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Como a inclusão digital pode impactar os brasileiros, por Cris Junqueira

Já vínhamos falando sobre a importância da inclusão digital há vários anos. Mas a chegada da pandemia acelerou ainda mais a discussão

Em um país desigual como o nosso, a tecnologia ainda não chegou em todos os lugares e muitos não estão preparados para lidar com ela (d3sign/Getty Images)
Em um país desigual como o nosso, a tecnologia ainda não chegou em todos os lugares e muitos não estão preparados para lidar com ela (d3sign/Getty Images)
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Cristina Junqueira

Publicado em 9 de setembro de 2021 às, 08h00.

Última atualização em 9 de setembro de 2021 às, 15h09.

A expressão “inclusão digital” já é conhecida há muito tempo. Mas, no último ano e meio, a importância de estarmos digitalmente conectados aumentou. O comércio fechado e o risco de ser infectado por um vírus até então desconhecido fez com que muitos compromissos se tornassem virtuais — e quem não tinha acesso ou não sabia mexer nas redes, teve dificuldades em aproveitar as vantagens da tecnologia.

Nesta coluna quinzenal, Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, aborda a importância da inclusão digital e as consequências da falta dela, especialmente durante a Covid-19.

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Inclusão digital na pandemia

Já vínhamos falando sobre a importância da inclusão digital há vários anos. Mas a chegada da pandemia acelerou ainda mais a discussão, já que o período obrigou muita gente a aderir à tecnologia para resolver os problemas do dia a dia.

Foi nesse momento que as consequências da exclusão digital vieram ainda mais  à tona. Quem não tinha acesso à conectividade, ao equipamento adequado ou mesmo quem não era familiarizado ao mundo digital, não pôde aproveitar as facilidades que a tecnologia proporciona. Essa falta de acesso significou mais exposição ao vírus nos últimos 18 meses, porque as pessoas precisaram sair de casa em situações que poderiam ter sido resolvidas de forma online, cumprindo o distanciamento social. Sem contar na grave questão do ensino à distância. Milhões de crianças e adolescentes não puderam acompanhar as aulas com efeitos profundos no ciclo de aprendizagem.

Desde trabalho e estudos a consultas médicas e compras, a internet facilitou o cotidiano de quem tinha acesso durante a pandemia. Mas, em um país desigual como o nosso, a tecnologia ainda não chegou em todos os lugares e muitos não estão preparados para lidar com ela. Com isso, parte da população não teve o privilégio de poder resolver problemas do dia a dia virtualmente.

Já vemos muitas iniciativas, tanto do setor público quanto do setor privado, para aumentar a conectividade, como a oferta gratuita de Wi-Fi em pontos públicos e a melhora na acessibilidade e na disponibilidade de aplicativos. No entanto, ainda precisamos considerar que muitos brasileiros não possuem, além do acesso, o conhecimento para aproveitar as ferramentas disponíveis. Por isso, o caminho para alcançarmos a inclusão digital universal, ou seja, 100% da população com acesso à internet, é longo e exige muita intencionalidade, além de investimentos altos.

Cenário brasileiro

Uma pesquisa da The Economist e do Facebook feita neste ano mostra que o Brasil ocupa a 36ª posição no ranking global de inclusão digital. A lista avalia o acesso de um país à internet considerando disponibilidade, preços, relevância e capacidade de uso das pessoas — o que eles chamam de alfabetização digital. O alarmante é que o que mais prejudica o avanço da inclusão digital no Brasil é justamente a questão da alfabetização, que mede o nível de educação e preparação para usar a Internet, aceitação cultural e políticas de apoio. Neste quesito, o país ocupa a 69ª posição.

Os números são ainda piores quando há um recorte etário. Muitos idosos ainda são, comprovadamente, excluídos digitalmente no país. De acordo com um levantamento de 2020 realizado pelo Sesc São Paulo e pela Fundação Perseu Abramo, apenas 19% da população acima de 60 anos usa a internet no dia a dia, enquanto 72% nunca utilizou um aplicativo.

Setor bancário

A pandemia acelerou a tendência de digitalização em diversos setores, mas um dos processos mais visíveis foi o do setor bancário. Mesmo antes da pandemia, já evitávamos ir às agências, perder tempo em filas e com burocracias. A quarentena, com o risco de infecção, acelerou ainda mais a digitalização do setor.

Quando falamos sobre acesso ao setor bancário, por exemplo, até pouco tempo, para abrir contas em bancos, as pessoas precisavam ir fisicamente às agências, esperar para serem atendidas, preencher vários formulários e passar por mais tantas outras burocracias.

Além disso, quem morava em municípios que não possuíam agências bancárias, precisava se deslocar para cidades vizinhas para terem acesso a serviços financeiros. No entanto, agora, os clientes só precisam estar conectados à internet. O próprio Nubank, por exemplo, já está em todos os mais de 5.500 municípios brasileiros.

Perfil do público digitalizado

Ultimamente, também temos quebrado estereótipos sobre quem são as pessoas que adotam serviços digitais. Entre abril e junho de 2020, vimos o número de clientes com mais de 60 anos no Nubank aumentar mais de 50% em comparação ao mesmo período de 2019. Hoje, mais de 2 milhões de brasileiros com mais de 55 anos já são nossos clientes.

A jornada tem sido positiva, mas ainda temos um longo caminho pela frente. Para construir um futuro melhor, precisamos falar sobre inclusão social e acelerar a agenda de inclusão digital, não só com mais infraestrutura, mas também com capacitação.

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