando os principais economistas, empresários, ex-autoridades públicas e líderes de pensamento elaboraram uma carta aberta aos brasileiros expondo o falso dilema entre salvar vidas ou manter a economia circulando, desenvolve-se um arrazoado irrefutável e propositivo, indicando caminhos de menor custo e alto impacto para a contenção da crise. É a voz da razão, emprestando lógica cristalina e senso de urgência à ação.

Alguns dias depois, representantes de diversos setores da sociedade civil organizada e participantes do Observatório de Direitos Humanos do Conselho Nacional de Justiça elaboraram uma carta proposta pela cantora e ativista Daniela Mercury apontando as falhas na resposta do Governo Federal à crise e demandando soluções para a vacinação em massa, o acesso à saúde mental e emocional e o apoio à livre manifestação da sociedade civil.

É a voz do ativismo, definido como o exercício consciente da responsabilidade moral que busca dar consequência às esperanças.

O limite a partir do qual a tolerância deixa de ser uma virtude é o momento de passarmos da observação atenta à ação. Do pensamento crítico à denúncia. Da desolação aos arranjos criativos na contenção de um desastre anunciado. Se você acredita que ainda há um espaço ou um tempo para a alienação, pense de novo.

Se a covid-19 adormece o paladar e o olfato, deveria despertar a capacidade de nos espantarmos e de falarmos sobre este espanto. A moléstia que nos sufoca deveria oxigenar, mais do que nunca, a nossa indignação coletiva traduzida em soluções comunitárias. Não podemos confundir tolerância com complacência e devemos reconhecer muito bem quando o silêncio se torna cumplicidade. Quebrar o silêncio torna-se um exercício necessário para que a esperança, mais do que um conceito, torne-se uma prática.

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